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Notícias da Imprensa Nacional
“O Patriota” completa dois séculos de criação em janeiro de 2013
2 de janeiro de 2013
Em janeiro deste ano completam-se os 200 anos de criação do periódico “O Patriota — Jornal Litterario, Político, Mercantil, & C.”, publicado pela Impressão Régia, hoje Imprensa Nacional.
De seus prelos saiu o primeiro jornal brasileiro a publicar, ao mesmo tempo, artigos literários, científicos, políticos e mercantis. Saíram das rudimentares impressoras 18 números, circulação que se estendeu de janeiro de 1813 até dezembro de 1814.
Para se ter uma ideia da importância de “O Patriota”, basta dizer que ele representou o aparecimento do que hoje chamaríamos do primeiro periódico pautado exclusivamente na difusão do conhecimento científico no Brasil. Trouxe notável contribuição iconográfica (gravuras, quadros e tabelas) e abordou, em artigos densos e analíticos, temas sobre botânica, zoologia, filosofia, cartografia, viagens, literatura, história, medicina, matemática, química, topografia, hidráulica e navegação. Foi o primeiro jornal no Brasil a apresentar ilustrações.
Testemunhos
Nélson Werneck Sodré e, sobretudo, Carlos Rizzini, dois dos maiores historiadores da imprensa brasileira reconheceram a importância de “O Patriota”. Rizzini classificou a publicação como a melhor do gênero não só da Colônia, mas também do Reino e da Regência.
Pode-se afirmar, por outro lado, que “O Patriota” foi arejado pelos ventos do Iluminismo do século XVIII, mas com uma conformação intelectual marcada pelo liberalismo pós-Revolução Francesa. Esse contexto, como se sabe, não existia no Brasil. Mas os jornalistas, colaboradores e editor do periódico tinham já consciência da conjuntura em transição, da crise.
Esses intelectuais eram, basicamente, integrantes do círculo do mecenato de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, conde de Linhares, considerado o grande cérebro do período colonial e que faleceu um ano antes da publicação de “O Patriota”. Coube a ele redigir o decreto de criação da Impressão Régia.
Notáveis colaboradores
O editor do jornal era o baiano Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1777-1838), primeiro jornalista profissional do Brasil e um dos eminentes integrantes de uma plêiade de letrados luso-brasileiros. Dela, constavam ainda o filósofo Silvestre Pinheiro Ferreira e nomes da geração que influenciaria, uma década depois, a independência do Brasil: José Bonifácio de Andrada e Silva, Domingos Borges de Barros (futuro visconde de Pedra Branca; Mariano Pereira da Fonseca (futuro marquês de Maricá) – tesoureiro da Impressão Régia e da Fábrica de Pólvora no período de 1808 a 1821—, Manuel Inácio da Silva Alvarenga, José Bernardes de Castro, Camilo Martins Lage, Francisco de Borja Garção Stockler (barão de Vila da Praia) , Pedro Francisco Xavier de Brito, José da Silva Lisboa (o futuro visconde de Cairu) e seu filho Bento da Silva Lisboa, José Saturnino da Costa Pereira, irmão de Hipólito José da Costa, o patriarca do jornalismo brasileiro.
Em “O Patriota”, o marquês de Maricá começou, em 1813, a publicar “Máximas, Pensamentos e Reflexões, sob o pseudônimo “Um Brasileiro”. A obra possui 4.188 aforismos.
E mais Antônio Araújo de Azevedo, conde da Barca, tão importante para a Imprensa Nacional e para o Brasil, por ser o responsável pela chegada às nossas terras da primeira tipografia, que originou a Impressão Régia. No prospecto de lançamento do jornal, o editor Araújo Guimarães — redator da “Gazeta do Rio de Janeiro e fundador de “Espelho” — convoca os “sábios de nosso paiz” a publicar e a consolidar um espaço público das letras e das ciências. A Impressão Régia imprimiu esse texto, hoje disponível no acervo da Fundação Biblioteca Nacional.
O jornal era bem diferente em relação aos que folheamos todo dia. Fisicamente, tinha característica de revista. Circulava com uma média de 110 a 130 páginas por edição. De periodicidade inicialmente mensal, depois passou a bimensal. Era financiado por 163 assinantes. A pedido da Casa de Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional digitalizou todas as 18 edições de “O Patriota”.
“O Patriota” teve um papel precursor na difusão das luzes no império luso-brasileiro. Para a estudiosa da publicação Roberta Felix da Silva, significou “uma das manifestações iniciais para a consolidação de uma esfera intelectual, que já estruturada mais tarde, abrigaria as discussões sobre 1822”. Conforme a pesquisadora Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira diz, no livro “Iluminismo e Império no Brasil – O Patriota (1813 – 1814)” o jornal representou “um momento muito importante na imprensa brasileira, pois lançou raízes como periódico de grande credibilidade, tornando-se um modelo e uma inspiração”.