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Segunda escuta técnica do GTI de Comunicação Antirracista promove debate sobre Comunicação Institucional, Governamental e Pública
Foto: Larissa Lins/MIR
A segunda etapa de escuta técnica com especialistas do Grupo de Trabalho Interministerial de Comunicação Antirracista, foi realizada na última quinta-feira (14), reunindo especialistas do eixo de Comunicação Institucional e Governamental e Comunicação Pública.
Na ocasião, quatro especialistas referências em pesquisa e ensino da comunicação no Brasil, fizeram suas contribuições com subsídios técnicos para a elaboração de diretrizes e políticas públicas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial na comunicação dos órgãos e das entidades da administração pública federal.
Logo no início, a professora doutora dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Rádio, TV e Internet da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Veloso, registrou em sua apresentação, um ato de respeito à luta por justiça e memória dos seis anos do crime cometido contra Marielle Franco e Anderson Torres.
Em um trabalho pioneiro realizado no âmbito da comunicação antirracista dentro do departamento de comunicação da UFPE, Ana Veloso ponderou sobre a criação de um fundo público para apoio e financiamento das mídias livres, independentes, comunitárias, periféricas e negras brasileiras e destacou a importância da inclusão e permanência de pessoas negras nos espaços decisórios de poder. “Para nós, é uma prioridade a presença de pessoas negras nas universidades incluindo reitoria e docência. É necessário enegrecer a mídia pública também, não somente na produção, mas também na direção”, pontua.
Mediando os conteúdos, Raíssa Gomes, Secretária Executiva do GTI, concordou e pontuou sobre a necessidade urgente de implementação das políticas públicas de inclusão de pessoas negras em cargos de liderança. “Essa é uma das nossas linhas de trabalho da nossa consulta pública, que vem muito em consonância com as mais de 400 contribuições que recebemos da sociedade civil relacionadas ao tema”, destaca.
Cecília Sousa, gerente de projeto e analista de políticas sociais da Secretaria de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, expôs a importância da criação de uma política nacional de comunicação para enfrentamento ao racismo e democratização da mídia, a partir de um observatório nacional para desenvolvimento de estudos sobre mídias e racismo. A ideia seria a construção e o fortalecimento de um sistema de comunicação que prospere e se beneficie do conteúdo organizado nas 21 propostas prioritárias de articulação “Enegrecer a Confecom”, realizada em 2009, no contexto pós Conferência Nacional de Comunicação. “Acredito que será muito importante olhar para as propostas escolhidas. Esse debate segue muito atual”, comenta.
Já a jornalista e professora da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rosane Borges provocou uma reflexão de que, para o combate às práticas e ações antidemocráticas, é necessária uma articulação da comunicação pública e governamental junto com a sociedade civil. Falou ainda de como a comunicação no Brasil é extremamente ditada pelo racismo algorítmico - estratégia empregada nas tecnologias, construções sociais, conteúdos, conceitos e significações com base nos recursos racializados de violências em prejuízo e discriminação da população negra. “Nossos passos vem de longe. Falar da comunicação antirracista não é só pensar e definir políticas. É preciso reivindicar transformação”, destaca.
No encerramento das atividades do dia, a jornalista Juliana Cézar Nunes, gerente de jornalismo digital da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), fez uma apresentação exitosa e esclarecedora sobre o início e um breve histórico da entrada e participação de negros e negras na comunicação pública e relembrou os ataques dirigidos à comunicação pública ocorridos nos dois últimos governos anteriores, a exclusão criminosa dos conteúdos referentes a população negra e a ameaça desses atos na consolidação de uma democracia mais participativa. “Nós já reunimos nossos esforços para voltar a dar visibilidade às produções negras de forma cotidiana e amplificada”, esclarece.
O Plano de Comunicação Antirracista está sendo construído por especialistas, governo, integrantes da sociedade civil e movimentos sociais.