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Programa Atlânticas prevê início das bolsas de estudo no exterior para mulheres negras, quilombolas, indígenas e ciganas
- Foto: Thayane Alves/MIR
O Ministério da Igualdade Racial (MIR) apresenta perfil detalhado das 86 pesquisadoras negras, quilombolas, indígenas e ciganas selecionadas para integrar o Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, que concede bolsas para esse público. As pesquisadoras começarão os estudos ainda neste segundo semestre de 2024.
O programa é fruto de uma parceria do MIR com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério das Mulheres (MM) e Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e conta com um investimento de R$ 8 milhões para concessão de bolsas com auxílio instalação, seguro saúde e auxílio deslocamento para a realização do doutorado ou pós-doutorado sanduíche no exterior, nas instituições escolhidas pelas candidatas, ampliando e reforçando o compromisso de fortalecer a presença e a permanência dessas mulheres na ciência brasileira.
A seleção abrangeu uma diversidade de áreas de conhecimento e destinos internacionais, oportunizando às selecionadas o intercâmbio de pesquisas, a formação de redes com outros profissionais e a internacionalização de suas carreiras.
Acompanhe no quadro abaixo os dados sobre o perfil das selecionadas:
Número de Bolsistas por Faixa Etária |
||
Faixa Etária |
Número de Aprovadas |
Percentual |
60 anos ou mais (nascidas até 1964) |
3 |
3,49% |
50-59 anos (nascidas entre 1965 e 1974) |
11 |
12,79% |
40-49 anos (nascidas entre 1975 e 1984) |
18 |
20,93% |
30-39 anos (nascidas entre 1985 e 1994) |
44 |
51,16% |
20-29 anos (nascidas entre 1995 e 2004) |
10 |
11,63% |
Para assegurar a diversidade de trajetórias, foram selecionadas pesquisadoras com diferentes idades e estágios da vida. Este perfil plural, também se expressa nas áreas do conhecimento:
As Ciências Humanas lideram com 25 pesquisadoras (29,07%), seguido por Ciências Biológicas e Ciências Sociais Aplicadas, cada uma com 10 pesquisadoras (11,63%). Outras áreas incluem Ciências Agrárias, Ciências Exatas e da Terra, e Linguística, Letras e Artes, cada uma com 8 pesquisadoras (9,30%), Ciências da Saúde com 7 pesquisadoras (8,14%), Engenharias com 6 pesquisadoras (6,98%), e outras áreas com 4 pesquisadoras (4,65%).
Dentre os principais destinos, os Estados Unidos e Portugal são os países com maior número de bolsistas, recebendo 25 e 18 pesquisadoras, respectivamente. A distribuição geográfica das bolsas abrange diversos continentes, com 43 bolsistas indo para a Europa, 36 para as Américas, e 7 para a África, proporcionando uma ampla gama de experiências culturais e acadêmicas. A distribuição das pesquisadoras por estado de origem mostra uma maior presença da Bahia (15,12%), Rio de Janeiro (13,95%) e São Paulo (12,79%). Outros estados de destaque incluem Minas Gerais, Maranhão, Distrito Federal e Pernambuco.
Do Brasil para o mundo - Em entrevista, a professora do Departamento da Educação da Universidade Federal de Ouro Preto, Cristina Sacramento, que irá para Angola, no continente africano, fala da expectativa de aprendizados com a iniciativa. “A possibilidade de estar em Angola enquanto uma mulher negra é, sobretudo, um reencontro com a minha história. O edital está movimentando um grupo heterogêneo de mulheres, cada uma com o seu saber, o seu conhecimento, sua leitura da sociedade e as pautas que defendem”, comenta. Para ela, a bolsa é uma iniciativa louvável que dá condições, inclusive materiais, de realizar o trabalho da melhor maneira possível.
Para a bacharel em Química e professora da Universidade Tecnológica do Paraná, Alessandra Lunkes, a diversificação das áreas do conhecimento acolheu e incluiu pesquisadoras negras que não encontram espaço de acolhimento em sua profissão. “Por ser de uma área dura, como a minha, a gente tem que se dedicar fielmente a conseguir espaço como pesquisadora. Não havia espaço para militância, para o entendimento do que é o “ser negro”, então esse edital foi uma transformação e uma construção de identidade”, defende.
A quilombola baiana Jamily da Silva Fernandes, do quilombo Baixa Seca, que será recebida na Universidade Nacional do México, destaca o impacto da bolsa em sua trajetória profissional. “É grande a vivência de estar em uma outra universidade, de conhecer a dinâmica do processo, inclusive cultural, de um outro país, a forma como eles lidam com a pesquisa, quais as técnicas que eles costumam utilizar, quais as abordagens que eles utilizam com o público em si”, afirma.
As bolsistas estão rompendo ciclos familiares e inaugurando experiências entre as gerações de suas famílias. A quilombola Juliana Pacheco, que representará a comunidade Monte Alegre - Espírito Santo em Portugal no próximo mês, conta que em breve será a primeira doutoranda da sua família e da sua comunidade, potencializando o caráter coletivo que o Programa Atlânticas representa na sua vida.
“Eu estou só esperando o meu visto chegar para eu dividir a minha experiência com as meninas da minha comunidade. Mostrar meu passaporte e explicar o que é um doutorado sanduíche. Se eu consegui, vocês também conseguem”, desafia.
As selecionadas terão até o final de 2025 para cumprir seus cronogramas de trabalho.