Histórico do Reator Argonauta
Idealizado por um grupo de engenheiros que se especializou na área nuclear nos Estados Unidos, o projeto de instalar um reator nuclear de pesquisa no Rio de Janeiro tomou forma no início de 1962, quando foi criado o Instituto de Engenharia Nuclear, com o objetivo de administrar e operar o reator. Um convênio entre a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estabeleceu a localização: a Colina da Sapucaia, no campus da Ilha do Fundão.
O reator nuclear Argonauta começou a ser construído neste mesmo ano. Trata-se de um reator de pesquisa, projetado pelo Argonne National Laboratory (EUA), cujo projeto foi doado ao Brasil através do programa “Átomos pela Paz”, conduzido pelo governo americano para promover o uso pacífico da energia nuclear, do qual o Brasil participava. Devido às suas características voltadas para ensino e pesquisa, deveria ser instalado em um centro universitário, e promover o conhecimento da ciência nuclear com o treinamento especializado de pessoal e o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas.
O reator do IEN foi o terceiro reator nuclear de pesquisa instalado no Brasil e o primeiro construído e montado por empresas nacionais, a Mecânica CBV e a Microlab. Engenheiros brasileiros redesenharam e detalharam o projeto americano, adaptando-o às nossas condições de engenharia e tecnologia da época.
A pedra fundamental do prédio do reator foi lançada em 1962 pelo então Presidente da República João Goulart. Em apenas três anos foram terminadas as etapas de fabricação, montagem, carregamento dos elementos combustíveis, instalação e testes da instrumentação de controle e segurança do reator. A confecção dos elementos combustíveis, feito pioneiro no país, foi realizada em uma pequena fábrica recém-construída nas instalações do antigo IEA/SP, atual Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo. Foram utilizados aproximadamente dois quilos de um total de 6 kg do isótopo 235 de urânio enriquecido a 20 % e sob a forma do óxido U3O8, adquiridos por meio do programa “Átomos pela Paz”.
Decorrida a fase de testes, a primeira criticalidade (reação nuclear controlada) do Argonauta foi alcançada em 20 de fevereiro de 1965. A inauguração oficial foi em 7 de maio do mesmo ano, pelo então Presidente Castelo Branco. O custo estimado na época foi de cerca de US$ 200 mil, sendo utilizados 93% de material nacional, pois só foram importados o grafite, o urânio e alguns componentes eletrônicos. O reator possui um núcleo com uma geometria muito flexível e foi projetado para operar a baixa potência, permitindo, assim, fácil acesso às suas instalações experimentais. A segurança inerente é sua principal característica, atendendo dessa forma aos objetivos do projeto.
Ao longo desses anos, o Argonauta tem servido ao desenvolvimento de atividades de pesquisa em física de reatores experimental, física de nêutrons, análises não destrutivas como neutrongrafia e tomografia com nêutrons térmicos, análises por ativação neutrônica. O reator é também utilizado na obtenção de radiotraçadores, aplicados na solução de problemas industriais e em estudos de efluentes líquidos e do meio ambiente. E segue com o objetivo de promover o conhecimento, no ensino de disciplinas de graduação e pós-graduação e no desenvolvimento de dissertações de mestrado e teses de doutorado.