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Você sabia que reatores nucleares de fissão também podem ocorrer na Natureza?
Vista da mina de Oklo, situada no Gabão (África Ocidental). Ali, há cerca de dois bilhões de anos, um reator nuclear de fissão esteve ativo. Os veios amarelos que aparecem na foto são o minério de urânio. - Foto: Robert D. Loss
É fato bastante conhecido que o processo de fusão nuclear – a união de núcleos atômicos leves – é a fonte de energia do Sol e das outras estrelas. Já há algum tempo, o homem tenta controlar este processo físico nos reatores de fusão. No entanto, é pouco difundido que o processo de fissão nuclear – a divisão de núcleos atômicos pesados em partes menores liberando energia – também pode ocorrer na Natureza, de forma inclusive autossustentável e controlada. E não tão longe como as estrelas; aqui, pertinho de nós, na crosta terrestre.
Foi o que os cientistas franceses descobriram ao examinar, em 1972, o minério de urânio extraído da mina de Oklo, no Gabão. Ele tinha um pouco menos de urânio-235 do que o normal. Para onde teria ido essa fração do isótopo físsil do urânio? Foi aí que eles se lembraram de um estudo do químico nipo-americano Paul Huroda de 1956, o que começou a esclarecer a questão. A resposta: na mina de Oklo, há cerca de dois bilhões de anos atrás, estavam montadas as condições geológicas para que funcionasse um reator de fissão natural. O estoque inicial do urânio-235 tinha sido parcialmente gasto nas reações nucleares que ocorreram naquela época remota.
Huroda tinha estabelecido algumas condições para que a reação em cadeia se mantivesse, entre as quais a presença de água, que funcionaria como um moderador – isto é, algo que diminuísse a velocidade dos nêutrons emitidos pelo urânio-235. Depois de estudos profundos da mina e seu minério de urânio, os cientistas concluíram que esse reator natural deve ter funcionado por ciclos subsequentes de cerca de três horas de duração cada um, e ficou operando por centenas de milhares de anos, com potência média de 100 kW.
Podemos tirar pelo menos duas lições desta descoberta científica. A primeira é que a própria Natureza sabe como operar um reator nuclear de fissão. A segunda é ela soube cuidar dos rejeitos radioativos deste reator desde aquela época remota em que ele deixou de operar. O aprendizado vindo daí pode ser útil, por exemplo, no planejamento de depósitos geológicos de rejeitos dos atuais reatores de fissão construídos pelo homem.
Texto de Henrique Davidovich
Setor de Comunicação Social do IEN