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Projetos e programas estratégicos da área nuclear são discutidos no segundo dia da Conferência Temática promovida pela CNEN
A mesa “RMB, CENTENA, LABGENE, PROSUB” da Conferência Temática Ciência e Tecnologia Nuclear, organizada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), foi aberta pela ministra de Estado do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, na manhã desta quinta-feira (21). Em mensagem gravada, a ministra expôs a importância do encontro para reunir ideias e estratégias a serem apresentadas sobre o setor nuclear na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que será realizada nos dias 4, 5 e 6 de junho, em Brasília.
A mediação ficou por conta de Patrícia Pagetti, coordenadora do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). As discussões foram iniciadas pela Marinha do Brasil, com apresentação do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e do Programa Nuclear da Marinha (PNM). O Capitão de Mar e Guerra Yran Maia, da Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear da Marinha do Brasil, destacou a importância do PROSUB, que visa projetar e construir o primeiro submarino com propulsão nuclear brasileiro, quatro submarinos com propulsão diesel-elétrica e uma infraestrutura de manutenção para os submarinos.
Projetar e fabricar componentes e equipamentos para submarinos sem depender de insumos estrangeiros está entre os principais desafios do projeto. O investimento em tecnologias nacionais, aumento de investimento em P&D e implantação de políticas de fomento na indústria nacional foram algumas das propostas apresentadas. Ainda na exposição da Marinha, o Capitão de Mar e Guerra Marcelo Raposo apresentou o Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE), um protótipo em terra de um sistema de propulsão naval com base em um reator nuclear do tipo PWR (do inglês Pressurized Water Reactor).
Entre as principais adversidades na execução do projeto também está o desenvolvimento de soluções tecnológicas nacionais para reduzir a dependência externa. De acordo com Raposo, o projeto é importante para o desenvolvimento social do país. “Entre os benefícios que esperamos, está o emprego do reator nuclear nacional para produção de energia elétrica em regiões remotas do Brasil e a geração de energia e calor para plantas de dessalinização de água”, declarou.
Os programas e projetos de competência da CNEN foram apresentados pelo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, Wilson Calvo. São eles: o Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (Centena), o hub tecnológico de materiais avançados e minerais estratégicos (GraNioTer), o Laboratório de Fusão Nuclear (LFN) e o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).
Entre os desafios dos projetos, Calvo enfatizou a falta de garantia de recursos orçamentários e a carência de recomposição de pessoal no serviço público. Foram, ainda, apresentadas possíveis soluções para os atuais desafios e oportunidades futuras para cada uma das iniciativas.
Para intensificar o debate e trazer outros pontos de vista sobre o tema, as discussões contaram também com a fala dos debatedores. O embaixador Laércio Vinhas, chefe da Missão Permanente do Brasil junto à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) apontou a importância de se ter um Programa Nuclear Brasileiro efetivo e que venha das bases, além da necessidade de um plano de retenção de profissionais capacitados, recomposição de pessoal e recursos contínuos para a área.
Para Vinhas, o foco total deve ser na conclusão dos atuais projetos estratégicos. “É necessário finalizar alguns projetos antes de pensar em novas iniciativas”, afirmou. Isso garante que tecnologias projetadas há alguns anos sejam entregues antes de partir para novos empreendimentos.
A coordenadora técnica do Centena, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN), Clédola Cássia O. de Tello, expôs sobre a necessidade de se trabalhar os projetos de inovação de forma economicamente viável, ecologicamente correta e socialmente justa.
Responsável pelo projeto e construção do primeiro repositório nacional para gerenciamento de rejeitos radioativos produzidos no Brasil, Tello garantiu que, com o desenvolvimento de um espaço adequado para armazenamento de rejeitos, o país irá melhorar consideravelmente os processos produtivos da área nuclear. Isso porque o acondicionamento correto dos rejeitos radioativos gerados pela indústria e pesquisa faz parte do último item da cadeia produtiva.
Por último, o ex-Coordenador do RMB, José Augusto Perrotta, ressaltou que os quatro projetos apresentados durante a mesa formam um complexo do Programa Nuclear Brasileiro, mas o desenvolvimento demanda a integração entre todos os atores brasileiros da área nuclear. Além disso, Perrotta ainda destacou a relevância dos programas e projetos estratégicos da área nuclear para o crescimento social. “Ciência a gente faz, tecnologia a gente desenvolve e inovação a gente cria, mas todo o esforço tem que chegar na sociedade”, reiterou.
O painel “RMB, CENTENA, LABGENE, PROSUB” integrou o subtema “Programas e Projetos Estratégicos Nacionais” da Conferência Temática Ciência e Tecnologia Nuclear, cujos debates irão gerar um relatório que será apresentado na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), marcada para os dias 4, 5 e 6 de junho deste ano.
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Texto: Alice Queiróz (CDTN/CNEN)