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Pesquisadores do IEN/CNEN investigam terapia para tratamento de Alzheimer e Parkinson
O Laboratório de Nanorradiofármacos do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN) está desenvolvendo uma pesquisa comandada pelo Dr. Ralph Santos-Oliveira que investiga o potencial uso de nanomicelas com arimoclomol para o tratamento de pacientes diagnosticados com Alzheimer e Parkinson.
De acordo com a tese que pode ser lida na íntegra através deste link, o arimoclomol é uma molécula que atua como condutor de proteínas de choque térmico (HSPs). Essa característica evidenciou uma capacidade clínica para reduzir significativamente o dobramento incorreto de β-amiloide (Aβ 1–42) e α-sinucleína (α-syn), que são proteínas associadas a essas doenças neurodegenerativas.
Já as nanomicelas carregadas com arimoclomol são medicamentos de escala nanométrica que não possuem nenhum tipo de função natural no organismo humano, mas sim uma qualidade considerada fundamental para essa espécie de tratamento:
“Arimoclomol é uma substância com atividade anti-inflamatória extremamente forte e sabe-se que grande parte das doenças neurodegenerativas tem um caráter inflamatório, logo, há uma ação direta sobre as doenças neurodegenerativas. Os resultados identificados pelo nosso grupo foram que as nanomicelas podem atuar diretamente sobre as proteínas associadas a doenças de Alzheimer e Parkinson, reduzindo seus níveis e melhorando os sintomas”, afirma o prof. Dr. Ralph Santos.
A farmacêutica Isabelle Xavier de Britto, que faz parte do grupo de alunos que está desenvolvendo essa pesquisa, explica que as nanomicelas foram capazes de reduzir as contagens de leucócitos e neutrófilos em um modelo de inflamação aguda, sugerindo que, ao estarem carregadas com arimoclomol, elas podem melhorar os resultados clínicos ao atingir processos neurodegenerativos e inflamatórios, e oferecer uma estratégia terapêutica promissora para o gerenciamento de doenças em longo prazo.
Atualmente, o trabalho encontra-se no estágio de avaliar o valor da produção do novo medicamento, assim como buscar parcerias para os ensaios em humanos, uma das etapas antes de o produto chegar de forma acessível a quem necessita de tratamento:
“Nossa pesquisa representa um avanço significativo no desenvolvimento de terapias inovadoras para doenças de Alzheimer e Parkinson, e com isso, estamos em busca de parcerias estratégicas para levar essa tecnologia à Saúde Pública”, acrescenta Ralph.
O especialista afirmou ainda que o IEN/CNEN tem apoiado essa e outras pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Nanorradiofármacos, concedendo bolsas e auxílios financeiros que propiciam o fortalecimento desses trabalhos que buscam trazer novas opções de tratamento para diversas patologias.
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Caminhando nessa mesma direção do IEN/CNEN, a Universidade de São Paulo (USP) está trabalhando numa pesquisa, utilizando técnicas oriundas da Medicina Nuclear, onde se constatou que existe uma maior incidência de Alzheimer em portadores de Síndrome de Down.
“Já se sabia que o processo de envelhecimento nessa população ocorre cerca de 20 anos adiantado, com menopausa precoce e o diagnóstico de doença de Alzheimer já após os 40 anos, por exemplo. Um aspecto importante é que o gene da proteína precursora amiloide está localizado no cromossomo 21, que é triplicado na síndrome de Down. Portanto, já era sabido que esses indivíduos produzem mais beta-amiloide que aqueles sem a síndrome. Nosso estudo foi importante, pois ainda não havia um entendimento aprofundado sobre os padrões de neuroinflamação no cérebro vivo de pessoas com síndrome de Down”, explicou a pesquisadora responsável pelo projeto, Daniele de Paula Faria, em reportagem para a Agência FAPESP.
Conheça mais sobre Alzheimer e Parkinson
Tanto a pesquisa da USP quanto o novo tratamento aplicado pelo Laboratório de Nanorradiofármacos do IEN/CNEN reforçam a importância da ciência e medicina nucleares para minimizar os efeitos dos sintomas neurodegenerativos na vida de seus portadores.
O Alzheimer se caracteriza por ser um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, o que acaba por comprometer, ao longo do tempo, as atividades rotineiras realizadas por um indivíduo e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais, como a demência.
Em setembro de 2024, o Ministério da Saúde divulgou o “Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras”, onde consta que cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais convivem com Alzheimer, representando um número aproximado de 2,71 milhões de casos. A expectativa é de que até 2050 5,6 milhões de pessoas sejam diagnosticadas no país.
Já o Parkinson é associado à perda de neurônios que produzem a dopamina, que é um neurotransmissor que atua no controle das mensagens entre regiões do cérebro que, em conjunto, equilibram os movimentos e a coordenação no corpo. A diminuição de dopamina provoca sintomas que surgem de forma sutil e demoram a serem sentidos pelo paciente, mas que ajudam a identificar se o paciente é portador de Parkinson:
- Tremores que atingem os membros inferiores e superiores, podem chegar aos lábios e à cabeça;
- Pouca expressividade na face;
- Micrografia (dificuldade em escrever);
- Postura incorreta;
- Fraqueza na voz;
- Queda súbita de pressão arterial ao tentar sentar ou se levantar rapidamente;
- Perda Olfativa;
- Sono Inquieto;
- Dificuldade ao caminhar;
- Constipação.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que cerca de 1 a 2% da população mundial acima dos 65 anos sofre com a doença. Já no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, estima-se um número de mais de 200 mil casos de Parkinson, que afeta a vida de mais de 1,5 milhão de profissionais, amigos e familiares que convivem com a rotina de cuidar dos pacientes acometidos pela doença.
Escrita por: José Lucas Brito