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Novembro Azul: campanha de conscientização sobre o câncer de próstata
O Brasil deverá registrar no triênio de 2023-2025 cerca de 71.740 novos casos de câncer de próstata a cada ano, o que representa um aumento de 8,5% em relação a uma estimativa anterior, que era de 65.840 casos, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Esses números colocam esse tipo de câncer como o segundo mais incidente entre os homens, perdendo apenas para o de pele não melanoma.
A equipe do Laboratório de Nanorradiofármacos do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN) analisou esse cenário da doença no Brasil e aponta que ele se deve, em parte, ao envelhecimento da população, à maior expectativa de vida e a fatores genéticos, além de aspectos comportamentais, como dieta e sedentarismo, que influenciam no risco de desenvolvimento da doença. O preconceito e o medo dos exames preventivos também são fatores que contribuem para o afastamento dos homens dos consultórios médicos.
Para o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, cerca de 15.841 mortes no Brasil provocadas pelo câncer de próstata poderiam ser evitadas caso os pacientes tivessem optado em fazer os exames enquanto a doença encontrava-se em seu estágio inicial.
Diante dessa realidade, a Campanha de conscientização sobre esse tipo de câncer – o Novembro Azul – que surgiu em 2003 na Austrália e começou a se difundir no Brasil em 2011, é essencial para mobilizar a população masculina a realizar consultas anuais, a fim de verificar a qualidade da saúde da próstata e realizar o diagnóstico precoce da doença.
Os sinais mais frequentes da doença costumam surgir em homens a partir dos 65 anos de idade: dificuldade para urinar ou mesmo jato urinário fraco e, em casos mais avançados do câncer, presença de sangue na urina e dores na região pélvica.
Esses sintomas, embora comuns, nem sempre são discutidos abertamente devido ao estigma social gerado justamente pela crença de que eles podem prejudicar a virilidade do homem. Campanhas como a do Novembro Azul são necessárias para derrubar esses tabus e promover uma cultura de autocuidado na população masculina.
A atuação do IEN/CNEN no combate ao câncer de próstata
O Laboratório de Nanorradiofármacos do IEN/CNEN, coordenado pelo professor Ralph Santos-Oliveira, tem se dedicado em desenvolver novas terapias avançadas para o tratamento de diversos cânceres, incluindo o de próstata, como a que utiliza linhagens celulares PC3 e DU-145, que representam tipos agressivos de células de câncer de próstata. "Nosso objetivo é desenvolver terapias eficazes e seguras que possam ser aplicadas a casos resistentes aos tratamentos convencionais," explica o Dr. Ralph.
Já Jéssica Faria, doutoranda que atua no Laboratório de Nanorradiofármacos, cita um dos trabalhos mais promissores desenvolvidos pelo grupo de pesquisadores do IEN/CNEN, que são as pesquisas que investigam o uso de materiais inovadores, como microesferas de vidro decoradas com “metais de terras raras” e nanopartículas de grafeno (GQDs). Ela explica que esses materiais têm mostrado grande potencial para a detecção e destruição seletiva de células tumorais, oferecendo novas perspectivas de tratamento.
Outro avanço significativo do laboratório é o estudo das propriedades do nitreto de carbono grafítico (g-C3N4), que, combinado com nanobastões de ouro, gera um efeito sinérgico para combater o câncer. Esse nanocomposto é capaz de interferir nas vias de crescimento celular e promover a morte das células tumorais de forma direcionada.
É importante frisar que os trabalhos mencionados anteriormente ainda não estão disponíveis na indústria hospitalar, pois são estudos anteriores à fase clínica e a implementação desses tratamentos é multifatorial, porque depende não apenas de investimentos, mas também dos resultados nas fases pré-clínicas e clínicas. Ainda assim, já representam um passo importante em favor da medicina oncológica no Brasil.
“O trabalho do Laboratório de Nanorradiofármacos, alinhado com os objetivos do Novembro Azul, aponta para um futuro em que a nanotecnologia e os radiofármacos podem oferecer alternativas mais personalizadas e eficazes para o tratamento do câncer de próstata” defende Jéssica.
Escrita por: José Lucas Brito