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Inteligência Artificial impulsiona a importância da energia nuclear em escala global
O setor de energia nuclear está vivenciando uma recente revolução capaz de modificar a percepção do mercado global sobre suas potencialidades. Algumas multinacionais do setor de tecnologia estão utilizando pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês), que têm potência de até 300 MW(e) por unidade, em seus próprios data centers.
Em outubro deste ano, a Amazon anunciou a assinatura de três acordos para desenvolver tecnologia de energia nuclear de SMR. Em um desses acordos, será possível financiar um estudo de viabilidade para um projeto de pequeno reator modular próximo a uma unidade da Energy Northwest, no estado de Washington, nos Estados Unidos, tendo o direito de comprar eletricidade de quatro módulos.
Nesse mesmo mês, o Google divulgou que fez um acordo junto à companhia de energia Kairos Power para também usar pequenos reatores nucleares, destinados a abastecer centros de processamento de dados de inteligência artificial (IA). De acordo com o planejamento feito entre as partes, o primeiro reator estará em funcionamento já nesta década, enquanto outros deles serão implementados até 2035.
Essas movimentações feitas pela Amazon e Google sinalizam que as empresas de tecnologia estão empenhadas em buscar outras fontes de energia para abastecerem suficientemente seus data centers. E a energia nuclear acaba se tornando a fonte mais sustentável e atrativa para essas empresas, pois não emite dióxido de carbono na atmosfera, um dos principais causadores do efeito estufa.
“Este acordo ajuda a acelerar uma nova tecnologia para atender às necessidades de energia de forma limpa e confiável, e a liberar todo o potencial da IA para todos”, afirma Michael Terrell, diretor-sênior de energia e clima do Google.
O próprio Instituto de Engenharia Nuclear, através do Setor de Tecnologia e Engenharia de Reatores (SETER), já dispõe de um projeto onde está sendo desenvolvido um pequeno reator modular.
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Conferência da AIEA debate sobre os pequenos reatores nucleares
Na semana em que Amazon e Google anunciaram seus negócios em direção às fontes de energia nuclear, as ações desse setor registraram um aumento histórico. Desenvolvedoras de SMRs que estão listadas nos Estados Unidos, como Oklo Inc e NuScale Power, registraram alta de 99% e 37%, respectivamente. As ações do setor também atingiram patamares recordes em outras empresas do setor, como Cameco, Constellation e BWX Technologies.
Investidores analisam que o setor nuclear vive um renascimento após um período de incertezas que teve sua gênese no acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011. Havia uma certa cautela ainda quanto ao uso dos pequenos reatores nucleares que possuíam um histórico da indústria de não entregar projetos dentro do prazo e orçamentos estabelecidos.
No entanto, o que se vê é uma mudança de paradigma devido à maior necessidade do mercado de lançar mão de opções de energia limpa e confiável para o pleno funcionamento dos data centers de Inteligência Artificial. “Não se trata apenas de substituir a geração fóssil existente, mas de que precisamos construir mais agora. Isso criou um verdadeiro senso de urgência”, defende Mike Laufer, fundador e CEO da Kairos Power, empresa que fechou o já citado acordo com o Google.
Atenta a esse contexto positivo do setor nuclear, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) refletiu sobre a crescente importância dos pequenos reatores nucleares durante a primeira conferência internacional realizada pelo órgão sobre SMRs, que aconteceu entre os dias 21 e 25 de outubro, em Viena, Áustria. Na visão da organização, o momento ideal para que esses itens estejam disponíveis para os mais diversos projetos é agora:
“Para aqueles que, como eu, têm trabalhado neste campo fascinante por mais de quatro décadas, reatores pequenos e modulares têm sido mencionados, discutidos por muitos e muitos anos e sendo considerados como algo que poderia acontecer em algum momento em um futuro não muito claro. Agora, isso está acontecendo”, declarou Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da AIEA.
Apesar do momento de euforia, a AIEA entende que a construção generalizada de pequenos reatores nucleares necessita da adaptação a um novo modelo de negócios, pensando em um uso atualizado dos equipamentos disponíveis comercialmente e enxergando como trabalhar para que reguladores de todo o planeta possam alavancar abordagens e revisões de outros reguladores.
A atual popularização dos data centers gera benefícios não somente para o setor nuclear, que conquista o protagonismo da oferta de energia para as empresas e seus projetos ligados à IA, mas também para esta constante luta em prol de uma vida mais sustentável e mais consciente da utilização dos recursos naturais.
Escrita por: José Lucas Brito