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A contribuição da Medicina Nuclear para o tratamento do câncer de mama
Especialistas Tanira Mello e Marcilene do Carmo, do Serviço de Radiofármacos do IEN/CNEN, explicam sobre como exames e radiofármacos produzidos pela Medicina Nuclear agem nas células cancerígenas. Foto: Gledson Júnior.
Neste mês de outubro, a sociedade se mobiliza para se conscientizar sobre o controle e tratamento do câncer de mama, uma das doenças que mais levam mulheres de todo o mundo a óbito. A campanha internacional do Outubro Rosa, que surgiu na década de 1990 nos Estados Unidos, pretende incentivar as mulheres a buscarem o tratamento precoce e cobrar das instituições públicas de saúde que ampliem suas ações para que pessoas de todas as classes possam ter acesso a esse tipo de atendimento.
No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é a neoplasia que mais atinge o público feminino, sendo que até 2025 estima-se que 73.610 brasileiras sejam diagnosticadas com a doença, com uma taxa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, e podendo atingir até 18 mil mortes. Apesar de ser algo raro de acontecer, homens também podem contrair câncer de mama, representando cerca de 1% dos casos, segundo a mesma pesquisa do INCA.
De acordo com Tanira Giara Mello, que atua no Serviço de Radiofármacos do Instituto de Engenharia Nuclear, 90% dos casos de câncer de mama se devem a alterações nos genes adquiridas, enquanto os outros 5 a 10% dos casos são relacionados a mutações genéticas herdadas.
O processo de oncogênese (de formação do câncer) nas mulheres aumenta de acordo com a idade, porém, outros fatores podem influenciar no surgimento desse tumor, entre eles, o consumo de bebidas alcóolicas, fumo, sobrepeso e obesidade, falta de atividade física, exposição a produtos químicos e algumas formas de terapia de reposição hormonal durante a menopausa por um período maior que cinco anos.
Como a Medicina Nuclear pode ajudar no combate ao câncer de mama?
A taxa de mortalidade provocada pelo câncer de mama, no entanto, pode ser reduzida com a intervenção da Medicina Nuclear no tratamento desse paciente, é o que defende Marcilene do Carmo, farmacêutica no Serviço de Radiofármacos do IEN.
Ela explica que a mamografia segue sendo o principal exame para o rastreamento e diagnóstico do câncer de mama no Brasil. Mas para avaliar o estadiamento da doença, ou seja, o quanto que ela se espalhou para outras regiões do organismo, a medicina nuclear utiliza exames mais específicos, como a tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT).
“As células tumorais, devido ao seu metabolismo acelerado, expressam uma maior quantidade de receptores que facilitam a oncogênese. Radiofármacos, administrados no paciente por via venosa, se ligam a esses receptores, permitindo a visualização dessas áreas. Se houver um tumor, ele aparecerá nas imagens como um ‘ponto quente’ — uma região com maior atividade celular e maior captação do traçador”, explica Marcilene sobre a atuação dessa tomografia.
As especialistas destacam algumas das contribuições da Medicina Nuclear no tratamento de mulheres com esse câncer:
1. Na determinação do estadiamento da doença, a Medicina Nuclear auxilia na definição do tratamento mais adequado e no prognóstico do paciente.
2. Atua na monitoração da resposta ao tratamento: o PET-CT pode identificar precocemente a presença de metástases, ajudando os médicos a determinarem se o tratamento está sendo eficaz ou se há necessidade de ajustes.
3. A Medicina Nuclear também auxilia cirurgias radioguiadas, que permitem a localização precisa de linfonodos sentinela ou tecidos cancerosos por meio do uso de radiofármacos e detecção com o equipamento Gama Probe. Esse procedimento facilita a remoção cirúrgica de tecidos comprometidos com maior precisão e menor invasibilidade, o que leva a melhores resultados cirúrgicos e redução de complicações.
Os exames mais eficientes da Medicina Nuclear
Durante o tratamento com a Medicina Nuclear, o paciente poderá passar por alguns exames importantes que, segundo as farmacêuticas Tanira e Marcilene desempenham melhor performance sobre o organismo. Saiba mais detalhes sobre esses exames logo abaixo:
- Cintilografia de mama: exame realizado utilizando o radiofármaco Sestamibi marcado com 99mTc (Tecnécio-99m), particularmente útil quando a mamografia ou a ultrassonografia apresentam limitações na detecção de tumores, como em casos de mamas muito densas, presença de próteses de silicone ou outras condições que dificultam a visualização adequada dos tecidos.
- Cintilografia óssea: nesse exame radiofármacos marcados com 99mTc são empregados na avaliação de metástases ósseas.
- Localização radioguiada de lesão oculta: realizado em cirurgias radioguiadas para biópsias linfonodais e na identificação de lesões não palpáveis, utilizando radiofármaco marcado com 99mTc.
- Tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT): utiliza o radiofármaco fluoreto de sódio marcado com 18F na avaliação de metástase óssea e mais comumente o radiofármaco Fluordesoxiglicose marcado com 18F (18F-FDG) na avaliação da presença de metástases e na resposta ao tratamento, sendo uma ferramenta importante no monitoramento do progresso do paciente.
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Há de se considerar também a importância dos radiofármacos, que são produzidos e desenvolvidos em centros de radiofarmácia dos institutos da CNEN e laboratórios privados. De acordo com Tanira, a atuação dos radiofármacos no organismo varia de acordo com suas características e o objetivo do exame: “Alguns aproveitam o metabolismo celular para identificar áreas de atividade anormal, enquanto outros são direcionados a moléculas-alvo específicas, relacionadas a determinados tipos de células ou tumores”, acrescenta.
No exame PET/CT, por exemplo, se faz uso do radiofármaco 18F-FDG. Ele é responsável por identificar nas células a alta atividade metabólica, algo comum em células cancerosas, uma vez que este radiofármaco é uma análogo da glicose. A especialista frisa ainda que o 18F-FDG não é um radiofármaco específico para o câncer de mama.
Ainda há a possibilidade do exame PET/CT dispor de um outro radiofármaco, o 18F-Fluoroestradiol (18FES), na ocasião em que se precisa direcionar os radiofármacos para receptores específicos de órgãos ou tipos celulares. Esse composto, um análogo do hormônio estrogênio marcado com o elemento radioativo 18F se concentra em células com receptor de estrogênio positivo.
Tanira e Marcilene esclarecem ainda que, após o término do tratamento, o paciente ainda poderá ser acompanhado pela Medicina Nuclear para avaliar a possibilidade de uma recidiva, ou seja, no caso do surgimento de um novo tumor após a remissão do anterior.
Fique atento aos sinais!
Para que o câncer de mama seja tratado de forma precoce, a fim de evitar um maior sofrimento na vida da mulher, o Ministério da Saúde com o apoio da Sociedade Brasileira de Mastologia listou, em 2021, alguns sinais mais comuns que indicam a possibilidade de existência do câncer:
- Pele da mama com aspecto enrugado, semelhante a uma casca de laranja;
- Mamilo invertido;
- Secreção no mamilo, chegando a sujar o sutiã;
- Pequenos nódulos palpáveis nas axilas e/ou pescoço;
- Inchaço em parte ou em toda a mama;
- Dores na mama ou no mamilo;
- Vermelhidão na pele da mama.
Observe se surgiu algum desses sintomas e não hesite em procurar o atendimento médico mais próximo!
Escrita por: José Lucas Brito