Notícias
Destaque Cientifico
Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas publicam dois artigos em uma das revistas científicas mais importantes do mundo
Um dos artigos investigou a eficácia da dose dobrada do medicamento Primaquina para evitar recaídas de malária causada por Plasmodium vivax
A malária ainda é uma doença considerada como um grave problema de saúde pública no mundo, considerando o impacto na morbidade e mortalidade da população em países tropicais. Em relação ao Brasil, a região amazônica registra 99% dos casos de todo o país. Em 2022, a campanha da Organização Mundial da Saúde (OMS) contra a malária chama a atenção para a busca de investimentos em inovação e pesquisa para a eliminação da doença.
Contribuindo com a ciência e inovação para estudos de malária, pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC), Secretaria Estadual de Saúde do Acre (SESACRE) e Universidade Federal do Pará (UFPA) no Brasil, Universidades Ricardo de Palma e Nacional Toribio Rodríguez de Mendoza de Amazonas no Peru e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) nos EUA, juntamente com parceiros da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e Ministério da Saúde do Brasil publicaram, na última semana de março, um artigo na revista científica The New England Journal of Medicine (NEJM), considerado o periódico da área da saúde mais lido, citado e influente do mundo, e outro no NEJM Evidence, pertencente ao grupo do NEJM.
Um dos artigos intitulado “Dose mais alta de primaquina para prevenir a recaída da malária por Plasmodium vivax” teve como autores do IEC Nathália Nogueira Chamma-Siqueira (primeira autora), Sandro Patroca da Silva (co-autor) e Giselle Maria Rachid Viana, uma das Investigadoras Principais no Brasil, junto com a pesquisadora Suiane Negreiros (médica e pesquisadora ligada à Secretaria de Saúde do Estado do Acre – SESACRE). Este artigo analisou se o aumento da dose de primaquina, medicamento usado no tratamento da malária, poderia prevenir recaídas da doença. A ideia partiu de experiências em países da Oceania e da Ásia, onde também há transmissão da Malária, causada pelo parasita Plasmodium vivax.
A pesquisadora e coordenadora do Laboratório de Pesquisas Básicas de Malária da Seção de Parasitologia do IEC, Giselle Rachid Viana, explica de que forma essa publicação pode contribuir para os estudos de Malária e com políticas públicas de combate à doença: “Uma publicação dessa envergadura celebra o resultado de um trabalho dedicado de profissionais de instituições nacionais e internacionais em um ensaio clínico randomizado, envolvendo mais de 250 pacientes em um seguimento de quase 6 meses em área remota da Amazônia brasileira, com a finalidade de contribuir para o fortalecimento da promoção da saúde no combate à malária, uma vez que a evidência científica obtida por esse trabalho poderá servir de base para a revisão da política de tratamento para a malária por Plasmodium vivax no continente americano.”
O resultado do estudo evidenciou que uma dose mais alta de primaquina teve maior êxito na prevenção da recaída de Malária por Plasmodium vivax, com cerca de 86% de eficácia, sendo que alguns casos esse percentual chegou a 95%.
Desafio de fazer pesquisa na Amazônia:
O segundo artigo intitulado “Onde a borracha encontra a estrada: pesquisa na Amazônia”, publicado na revista NEJM Evidence, as cientistas Giselle Rachid Viana, do IEC, e Suiane Negreiros, do SESACRE, fazem um relato dos bastidores da pesquisa relativo ao primeiro artigo, mostrando a desafiadora rotina de fazer ciência na região amazônica.
Giselle Viana esclarece mais sobre a importância de publicar esse relato em uma revista internacional: “Utilizamos um jogo de palavras conhecido na região já que o Acre, historicamente, foi o grande polo da extração da borracha no Brasil. Ilustrado com momentos peculiares, como lâminas de microscopia da malária preparadas sobre o assento de motocicletas (marcando um dos episódios de superação dos desafios do trabalho de campo nos rincões da floresta), o artigo mostra o que os cientistas, e diversos outros profissionais, enfrentam quando fazem pesquisa na Amazônia.”