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O Estudo da Arbovirologia em Defesa da Amazônia
Em 1953, um acordo entre o antigo Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), órgão ligado ao Governo Brasileiro e a fundação Rockfeller, foi responsável por uma das maiores transformações em estudos de arbovírus na Amazônia. Isso porque o Órgão foi responsável por estabelecer um programa de estudos de arbovírus (vírus transmitidos por artrópodes hematófagos, como mosquitos), como nunca visto na região.
Naquela época, os cientistas acreditavam que o vírus da febre amarela não era o único arbovírus a causar sérios problemas no mundo, o que pôde ser observado anos depois com as sucessivas epidemias de dengue. O interesse em investigar agentes virais desconhecidos e presentes na Amazônia culminou com a criação do Laboratório de Vírus em Belém, um dos maiores do país na época, que teve pesquisas inicialmente conduzidas pelos pesquisadores norte-americanos Ottis Causey e Calista Causey.
Nas décadas seguintes, com os projetos de desenvolvimento na Amazônia, a participação do Instituto Evandro Chagas (IEC) foi fundamental para compreender os impactos sanitários das obras de grande vulto que estavam sendo desenvolvidas, e assim dedicar estudos a essas áreas, propiciando desenvolver políticas de saúde adequadas à região.
Hoje, a Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas (SAARB) tem catalogada uma coleção de 220 espécies de arbovírus e outros vírus de vertebrados, de um total de mais de 10 mil vírus isolados. Esse é o segundo maior biobanco de vírus em todo o mundo.
Atualmente, a SAARB possui uma estrutura física com mais de 10 laboratórios, incluindo o Laboratório Nível de Biossegurança 3 (NB-3) e Nível de Biossegurança Animal 2 e 3 (NBA-2 e NBA-3). Esse nível de Biossegurança é o terceiro maior em uma escala de 1 a 4. Com esse laboratório a instituição é uma das poucas em todo país capaz de trabalhar com determinados vírus e arbovírus, a exemplo do Ebola.
A área de arbovirologia também possui laboratórios certificados pela ISO 15189 desde 2018 (Laboratórios de Biologia Molecular e Sorologia I e II) e em franco aumento do escopo para os demais laboratórios da seção.
Entre os produtos que a seção entrega a sociedade estão os treinamentos; avaliação e validação de protocolos e kits no âmbito do Sistema Único de Saúde; analise sorológica e molecular; estudos de bioinformática; sequenciamento genômico de nova geração; produção de anticorpos e outros imubiológicos para a saúde pública; teste de fármacos, vacinas, além de testes em animais e em laboratório.
Projeto Salobo : A implantação de grandes projetos de desenvolvimento da Amazônia geraram um grande fluxo migratório e transformações ambientais na região, que foram responsáveis pela emergência e reemergência de diversos agentes infecciosos que apresentam ciclos de transmissão silvestre, sendo necessária a realização de estudos de monitoramento ao longo dos anos nessas áreas.
Como exemplo, no IEC ocorre o Projeto Salobo, desenvolvido na região de Carajás, a qual alberga importantes projetos de mineração no estado do Pará. Esse estudo tem sido realizado de forma continuada desde 2005. O trabalho busca avaliar o quadro nosológico das populações que vivem nas áreas de influência desses projetos e que estão diretamente expostas às alterações ambientais que estão ocorrendo nessas áreas. Assim, é realizado o monitoramento da circulação de diversos agentes infecciosos e parasitários responsáveis pelos agravos de importância em saúde endêmicos nessa região, tanto em áreas urbanas como florestais, envolvendo humanos, animais silvestres (hospedeiros/reservatórios) e artrópodes hematófagos (vetores). A detecção precoce dessa circulação é fundamental para direcionar as ações da vigilância epidemiológica, a fim de controlar a dispersão desses patógenos, evitando surtos e epidemias.
Referência do artigo:
Travassos da Rosa, APA. The history of Arbovirology at Instituto Evandro Chagas, Belém, Pará, Brazil, from 1954 to 1998 Rev Pan-Amaz Saude 7 núm esp:61-70, 2016