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JULHO AMARELO – MÊS DE COMBATE AS HEPATITES VIRAIS
As hepatites virais representam um grave problema de saúde pública em todo o mundo. Trata-se de uma infecção que atinge o fígado, na maioria das vezes de forma silenciosa, ou seja, sem sintomas ou com sintomas leves, entretanto, quando os sintomas estão presentes, podem se manifestar sob a forma de cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. As hepatites são classificadas por letras do alfabeto em hepatites A, B, C, D ou Delta e E. No Brasil as hepatites A, B e C são as mais comumente encontradas, a hepatite D, ocorre principalmente na Região Norte e a hepatite E, é menos frequente no Brasil, sendo mais encontrada na África e na Ásia.
As infecções pelos vírus das hepatites B ou C podem se tornar crônicas, na maioria das vezes assintomáticas, motivando em geral um diagnóstico tardio, podendo evoluir para doença inflamatória crônica, cirrose ou câncer, com a necessidade de transplante do fígado, provocando um impacto de aproximadamente 1,4 milhões de mortes por ano em todo o mundo.
No Brasil entre 1999 e 2018, foram notificados e confirmados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 632.814 casos de hepatites virais, destes, 167.108 (26,4%) são referentes à hepatite A, 233.027 (36,8%) à hepatite B, 228.695 (36,1%) à hepatite C e 3.984 (0,7%) de hepatite D.
A hepatite A é uma doença contagiosa, causada pelo vírus da hepatite A (VHA), de transmissão fecal-oral, por meio de água ou alimentos contaminados pelo vírus. Geralmente benigna, pode causar insuficiência hepática aguda grave ou ser fulminante em menos de 1% dos casos. A melhor forma de evitar a doença é melhorando as condições de saneamento básico e de higiene, em casa, creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas; não consumir alimentos crus; cozinhar bem alimentos como mariscos, frutos do mar e carne de porco; não tomar banho ou brincar em valões, riachos, chafarizes, enchentes, locais com esgoto a céu aberto; não construir fossas próximas a poços e nascentes de rios. A vacina de hepatite A está disponível nas salas de vacinação, para crianças de 1 a 4 anos de idade.
Para a Hepatite B, o tratamento disponibilizado pelo SUS visa reduzir o risco de progressão da doença e suas complicações, especificamente cirrose, câncer hepático e morte. Os medicamentos disponíveis para controle da hepatite B são a alfapeginterferona, o tenofovir e entecavir. A principal forma de prevenção da infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) é a vacina, que está disponível no SUS para todas as pessoas, independentemente da idade e condições de vulnerabilidade. Para crianças, são quatro doses da vacina: ao nascer (vacina monovalente), aos 2, 4 e 6 meses de idade (vacina pentavalente). Para os adultos, o esquema é de três doses com intervalo de um mês entre a primeira e segunda dose e de quatro meses entre a segunda e terceira dose. Assim como outras formas de prevenção, como usar camisinha em todas as relações sexuais, não compartilhar objetos como lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, material de manicure e pedicure, equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem e colocação de piercings. A Hepatite B pode ser transmitida da mãe para o filho durante a gestação ou durante o parto (transmissão vertical).
A transmissão do vírus da hepatite C (VHC) pode ocorrer pelo contato com sangue contaminado, pelo compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas (cachimbos); reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos; de equipamentos de manicure; de material para tatuagem; procedimentos invasivos como hemodiálise, cirurgias sem os devidos cuidados; uso de sangue e seus derivados contaminados; relações sexuais sem preservativos e na transmissão vertical. A hepatite C não é transmitida pelo leite materno, comida, água ou contato casual, como abraçar, beijar e compartilhar alimentos ou bebidas com uma pessoa. O tratamento da hepatite C é feito com os antivirais de ação direta, que apresentam taxas de cura de mais 95% e são distribuídos pelo SUS. Não existe vacina contra a hepatite C, para evitar a infecção é importante não compartilhar objetos que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, alicates, escova de dente); usar preservativo nas relações sexuais; não compartilhar objetos no uso de drogas; fazer no pré-natal os exames para detectar as hepatite B e C.
A transmissão de hepatite D é idêntica a da hepatite B, da mesma forma que as outras hepatites, a hepatite D pode ser assintomática. Após a confirmação do diagnóstico, o médico indicará o tratamento. Os medicamentos não ocasionam a cura da hepatite D, o objetivo principal do tratamento é controlar o dano hepático. Como o vírus da hepatite D (VHD), depende da presença do VHB, a imunização para hepatite B é a principal forma de prevenção da doença, outras medidas envolvem o uso de preservativo em todas as relações sexuais, não compartilhamento de objetos de uso pessoal e equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem e colocação de piercings.
O vírus da hepatite E (VHE) também de transmissão fecal oral pelo consumo de água contaminada e em locais com infraestrutura sanitária frágil, semelhante ao VHA. Outras formas de transmissão incluem a ingestão de carne mal cozida ou produtos derivados de animais infectados (carne de porco); transfusão de produtos sanguíneos infectados e transmissão vertical. Da mesma forma que a hepatite A, a hepatite E não tem um tratamento específico. O médico saberá prescrever o medicamento mais adequado para melhorar o conforto e garantir a nutrição do paciente. Em pacientes imunossuprimidos, como transplantados de órgãos sólidos, indivíduos com Aids e em terapia com imunobiológicos há o risco de infecção crônica pelo VHE e de tratamento com antivirais.
O INSTITUTO EVANDRO CHAGAS NO ESTUDO DE HEPATITES: Criada em 1994 a Seção de Hepatologia (SAHEP), do Instituto Evandro Chagas, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde está instalada no Campus do IEC, em Belém, Pará, Brasil e tem como finalidade caracterizar os agentes infecciosos e não infecciosos das doenças hepáticas humanas e não humanas, seus modos de transmissão, prevenção e controle. Desenvolve também atividades de Vigilância e Pesquisa ligadas as hepatopatias. Sua infraestrutura é constituída por Laboratório de Sorologia, que realiza exames sorológicos para identificação de infecções agudas e crônicas das hepatites A, B, C, D e E. O Laboratório de Biologia Molecular, que realiza exames de biologia molecular, qualitativa, carga viral, genotipagem, sequenciamento e mutação viral, referentes aos genomas dos vírus das hepatites A, B, C, D, E; avalia e aprimora métodos diagnósticos de interesse para as doenças do fígado. A SAHEP/IEC também desenvolve estudos sobre as hepatites virais em áreas indígenas e em comunidades ribeirinhas e de quilombolas e atua na elucidação etiológica/causal de surtos e epidemias de hepatites em serviços de hemodiálise e em diversas comunidades amazônicas.
Texto: Heloisa Marceliano Nunes
Chefe da Seção de Hepatologia/IEC/SVS/MS