Notícias
Instituto Evandro Chagas desenvolve um estudo de seguimento em crianças expostas ao vírus zika durante a gravidez da mãe
Um relato de uma mãe que teve Zika durante a gravidez: “Eu tive Zika com sete meses de gravidez, com o resultado dos exames, a secretaria de saúde do município de Barcarena me encaminhou para o Instituto Evandro Chagas para iniciar o acompanhamento da minha filha, quando ela tinha dois meses. Com o tempo percebemos uma irritabilidade nela”.
Quem conta, é Márcia Duarte, servidora pública que faz parte do projeto “Acompanhamento do Desenvolvimento e intervenção precoce de crianças expostas Intrautero ao vírus da Zika na região metropolitana de Belém” , desenvolvido pela médica e pesquisadora do IEC Consuelo Silva de Oliveira e financiado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE/DECIT).
O estudo, relacionado ao Zika, iniciou em 2015 no IEC com o acompanhamento de grávidas infectadas pelo vírus Zika e confirmadas pelo laboratório, e também as crianças das referidas mães que foram expostas intrautero ao vírus, incluindo as que nasceram normais e as que apresentaram má formação congênita associada ao vírus como a Microcefalia.
De acordo com a coordenadora do projeto Consuelo de Oliveira o trabalho consistiu em um “longo acompanhamento pediátrico das crianças por 3 anos, com consultas regulares que eram realizadas a cada 3 meses e após 1 ano de vida, semestralmente”.
Neste período os pais e responsáveis foram relatando alterações em algumas crianças como a irritabilidade, agressividade, sono agitado e distúrbios de fala como a gagueira. Diante desses achados e a crescente notificação de alterações similares em outros centros de pesquisa, justificaram prosseguir com o seguimento dessas crianças monitorando as alterações do desenvolvimento acrescido das intervenções precoces”, explica a coordenadora.
O referido estudo foi iniciado em 2020 e tem como objetivos de identificar e tratar precocemente os transtornos no desenvolvimento de crianças expostas intra-útero ao Vírus Zika, capacitar os pais e responsáveis para o manejo de comportamento e estimulação do desenvolvimento das crianças, além de identificar mudanças no desenvolvimento e comportamento das mesmas após aplicação de medidas de intervenção.
Para essa etapa do estudo, está programada a avaliação multiprofissional de cada criança envolvendo psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e educadores fisicos, que integram a equipe profissional do Espaço Terapêutico Arima , clínica especializada na área do desenvolvimento infantil e que foi contratada pelo IEC por meio do financiamento do estudo pelo Ministério da Saúde.
As intervenções terapêuticas propostas para cada criança a partir de um plano terapêutico individual, acontecem duas horas por semana e envolvem atividades de interação social, linguagem, coordenação motora, atenção e concentração, atividades acadêmicas, brincadeiras e a redução de comportamentos inadequados. Além das crianças, os pais também participam de orientações promovidas pelo projeto, como palestras, rodas de conversas, que auxiliam o acesso à informação que possam ser aplicadas em casa, além da troca de experiências entre eles.
A psicóloga Glaucy Costa que coordena as atividades terapêuticas, explica como esse acompanhamento é realizado “cada criança passa por um processo de avaliação inicial, baseado em metodologias de referência na área do desenvolvimento infantil. Uma equipe multidisciplinar atua nesse processo com objetivo de mapear como está o desenvolvimento da criança nas áreas de linguagem, interação social, autonomia pessoal e coordenação motora, tudo de acordo com a faixa etária. Com esse resultado nós estabelecemos o objetivo da intervenção terapêutica em cada criança, e fazemos um programa de ensino individualizado específico, para atender a melhoria da criança, conforme a avaliação”.
Glaucy ressalta ainda que o diferencial do projeto, em relação a outras clinicas terapêuticas, “a nossa equipe multidisciplinar é um grande diferencial, pois nós estamos englobando tudo aqui, as crianças não precisam se deslocar para outros centros clínicos para fazer o seu tratamento, tudo pode ser feito aqui”.
A Bibliotecária Daniela Araujo que também participa do projeto com a sua filha comemora a melhora que a sua filha tem apresentado, com poucos meses de projeto, “as terapias são fundamentais para a diminuição da gagueira dela e também a questão comportamental, até por que aqui ela encontra outras crianças e por isso a gente sempre se esforça nas datas que precisamos vir” e finaliza “se pra gente já é uma viagem, pra ela é uma viagem incrível vir pra Belém, para a ‘casa amarela’, como ela chama, inclusive ela é ansiosa pra vir e possui uma relação com o espaço que está colaborando no desenvolvimento dela nos primeiros anos de vida”.
Consuelo de Oliveira finaliza esclarecendo que “sob essa perspectiva, buscar-se-á, por meio do acompanhamento proposto uma abordagem multiprofissional com ênfase na vigilância do desenvolvimento neuropsicomotor visando à adoção de medidas de intervenção precoces e efetivas que minimizem ou mesmo superem os danos causados no desenvolvimento destas crianças pela exposição do VZIK, em sua fase intra-útero.”