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IEC comemora 86 anos e 30 anos da Seção de Meio Ambiente com palestra sobre inovação
No dia 10 de novembro, o Instituto Evandro Chagas (IEC) comemorou 86 anos de criação. A data foi marcada pela palestra “Instituto Evandro Chagas na trilha da inovação”, ministrada por Maria das Graças Ferraz Bezerra, doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPa), analista em Ciência e Tecnologia Sênior do Museu Paraense Emílio Goeldi/MCTI e bolsista Fiotec da Seção de Inovação, Tecnologia e Patentes (SEITP) do IEC.
Na ocasião, o chefe da SEITP, Allen Leonardo Cardoso Macedo, destacou o reconhecimento do IEC pelo Ministério da Saúde como uma Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT), ocorrido em julho de 2021, e a migração do IEC da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) para a Secretaria de Ciência Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE) em junho de 2022. Esses acontecimentos aumentaram a necessidade do IEC de criar um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), papel que é desempenhado pela SEITP. De acordo com Allen Leonardo, a Seção tem a atribuição de apoiar e orientar as iniciativas de inovação e registro de patentes no Instituto. Nesse sentido, a palestra da Dra. Graça Ferraz faz parte de uma série de iniciativas da Seção para a sensibilização da comunidade do IEC sobre o tema inovação.
30 ANOS - Na ocasião, foram comemorados ainda os 30 anos da Seção de Meio Ambiente do IEC (SAAMB). O chefe da Seção, Dr. Marcelo Oliveira Lima, fez um rápido panorama das discussões sobre Meio Ambiente e citou: a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano (Estocolmo/1972), a criação da Divisão de Ecologia Humana e Meio Ambiente do Ministério da Saúde (1974), o início da criação das secretarias estaduais de saúde e meio ambiente (1978), a publicação do “Relatório Brundtland - Nosso Futuro Comum” pela ONU (1987) e a realização no Rio de Janeiro, em 1992, da primeira conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92. “Todos esses eventos demonstraram a importância de se ter um meio ambiente equilibrado para possibilitar melhor qualidade de vida e condições de saúde. Com esse pensamento e, de forma inovadora, foi criada a então Seção de Ecologia Humana e Meio Ambiente do IEC”, explicou o Dr. Marcelo. Ele destacou ainda a importância do parque tecnológico da SEAMB e como a atuação da Seção nesses trinta anos tem sido fundamental para a saúde ambiental tanto na Amazônia como em outras regiões do país, uma vez que o IEC é o único centro nacional capaz de realizar determinadas análises ambientais.
A diretora do IEC, Dra. Lourdes Garcez, iniciou sua fala lembrando a data de 10 de novembro de 1936, quando o médico sanitarista, Evandro Serafim Lobo Chagas, conseguiu formalizar a criação do Instituto de Patologia Experimental do Norte, que mais tarde se tornaria o Instituto Evandro Chagas. Ela destacou a capacidade do Instituto de acompanhar e contribuir para o avanço tecnológico e do conhecimento ao longo desses 86 anos. “Um exemplo é a bioinformática, que permite a análise rápida e detalhada de uma quantidade extraordinária de dados e facilita, entre outras coisas, a inovação em produtos farmacêuticos. Nós temos essa e diversas outras competências aqui no instituto e é importante que nós ofereçamos produtos que interessam à sociedade. Como parte do Ministério da Saúde, esse é o nosso papel”, afirmou a diretora. Ela reiterou ainda a importância da SEITP e da atuação da SAAMB desde a sua criação em 1992 em respostas às demandas da sociedade sobre meio ambiente.
A Dra. Lourdes observou também a localização estratégica do IEC na região amazônica. “Nós não podemos esquecer das cerca de 30 milhões de pessoas que vivem nessa região, a qual compreende nove países, até porque a garantia de que nós vamos saber conviver com a floresta depende do modo de vida das culturas tradicionais. Ou seja, precisamos de um desenvolvimento sustentável e ninguém entende mais a Amazônia do que quem experencia a região” explicou. A diretora do IEC convidou para participar do evento a Dra. Putira Sacuena, primeira mulher indígena a concluir a graduação em Biomedicina na UFPa. Ela é da etnia Baré, fez mestrado em Antropologia, na área de Bioantropologia, e cursa doutorado no Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPa. A Dra. Putira não pôde participar, mas mandou a mensagem abaixo, que foi lida pela Dra. Lourdes Garcez.
Eu sou Putira Sacuena, Indígena do Povo Baré, mulher, mãe, avó, pesquisadora e Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Antropologia, na concentração em Bioantropologia, linha de pesquisa Genética Forense. Venho aqui trazer a reflexão nesses 86 anos de vida, resistência e dedicação do Instituto Evandro Chagas. Nós, povos Indígenas em nossos territórios, sempre convivemos com pessoas chegando, nos observando, com pouca vivência e experiência entre nós.
Penso hoje, como uma Indígena pesquisadora, o quanto precisamos INOVAR dentro de um sistema de pesquisa, mas temos que lembrar que esse sistema somos todos e todas nós. Exatamente isso, nós que precisamos inovar a "pesquisa" , pensar que não são amostras e dados e SIM PESSOAS. Eu falo no sentido de humanidades, além do humano biológico, estou falando de cosmogenias de um grande círculo, que tudo está interligado e que, atrás de "AMOSTRAS", tem uma pessoa que tem culturas, religiões, famílias e interação com um todo e, dessa forma, vamos dar um retorno do que fazemos como pesquisadores e pesquisadoras para toda a sociedade e em especial os povos das Amazônias, aí vão saber o que de fato fazemos dentro de nossos muros e laboratórios. Sair dessas "caixinhas" é fundamental para crescermos como humanidades entre nós.
Deixo essa breve mensagem para entendermos que precisamos conhecer quem estamos pesquisando, como estamos pesquisando e que nossos resultados cheguem nas bases dos povos. Somos gratos e gratas pela vida do IEC e lembramos que nós todos e todas somos esse grande círculo de cosmologias do IEC porque ele é construído por PESSOAS, que somos as humanidades. Que os nossos e nossas Ancestrais caminhem com vocês e nós para a construção inovadora da pesquisa nas Amazônias. Que sejamos luz, terra e água na vida das pessoas.
Professora Lourdes, querida, grata por caminhar e entender essa importância das cosmologias dos povos Indígenas na pesquisa independente da área. Um grande e afetuoso abraço de celebração. Katureté.