Notícias
Estudos de Hepatites Virais que Colaboraram na Descoberta de Novo Tipo da Doença e da Primeira Campanha de Vacinação de Hepatite B No Brasil
Conhecida popularmente como febre negra de Lábrea, desde os anos 1950 essa doença amedrontava os moradores das regiões do Juruá, Purus e Madeira, na Amazônia Ocidental, por sua alta letalidade. Estudos sistemáticos que ocorreram a partir dos anos 1960 e mais intensamente nos anos 1970, com estabelecimento de postos avançados de pesquisa pelo Instituto Evandro Chagas – IEC em Sena Madureira-AC (1976) e Boca do Acre-AM (1979), concluíram que o patógeno era um tipo de hepatite viral, com a presença do vírus delta (HDV), mas não somente. Seria uma superinfecção ou uma coinfecção pelo delta com forte presença do vírus da hepatite B (HBV), que acometia principalmente adultos jovens e crianças. Nas formas letais das hepatites, a presença do HBV era uma constante.
Especialistas reunidos no Primeiro Simpósio sobre o Delta em Manaus, em 1986, apontaram a necessidade de vacinação contra a hepatite B no Brasil. O Ministério da Saúde determinou então, que ela deveria ser iniciada em 12 municípios da Amazônia Ocidental para os quais havia dados suficientes acerca da endemicidade do HBV. Por questões operacionais foram elaborados dois projetos, um deles a cargo de uma comissão com várias instituições de Saúde sediadas em Manaus, que seria responsável pela vacinação em 11 municípios. E o outro, a cargo do IEC, avaliaria, no município de Boca do Acre, a imunogenicidade e eficácia da vacina utilizada, denominada Engerix B, produzida por tecnologia de DNA recombinante por um laboratório belga. Um dos objetivos dessa primeira fase seria diminuir a mortalidade e a morbidade de hepatite B e D nos municípios escolhidos, vacinando todas as crianças menores de 10 anos de idade.
Com relação à Boca do Acre, para o alcance dos objetivos, sob coordenação do IEC, houve o envolvimento de várias instituições, de líderes comunitários, de profissionais de saúde, e outros. A vacinação aconteceu nas áreas urbana e rural, tendo se iniciado em agosto de 1989, com presença do presidente da República, José Sarney, discursando em praça pública para a população. Foi finalizada em dezembro de 1990, com 3 doses aplicadas. Mais de 6300 pessoas receberam a vacina, sendo que a cobertura na área urbana chegou a 89% e na rural 78%.
Com o sucesso do projeto coordenado pelo IEC, no ano de 1991 a vacina contra hepatite B entrou no calendário básico do Amazonas para menores de 01 ano. Em 1992, para a Amazônia Legal, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina e Distrito Federal para menores de 5 anos. Em 1996, foi recomendada para toda a população do país menor de 01 ano de idade, mas a oferta somente ocorreu em 1998, devido à falta do produto.
Os estudos de Hepatologia continuaram no IEC e em 1994 criou uma área cientifica voltada somente para as hepatites virais. Hoje a área é Referência laboratorial em hepatites virais para a Região Amazônica e parte da Região Nordeste. Além disso, a área desenvolve estudos sobre as hepatites virais em áreas indígenas e em comunidades ribeirinhas e de quilombolas e atua na elucidação etiológica/causal de surtos e epidemias de hepatites em serviços de hemodiálise e em diversas comunidades amazônicas.