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85 anos de estudos de parasitoses na Amazônia Brasileira
Os primeiros estudos do cientista Evandro Chagas no estado do Pará sobre a leishmaniose visceral, doença parasitária rural até então desconhecida pela sociedade em geral no Brasil, foram à semente para o nascimento do Instituto Evandro Chagas. Com a motivação de compreender melhor a nova enfermidade, Evandro Chagas criou o Instituto de Patologia Experimental do Norte, o IPEN, em 1936, em Belém do Pará. Esses foram os primeiros passos do IEC, para os estudos de parasitoses na região amazônica.
Ao longo de 85 anos, além das Leishimanioses, a instituição desenvolveu diversos estudos na área, como Malária, Doença de Chagas, Toxoplamose, Esquistossomoses, Parasitoses intestinais (também conhecidas como vermes), moluscos e insetos, parasitoses que afetam o sistema nervoso. Essas pesquisas tem atuado, desde o atendimento ao paciente, a ecologia dos insetos, bioatividades de plantas medicinais, modelagem matemática, além de estudos de genomas e o uso da bioinformática em busca de soluções que beneficiem a população local.
Desde o seu inicio, a área de parasitologia do IEC já identificou cerca de 120 espécies de parasitos novos para ciência, o destaque está para as Leshimanias, causadora das leishimanioses humanas e também os insetos que são capazes de transmitir a doença.
O IEC em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e com a Secretaria de Saúde do Município de Portel desenvolveram um projeto, com os objetivos de garantir autonomia às famílias no manejo vegetal para a produção do fruto e na prevenção de doenças; e gerar conhecimento científico para a solução dos principais problemas de saúde locais. Assim, a estratégia inclui o desenvolvimento de tecnologias sociais, ações de educação, vigilância de ameaças à saúde e pesquisas científicas. Ações de saúde serão integradas aos esforços locais da Secretaria de Saúde e às diretrizes do Ministério da Saúde.
A implantação na Amazônia de grandes empreendimentos para o desenvolvimento econômico – como nas áreas energética, minerária, agricultura, entre outras – promove alterações nas paisagens naturais, o que impacta a saúde humana. As transformações ambientais podem favorecer o aumento da incidência de doenças transmitidas por vetores, como leishmaniose tegumentar e malária, ou mesmo o ressurgimento de doenças já eliminadas, como a filariose linfática e a oncocercose. A Seção de Parasitologia do IEC possui em seu staff pesquisadores especialistas em entomologia, os quais monitoram insetos transmissores da malária, das leishmanioses, da filariose e da oncocercose. Além disso, monitoram também o aumento na densidade dos insetos em geral, mesmo que não sejam reconhecidos como transmissores de agentes infecciosos às pessoas, pois podem incomodar a população e provocar reações alérgicas. Os resultados desses estudos auxiliam a tomada de decisão dos gestores públicos e privados para a prevenção e o controle de doenças transmitidas por insetos.
A área de Parasitologia do IEC desenvolve estudos em busca de compostos com ação terapêutica a partir do ecossistema amazônico. Atualmente são investigados candidatos a medicamentos antimaláricos. Essa linha de atuação está associada aos eixos temáticos de preservação (promover o uso sustentável do bioma amazônico) e desenvolvimento sustentável (fomentar a economia verde ou bioeconomia). Possui também sinergia com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de Saúde e Bem-Estar, Cidades e Comunidades Sustentáveis e Consumo e Produção Sustentáveis.
Historicamente, a emergência e a disseminação dos agentes infecciosos atravessam fronteiras e, em muitas situações, representam grandes desafios à saúde pública. Dados mundiais registravam o aumento do número de viagens e a diversificação crescente dos destinos do turismo internacional até 2019, antes da COVID-19. Onde houver uma pessoa infectada pelo parasito da malária e um mosquito Anopheles , um surto da doença poderá ser deflagrado, mesmo em área extra-amazônica. Há ainda a diarreia dos viajantes. Esse cenário exige ações de vigilância, efetividade na notificação das doenças, orientações aos viajantes e uma ampla rede capilarizada de comunicação. O projeto da área de Parasitologia é implantar um Centro de Pesquisa e Orientação ao Viajante em Belém, a fim de apoiar os sistemas de vigilância em saúde de estados brasileiros e a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, com ações e pesquisas para balizar a tomada de decisão de gestores públicos.