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UC no litoral paulista é habitat exclusivo da jararaca-ilhoa
São 2 mil serpentes numa ilha de apenas 23 ha. Veneno ajuda a criar fármacos contra doenças cardíacas e circulatórias
São 2 mil serpentes numa ilha de apenas 23 ha. Veneno ajuda a criar fármacos contra doenças cardíacas e circulatórias
Sandra Tavares
ascomchicomendes@icmbio.gov.br
Brasília (21/12/15) – A
Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Ilhas da Queimada Pequena e Queimada Grande
, no litoral paulista, nos municípios de Itanhaém e Peruíbe, tem uma particularidade muito especial. Ela é o habitat da
jararaca- ilhoa (
Bothrops insularis
)
, considerada uma das serpentes mais perigosas do mundo, mas que, contraditoriamente, pode salvar a vida de muitas pessoas. Seu veneno, segundo pesquisadores, revela-se um precioso aliado na criação de fármacos contra doenças cardíacas e circulatórias.
Estima-se que, nos 23 hectares da Ilha Queimada Grande (a Queimada Pequena tem 10 hectares), vivam cerca de duas mil jararacas-ilhoas. A proliferação da espécie deve-se sobretudo à inexistência na ilha de predadores naturais da serpente. A maior parte dos animais que visitam o local são as aves migratórias. Os ninhos dessas aves são, por sua vez, objetos de predação por parte das jararacas, que desenvolveram a habilidade de trepar e caçar nas árvores.
A jararaca-ilhoa consta nas listas
estadual
(São Paulo) e
nacional
de espécies ameaçadas de extinção. Muito disso se deve à ação, no passado, de caçadores que aportavam na ilha para capturar exemplares da serpente que, depois, eram vendidos no mercado paralelo.
Monitoramento permanente
Para combater esse tipo de ilícito e, principalmente, para definir estratégias e ações de preservação da espécie, os gestores da Arie, que é uma unidade de conservação (UC) gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realizam trabalho permanente de monitoramento dessa população de jararacas-ilhoas.
“Estamos constantemente monitorando e estimando a quantidade de indivíduos, para saber se há declínio na população”, explica o analista ambiental e chefe da Arie Ilhas da Queimada Pequena e da Queimada Grande, Carlos Renato de Azevedo.
O trabalho de monitoramento começou a ser feito, mais efetivamente, a partir de fevereiro de 2014. Tem como objetivo verificar a tendência da população das jararacas ilhoas. “Caso observemos a tendência de declínio, deveremos investigar as causas desse fenômeno e adotar medidas para a proteção da espécie”, diz Azevedo.
Neste caso, uma das medidas que já está sendo estudada é a criação
ex-situ
(fora do habitat) da espécie. Isso seria feito em cativeiro, em parceria com instituições de pesquisa, com o Instituto Butantan, o Instituto Vital Brazile o Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Ceva), da Universidade Estadual de São Paulo.
Estabilidade da população
No momento, a equipe da Arie, juntamente com colaboradores, busca manter a estabilidade da população da serpente. “Na Arie fazemos a contagem das jararacas avistadas ao longo da trilha e anotamos os dados em fichas. Também coletamos informações sobre comportamento, clima, horário, sexo, etc”, afirma o chefe da unidade.
Todas as informações são repassadas a pesquisadores colaboradores, como é o caso do professor Ricardo Augusto Dias, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal , da Universidade de São Paulo. O trabalho de monitoramento também conta com apoio do
Centro de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN)
, vinculado ao ICMBio.
As estimativas de abundância da espécie são comparadas anualmente. Para isso, uma equipe da Arie visita regularmente a ilha. A quantidade de pessoas envolvidas em cada expedição varia de acordo com a disponibilidade dos técnicos e analistas do ICMBio.
Sem registros de desembarque ilegal
Pesquisadores que trabalham com a espécie alertam para o possível declínio da população de jararacas-ilhoas. Segundo eles, a captura ilegal no passado poderia ser o principal motivo, já que não existem predadores da serpente em Queimada Grande. Segundo Azevedo, atualmente não há registros nem indícios de pessoas desembarcando ilegalmente na ilha. A presença dos servidores do ICMBio tem inibido as práticas ilegais.
O último caso conhecido de remoção ilegal de indivíduos desta espécie das ilhas se deu em 2012. Os animais foram encontrados e devolvidos à Arie. “Por isso acreditamos que esta pressão sobre a jararaca-ilhoa tenha diminuído bastante nos últimos anos”, diz Azevedo.
Além das reuniões do conselho da UC, a equipe gestora da Arie tem distribuído aos donos de barcos, marinas, colônias de pescadores, secretarias de turismo da região, material explicativo sobre a unidade de conservação. “Também conseguimos divulgar algumas matérias sobre a ilha em meios de comunicação local, incentivando as pessoas a denunciarem qualquer tentativa de comércio ilegal da ilhoa”, informa o chefe da unidade de conservação.
Saiba mais
A jararaca-ilhoa vive exclusivamente na Arie Ilhas da Queimada Pequena e Queimada Grande. Adaptada à vida arborícola ou semi-arborícola, estima-se que existam cerca de dois mil indivíduos na ilha.
É provável que as serpentes estejam isoladas do continente há mais de dez mil anos, desde o término da última era glacial, época em que o local era um morro continental que ficou isolado com a subida do nível do mar.
A jararaca-ilhoa não tem concorrentes nem predadores importantes e pode sobreviver cerca de seis meses sem comer. Alimenta-se exclusivamente de aves, principalmente as migratórias. Seu veneno tem grande interesse para a pesquisa pois é diferente do veneno da jararaca do continente.
O veneno da ilhoa tem efeito semelhante ao da jararaca do continente nos humanos, porém, a distância e a dificuldade logística para obter tratamento médico faz com que todo desembarque na ilha seja uma operação de alto risco.
De acordo como protocolo de segurança, a cada saída de gestores e pesquisadores até às ilhas, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é notificado. Não há relatos de ataques das cobras a pesquisadores servidores da Arie.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280