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Trilhas de Longo Curso conectam paisagens do Brasil
Publicado em
29/03/2018 14h00
Atualizado em
03/04/2018 14h11
Percursos são atrativos turísticos que desenvolvem a economia local gerando renda e ainda funcionam como estratégia de conservação das espécies.
Danúbia Melo
ascomchicomendes@icmbio.gov.br
Oiapoque ao Chuí caminhando, partiu? O sonho de ligar as unidades de conservação do Brasil através de trilhas de longo curso não surgiu do nada. O sistema nacional de trilhas dos Estados Unidos completou 50 anos e liga mais de 90% das unidades de conservação do país. Outros países como a Alemanha e Portugal também são referência no assunto, e, a partir desses exemplos, a Coordenação Geral de Uso Público e Negócios do ICMBio, juntamente com diversos parceiros, começa a desenvolver a rede nacional de trilhas.
As trilhas de longo curso começaram como um aparelho de recreação e geração de renda para a população local através do potencial turístico. Com o tempo começou a se observar que a fauna também utiliza as trilhas. Dessa forma, atualmente são consideradas também como estratégia de conservação proporcionando a conectividade de paisagem, ou seja, a fauna consegue migrar entre uma área protegida e outra trazendo entre outros benefícios maior variabilidade genética de seus descendentes.
“Esse é o esforço do ICMBio para criar um Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso, no contexto do Programa Conectividade de Paisagens - Corredores Ecológicos, em atendimento à demanda instituída por portaria do Ministério do Meio Ambiente”, afirma Pedro Menezes, coordenador-geral de Uso Público e Negócios do ICMBio.
O Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso prevê, inicialmente, quatro grandes corredores. O Corredor Litorâneo, que ligará o Oiapoque ao Chuí; a Trilha Missão Cruls, que ligará a cidade de Goiás Velho até a Chapada dos Veadeiros; Caminhos do Peabiru, que ligará o Parque Nacional do Iguaçu ao litoral paranaense e a Estrada Real, atualmente percorrida por carros e bicicletas, ganhará também um percurso para os caminhantes.
O traçado dos caminhos que compõem a rede de trilhas não é definitivo. Estão abertos para alterações que se fizerem necessárias ao longo da implementação que é naturalmente lenta por depender do envolvimento de diferentes esferas de governo, proprietários privados e a comunidade em geral.
“A definição do percurso não será feita pelo ICMBio, dentro de um escritório. Nós iremos fomentar, com foco nas nossas áreas, a implementação de caminhos que se encaixem nesse traçado maior. Ele será definido de baixo para cima. Na medida em que as unidades manifestem seu interesse em implementar trilhas no seu perímetro. E o percurso pode mudar, ir melhorando”, afirma Pedro.
“A definição do percurso não será feita pelo ICMBio, dentro de um escritório. Nós iremos fomentar, com foco nas nossas áreas, a implementação de caminhos que se encaixem nesse traçado maior. Ele será definido de baixo para cima. Na medida em que as unidades manifestem seu interesse em implementar trilhas no seu perímetro. E o percurso pode mudar, ir melhorando”, afirma Pedro.
Implementação
A implementação começa pelas unidades de conservação, de todas esferas de governo (federal, estadual e municipal). A trilha é construída já com um planejamento de ligação dos pontos inicial e final com outras UCs da região. O ponto de entrada aponta para a unidade anterior e o ponto de saída aponta para a próxima unidade.
O percurso que liga duas unidades é a chamada “linha tracejada”. As experiências anteriores tanto em outros países quanto no Brasil mostram que existe um movimento natural de pressão dos caminhantes para que as “linhas tracejadas” sejam também implementadas e sinalizadas. Para os proprietários de terras por onde passa essa linha surge uma oportunidade de transformar a área em reserva legal ou área de preservação permanente e ainda gerar renda oferecendo serviços como camping e alimentação para os visitantes.
Sabe-se que poucos são os caminhantes que completam um percurso tão longo de trilhas como o Corredor Litorâneo, com mais de 8 mil quilômetros. Nesse sentido as trilhas são planejadas para serem percorridas em etapas - caminhos menores que fazem parte de um grande percurso.
Exemplos são a Trilha Transcarioca, que passa pelo Parque Nacional da Tijuca (RJ) e os Caminhos da Serra do Mar, que passam pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ); ambas fazem parte do Corredor Litorâneo, estão sinalizadas e já são percorridas pelos caminhantes.
Além de ter a conveniência para o visitante de poder percorrer um caminho inteiro durante um período de férias, essa estratégia traz também um sentimento de pertencimento regional e incentiva o protagonismo dos envolvidos locais para cuidar da sua trilha.
Sinalização padronizada
A pegada amarela sob uma base preta, ou o contrário para indicar o sentido oposto, foi escolhida como a sinalização padrão. A Coordenação Geral de Uso Público do ICMBio realizou várias capacitações em diferentes partes do Brasil compartilhando as técnicas. A sinalização padronizada reforça a característica de rede nacional ao mesmo tempo que permite a personalização de cada caminho regional com suas próprias características. A identidade unificada permite aos visitantes perceber que a trilha faz parte de um sistema maior que contribui para a conservação da natureza no país. Além de sinalizar o percurso para guiar os caminhantes a sinalização pode ser empregada em diversos produtos. Souvenirs para os caminhantes e fonte de renda para a população local.
Aspectos culturais e históricos
Muitas das trilhas de longo curso possuem, além da beleza natural, atrativos culturais e históricos. É o caso da Estrada Real que percorre os caminhos utilizados para escoar ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro no período colonial. O Caminho das Araucárias, que iniciou a sinalização recentemente, percorre a rota dos tropeiros que faziam a comercialização de animais no sul do país nos primórdios do século XVIII.
O objetivo é chamar a atenção do público para a história, resgatar o modo de vida, o modo de viajar e, principalmente, as formas de relacionamento das pessoas da época com o meio ambiente. Essa abordagem inspira os visitantes sobre a responsabilidade de proteger nosso patrimônio natural.
Participação Social
A participação da sociedade nesse processo é muito importante. Desde a pressão para implementação de “linhas tracejadas” nos percursos, passando pelos mutirões de voluntários para sinalizar e estruturar as trilhas e finalmente na construção de grupos que trabalham na manutenção dos caminhos.
“Poder ajudar a cuidar de uma riqueza tão esplêndida, que é a natureza, e saber que isso é de todos, se torna algo extremamente gratificante. É a oportunidade que nós, sociedade, temos para colaborar. É uma sensação de dever cumprido, como um chamado!”, relata Gabriela Naibo, voluntária do Parque Nacional das Araucárias (SC).
"É importante a comunidade entender que as trilhas são uma conquista e um direito seu. Funcionam como equipamento de recreação, oportunidade de geração de renda e estratégia para conservação das espécies, essa consciência transforma os cidadãos em protagonistas e guardiões das trilhas", finaliza Pedro Menezes.
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Corredor Litorâneo
Mais de 8.000 km passando por mais de 100 unidades de conservação federais, estaduais, municipais e privadas ao longo da costa brasileira.
Percursos:
- Caminho das Araucárias (Florestas Nacionais de Canela e de São Francisco de Paula, Parques Nacionais de Aparados da Serra, Serra Geral e São Joaquim)
- Transmantiqueira (Parque Nacional do Itatiaia, APA da Serra da Mantiqueira, Parques Estaduais da Pedra Selada, da Serra do Papagaio e de Campos do Jordão, Monumento Natural Estadual da Pedra do Bau e Monumento Natural Municipal da Pedra do Picu)
- Trilha Transcarioca (Parque Nacional da Tijuca, Parque Natural Municipal de Grumari, Parque Estadual da Pedra Branca)
- Caminhos da Serra do Mar (Parque Nacional da Serra dos Órgãos)
- Rota do Descobrimento (Parques Nacionais do Pau Brasil e do Monte Pascoal)
- Rota das Emoções (Parques Nacionais de Jericoacoara e Lençóis Maranhenses)
Trilha Missão Cruls
O traçado de 600 km seguirá o caminho percorrido por Luiz Cruls em 1892, quando liderou uma expedição para estudar o Planalto Central e delimitar a área onde seria construída Brasília. O percurso de 136 km já sinalizado no Distrito Federal também pode ser percorrido de bicicleta.
Percursos:
- Caminho de Cora Coralina (Parques Estaduais da Serra dos Pirineus, Serra Dourada e Serra de Jaraguá)
- Trilha União + Circuito Flona + Circuito Serrinha do Paranoá (Parque Nacional de Brasília, Floresta Nacional de Brasília e Área de Proteção Ambiental do Planalto Central)
- Travessia das Sete Quedas (Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros)
Caminhos do Peabiru
Cerca de 1.000 km seguindo o caminho histórico dos índios Guarani que ligava o Atlântico aos Andes. Áreas núcleo: Parque Nacional do Iguaçu, Estação Ecológica da Mata Preta, Parques Nacionais das Araucárias, Guaricana, Saint-Hilaire/Lange, Florestas Nacionais de Três Barras e Assungui, entre outros
Estrada Real
Mais de 1.700 km de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo seguindo o caminho histórico oficializado pela Coroa Portuguesa no século XVII. Áreas núcleo: Parques Nacionais das Sempre Vivas, Serra do Cipó, Itatiaia e Serra da Bocaina. Saiba mais
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Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280