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O impressionante ritual das tartarugas marinhas
Em plena temporada de reprodução, fêmeas de quatro das cinco espécies que ocorrem no litoral brasileiro voltam às praias onde nasceram para desovar, numa incessante renovação da vida
Sandra Tavares
sandra.tavares@icmbio.gov.br
Brasília (09/11/17) - A simbologia dela é mais do que nobre: suporte do mundo, garantia de estabilidade, conhecimento, concentração, sabedoria e paciência. Seu corpo, formado pela parte que toca o chão e o casco, remete a divindades tanto no Oriente quanto Ocidente, pois entre a cúpula e a superfície plana de sua carapaça, a tartaruga é vista como mediadora entre o céu e a terra, significando ainda nutrição, proteção e até cura.
Mais nobre ainda é o ritual que se repete todos os anos, quando as fêmeas escolhem retornar sempre para as mesmas praias de desova onde elas nasceram. Tecnicamente esse eterno retorno se chama temporada reprodutiva e ocorre principalmente de setembro a março em todo o litoral brasileiro, quando as praias são visitadas por quatro das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no país.
Apenas uma delas (a tartaruga-verde) escolhe as ilhas oceânicas e o período de dezembro a julho de cada ano para desovar. Um verdadeiro milagre da natureza e de sua constante renovação. A lógica que as guia parece ser a de que ‘se serviu pra mim, servirá pra meus filhos’, como uma espécie de ‘certeza’ de que ela está depositando seus ninhos em um lugar favorável, ou seja, na mesma praia onde ela veio ao mundo.
Assim que nascem, os filhotes começam uma luta pela vida, seguindo em direção ao mar, orientados pelo campo magnético do planeta, como uma espécie de bússola que as fazem encontrar o mar quando estão em praias escuras. Esta mesma bussola as trará de volta quando adultas.
Em função de inúmeras ameaças, apenas uma pequena parcela consegue chegar à idade adulta. Entre elas estão a predação natural por outros animais, a erosão de praias, o trânsito de pessoas e veículos, a predação por animais domésticos, a fotopoluição causada por eventos, avenidas ou calçadões a beira mar ou empreendimentos marinho-costeiros, como portos. A iluminação artificial além de desorientar os filhotes, que podem morrer por desidratação, pode espantar as mães que estão prestes a desovar.
Problemas como o lixo na areia atrapalham as fêmeas, que querem construir os ninhos, assim como desorientam os filhotes que precisam chegar ao mar; fora que no mar o lixo é confundido como alimento e pode ser engolido por engano, podendo matar indivíduos.
Mas, a maior ameaça é a captura incidental pela pesca de espinhel e rede de espera. “Tem sido nosso foco e alvo de nosso trabalho. Acreditamos que a Portaria Interministerial 74/2017, que regulamenta o uso de anzol circular e outras ferramentas, publicada recentemente virá sanar parte dessa pesca incidental, mas é claro que a norma precisará ser cumprida pelos pescadores, em todo o litoral brasileiro. Acreditamos que o uso do anzol circular minimizará em parte esse impacto, uma vez que o pescador continuará pescando seus peixes, diminuindo a pesca incidental das tartarugas marinhas”, afirma Nilamon Leite, oceanógrafo do Tamar/ICMBio e especialista em pesca.
Foz do Rio Doce
E é na região da foz do rio Doce que uma dessas espécies encontra destino certo. Trata-se da tartaruga-gigante (Dermochelys coriacea), cuja população está entre as mais ameaçadas de extinção do mundo. Regência e Povoaçao, em Linhares-ES, são consideradas as principais e mais importantes áreas de desovas de tartarugas marinhas do Brasil.
“Todos os anos o espetáculo se repete, envolvendo um trabalho árduo de todos da equipe TAMAR”, explica Cecília Baptistotte, analista ambiental e veterinária do Centro Tamar/ICMBio .
Todas as espécies de tartarugas estão classificadas como ameaçadas de extinção, em diferentes categorias que variam de Vulneráveis a Extremamente Ameaçadas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e a lista brasileira de espécies ameaçadas.
Turismo de observação
É comum nesta época do ano moradores e turistas se interessarem pela observação das tartarugas marinhas que procuram as praias para desovar. Um outro momento que se desdobra deste, e que tem público cativo, é quando chega época da eclosão dos ninhos e os filhotes se dirigem ao mar. Adultos e crianças se encantam com esses pequenos heróis, que enfrentam uma série de ameaças para garantir a manutenção de suas vidas.
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