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Simpósio na UFScar discute Cerrado e fogo
Experiência de manejo integrado na Esec Serra Geral do Tocantins, gerida pelo ICMBio entre Tocantins e Bahia, foi apresentada como iniciativa de sucesso em UCs que protegem ecossistemas savânicos
Brasília (14/09/2017) – O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversiade (ICMBio) participou, na segunda-feira (11), Dia do Cerrado, e na terça-feira (12), na Universidade Federal de São Carlos (UFScar), em São Paulo, do Simpósio “Cerrado: manejo e conservação das fisionomias abertas”. Organizado pela UFSCar e pelo Instituto de Florestas de São Paulo (IF-SP), o evento discutiu restauração, controle e erradicação de espécies exóticas invasoras e manejo de fauna nas fisionomias campestres do Cerrado paulista, sendo o fogo um assunto transversal aos temas.
Representando o ICMBio, a analista da Estação Ecológica (Esec) Serra Geral do Tocantins (TO/BA) Carol Barradas participou ao lado de Vânia Pivello, da Universidade de São Paulo (USP), e de Alessandra Fidelis, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp Rio Claro), de mesa-redonda na qual foi discutida a importância do manejo do fogo em unidades de conservação no Cerrado para proteção da biodiversidade.
Segundo Carol, a experiência de manejo integrado do fogo na Esec Serra Geral do Tocantins foi apresentada no simpósio como uma iniciativa de sucesso na gestão do fogo em unidades de conservação que protegem ecossistemas savânicos. Os participantes do evento foram levados a refletir sobre a necessidade de mudar paradigmas de conservação no sentido de substituir a política de fogo zero por uma abordagem mais moderna e eficiente na conservação das paisagens abertas de Cerrado.
Ao final de dois dias de intensas discussões, ficou claro para palestrantes, debatedores e público em geral que os ecossistemas campestres do Cerrado paulista, especialmente da Estação Ecológica de Itirapina (UC estadual/SP), estão ameaçados pela exclusão do fogo. Como encaminhamento do simpósio, foi definido que é emergencial a necessidade de se dar início a um planejamento de gestão voltado para o manejo do fogo na UC com vistas à proteção da biodiversidade campestre, o controle de gramíneas exóticas e a reabilitação da fauna nativa.
O encontro também propiciou o estabelecimento de parcerias entre pesquisadores das universidades paulistas e a Esec Serra Geral do Tocantins. Márcio Martins, da USP, disse que pretende desenvolver projeto para monitoramento de respostas da herpetofauna (répteis e anfíbios) sob diferentes regimes de fogo. Já Swanni Alvarado, da Unesp, afirmou que buscará fazer o mapeamento histórico de áreas queimadas na UC federal com técnicas de georeferenciamento.
Atualmente, existem pelo menos nove projetos científicos acompanhando o manejo do fogo na Eesc Serra Geral do Tocantins. “Afinal, o manejo adaptativo do fogo precisa vir conciliado com a realização de pesquisas para melhor modelagem das prescrições de queima, redirecionamento e aperfeiçoamento de tomadas de decisão”, destacou Carol Barradas.
Ainda de acordo com ela, o Cerrado, como toda savana tropical, depende do fogo para manutenção dos seus ecossistemas, processos ecológicos e serviços ecossistêmicos. Porém, ressaltou a analista, assim como a exclusão do fogo compromete a proteção do bioma, os grandes e recorrentes incêndios no final da estação também podem afetar sua capacidade de resiliência. “Promover pirodiversidade por meio do manejo do fogo tem se mostrado uma forma eficiente de equilibrar a 'dose' de fogo que garante a conservação da biodiversidade do Cerrado e das demais savanas tropicais mundo afora”, acrescentou Carol.
Durante a estação seca é comum que a ocorrência de fogo na savana brasileira seja vinculada a episódios catastróficos e destrutivos, com grande repercussão na mídia nacional. “Porém, nem todo fogo é maléfico. Várias pesquisas comprovam que o fogo é um elemento ecológico fundamental para manutenção da biodiversidade e dos processos ecológicos do bioma Cerrado”, reforçou a analista da Esec Serra Geral de Tocantins.
O palestrante Marcelo Simon, da Embrapa/Cenargen, especialista em botânica e evolução, apresentou no Simpósio evidências filogenéticas de como as espécies do Cerrado evoluíram para se adaptar à passagem do fogo. Complementarmente, a pesquisadora Giselda Durigan, do IF-SP, apresentou dados alarmantes de perda de biodiversidade associada ao adensamento arbóreo de áreas campestres nativas pela falta de fogo.
Comunicação ICMBio – (61) 2028-9280 – com informações da Esec Serra Geral do Tocantins