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sauim-vermelho é redescoberto na Amazônia
Espécie não era localizada há mais de 50 anos
Espécie não era localizada há mais de 50 anos
Nara Souto
nara.souto@icmbio.gov.br
Cabedelo (13/03/2015) — Durante expedições científicas, realizadas entre 2011 e 2014 no estado do Amazonas, o pesquisador Ricardo Sampaio descobriu vários grupos de sauins – espécie de primata amazônico – com cor diferenciada, mais avermelhada do que a das espécies vizinhas.
Os animais foram identificados na Floresta Nacional do Purus e na Reserva Extrativista Arapixi, Unidades de Conservação (UC) federais administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no Amazonas. Sampaio é analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do ICMBio.
Pesquisadores concluíram que se tratava de uma espécie praticamente esquecida pela ciência por mais de 50 anos: o sauim-vermelho (Leontocebus cruzlimai). Participaram da investigação, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e da Organização Não Governamental (ONG) Conservation International. O resultado desta pesquisa acaba de ser publicada na edição de fevereiro da Primates, uma das revistas mais conceituadas do mundo na área de primatologia.
A redescoberta aumenta o total de espécies de primatas reconhecidas no Brasil para 145, tornando o país campeão mundial em diversidade deste grupo animal. Segundo o biólogo Leandro Jerusalinsky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) do ICMBio, "esta redescoberta reforça a enorme diversidade de primatas que temos no Brasil e evidencia o quanto ainda temos que pesquisar para conhecer plenamente esta riqueza, até para poder proteger adequadamente todas essas espécies" explica.
Breve histórico
No início do século XX, o naturalista suíço-alemão Emilie Goeldi coletou um sauim-vermelho no alto rio Purus, localizado na região amazônica. Ele não percebeu que se tratava de uma espécie nova e o classificou como sendo de uma espécie já descrita.
Em 1945, o naturalista paraense Eládio da Cruz Lima, então curador do MPEG, publicou o importante livro Mamíferos da Amazônia, contendo uma ilustração daquele sauim-vermelho coletado por Goeldi. No entanto, as amostras (peles e ossos) daqueles sauins-vermelhos haviam se perdido.
Na década de 1960, mastozoólogo americano Philip Hershkovitz publicou um amplo trabalho de revisão sobre todos os sauins, indicando que aquela ilustração no livro de Cruz Lima era um tipo de sauim ainda não conhecido pela ciência. Em homenagem a Cruz Lima e seguindo a classificação científica vigente à época, Hershkovitz deu o nome científico de Saguinus fuscicollis cruzlimai para estes sauins.
Nova espécie
Por mais de 50 anos ninguém conseguiu encontrar esse animal, até que Ricardo Sampaio, coordenando inventários do projeto Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia (PUCA), conseguiu realizar estes registros no sudoeste do estado do Amazonas.
O pesquisador coletou dados da história natural e amostras biológicas destes animais e confirmou que se tratava do sauim-vermelho. Além de realizar uma descrição mais detalhada sobre a morfologia e a história natural desses sauins, o grupo de pesquisadores concluiu que se tratava de uma espécie plena, e não de uma subespécie como ela tinha sido previamente descrita. Com a publicação do artigo científico , o sauim-vermelho passa a ser classificado cientificamente como Leontocebus cruzlimai.
O sauim-vermelho
A espécie redescoberta ocorre entre os rios Juruá e Purus, na Floresta Nacional do Purus e a Reserva Extrativista Arapixi, localizadas, respectivamente, nos municípios de Pauini e Boca do Acre, no estado do Amazonas.
A sua pelagem distingue-se dos demais sauins por possuir uma coloração avermelhado-laranja na região das pernas, ombros, braços e cabeça. A cauda, pés e mãos são pretos e, como todos os sauins deste tipo, possui três faixas de cores nas costas.