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Reserva Extrativista do Médio Juruá realiza manejo do Pirarucu
Vinte e um pescadores da comunidade do São Raimundo participaram do manejo
Brasília (30/09/2011) - No dia 17 de setembro, o primeiro de uma série de 168 pirarucus foi retirado do lago do Manariã, na comunidade do São Raimundo na Reserva Extrativista do Médio Juruá. A despesca realizada por 21 pescadores da comunidade durante os três dias que se seguiram é parte do manejo do pirarucu promovido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pela Associação dos Moradores Extrativistas da Comunidade de São Raimundo (AMECSARA), com o apoio do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) e da Secretaria Municipal de Produção Rural.
Apesar de proibida em todo o estado do Amazonas, a despesca do pirarucu é permitida em terras indígenas, reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável de acordo com normas de manejo. Além de ter contribuído para geração de renda dos moradores, a atividade serviu para fortalecer a organização dos extrativistas e os conhecimentos de que usar os recursos de forma racional pode gerar benefícios para as comunidades.
A chefe da Reserva Extrativista Médio Juruá, Rosi Batista, faz uma retrospectiva dos fatos que levaram ao manejo do pirarucu na unidade de conservação. “O sucesso do manejo do pirarucu é fruto do trabalho que iniciamos na época do CNPT. Quando tínhamos um grupo no estado que pensava nas reservas extrativistas de forma conjunta. Nós já idealizamos a possibilidade de fazer essa atividade dar certo aqui. Começamos nas reservas extrativistas do Auati-Paraná, Rio Jutaí, Baixo Juruá, mas sentíamos que tínhamos uma lacuna por não conseguir fazer isso dar certo aqui na Resex do Médio Juruá. Hoje eu sinto que estávamos no caminho certo. Sinto uma enorme sensação de realização”, destacou Rosi.
Numa perspectiva mais longa, Elson Pacheco, vice presidente da Associação de Produtores Rurais de Carauari, e um dos demandantes para a criação da reserva extrativista faz uma análise da importância do fato. Segundo ele, o que era idealizado quando foi solicitada a criação da reserva extrativista era a a garantia da terra, geração de renda e a conservação dos recursos naturais. Elson explica que se não fosse a existência da unidade de conservação, a população não teria mais terra, dinheiro e peixe para comer em Carauari.
Estudantes do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do campus avançado da Universidade Estadual do Amazonas no município de Carauari e egressos do curso técnico florestal do Instituto Federal do Amazonas participaram da contagem, despesca e comercialização do pescado. A experiência representou uma oportunidade de associar o conhecimento teórico com uma atividade prática de manejo. “Para nós, essa iniciativa do ICMBio é importante por criar oportunidade para que em um futuro próximo essas unidades possam ser geridas por profissionais locais e com uma compreensão melhor da realidade de Carauari. Além de assegurar a continuidade das ações do Instituto”, explicou Givanildo Freitas da Silva, estudante do curso de Gestão Ambiental.
Despesca na Resex
Na Resex do Médio Juruá, seguindo a prática tradicionalmente realizada por pescadores da regiao do Médio Solimões e sistematizada por técnicos da Reserva de Desenvolvimento Sustentavel Mamiraua, os moradores vêm realizando contagens anuais nos lagos localizados dentro dos limites da unidade de conservação desde 2005.
Ao longo dos anos, as variações do estoque pesqueiro de cada uma das áreas foram monitoradas e discutidas entre os moradores. O aumento no número de peixes através da proteção dos lagos foi uma importante condicionante para permitir a pesca da espécie nas áreas manejadas. Como houve um incremento no número de indivíduos, a comunidade apresentou uma demanda ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade para despesca de 30% do estoque levantado.
Ainda que a demanda pela comercialização dos recursos naturais da reserva extrativista pareça uma opção lógica para atores externos, a experiência da comunidade de São Raimundo aponta para uma relação muito mais complexa na tomada de decisão quanto ao uso dos recursos destinados ao consumo e venda.
Manuel Cunha, presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros e morador da reserva extrativista do Médio Juruá, explica como o processo ocorreu na comunidade. “No começo havia uma resistência muito grande de certas famílias. Tradicionalmente somos seringueiros, não somos pescadores. Além disso, por conta das invasões de lagos, a pesca para venda sempre significou destruição. As pessoas estavam muito receosas. Isso mudou quando alguns moradores da comunidade foram conhecer experiências com manejo de peixes em outras reservas extrativistas e relataram o que viram por lá para outros comunitários. A partir daí a comunidade resolveu experimentar”, disse Manuel.
Comercialização
Após a despesca e transporte, o pescado foi todo comercializado na sede do município de Carauari. A decisão foi tomada pela AMECSARA e teve como objetivo permitir que os associados vivessem uma experiência de comercialização da produção extrativista em uma escala menor diante de um mercado menos exigente e no qual a venda estivesse assegurada.
Um segundo objetivo foi permitir com que a comunidade pudessem ter acesso aos recursos produzidos na reserva extrativista e percebesse que ter uma unidade de conservação no município traz benefícios não apenas para os usuários diretos, mas para toda a população. “As pessoas reagiam com espanto ao nos ver vendendo pirarucu com o apoio do pessoal do ICMBio. Tivemos que explicar muitas vezes o que é manejo. Muita gente nem sabia que era possível fazer manejo dentro de uma reserva extrativista. Eles achavam que a unidade de conservação era só para ser guardada”, esclarece José Maic Ferreira de Menezes, presidente da AMECSARA.
O manejo e comercialização do pescado no município estabelece uma mudança nas relações entre os moradores da região e as comunidades ribeirinhas. “Os seringueiros nunca foram vistos como atores sociais relevantes no âmbito municipal. Seringalistas e seringueiros ocupam as mesmas posições que ocupavam a vinte anos atrás e há pouca mobilidade social e política. A comercialização de um produto como o pirarucu no município confere capacidade para determinar uma nova dinâmica. Ouvir uma liderança dizer que independente de quem seja, todos que quiserem comprar pirarucu devem ir para fila, é emblemático”, diz Leonardo Pacheco, analista ambiental do ICMBio.
Uma parte do peixe vendido no município foi para comerciantes locais, mas a quantidade maior do pescado foi vendida em uma feira montada na praça central. A AMECSARA também limitou a quantidade de peixe a ser vendido por pessoa a cinco quilos para evitar que poucas pessoas comprassem toda a produção de 13 toneladas. O preço estabelecido pela associação foi 25% inferior ao preço do pirarucu ilegalmente comercializado em Carauari como uma forma de desestimular a compra da pesca ilegal. Além dos danos ambientais, o pirarucu comercializado ilegalmente é transportado e armazenado em condições sanitárias que o tornam impróprias para o consumo.
Ascom ICMBio
(61) 3341-9280