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Regência avalia ações de recuperação do rio Doce
Durante debate em mostra de filmes organizada pelo Tamar e parceiros, participantes cobram mais agilidade no enfrentamento dos impactos causados pela lama da Samarco
Sandra Tavares
sandra.tavares@icmbio.gov.br
Regência (28/11/16) – “Podemos afirmar que as estruturas hoje estão seguras. O trabalho de fiscalização é feito por quatro empresas diferentes, e duas delas se reportam diretamente ao Ministério Público”, disse o representante da
Fundação Renova
, Allan Suhett, ao apresentar aos participantes do I DOC Regência – Mostra de documentários sobre o rio Doce, um resumo das ações executadas na barragem da Samarco, em Mariana, e em áreas atingidas pelo acidente ocorrido há um ano.
Encerrada no domingo (27), a mostra, além de exibir filmes, promoveu debates, como o realizado na sexta (25), entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação Renova, criada para mitigar os impactos causados pelo rompimento da barragem, considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil e um dos maiores do mundo. O tema foi Mitigação dos impactos da lama sobre o rio Doce e o mar.
Para uma plateia formada por moradores da Vila de Regência, em Linhares (ES), convidados e visitantes, o representante da Fundação Renova detalhou o Plano de Recuperação Ambiental Integrado (Prai), que, entre outras coisas, está focado na estabilização e recuperação das estruturas desde o rompimento da barragem.
Candonga
Segundo ele, a dragagem que está sendo feita em Candonga (Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, na cidade de Ponte Alta, entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, Zona da Mata mineira, também atingida pela lama da barragem de Fundão) tem prazo para terminar em julho de 2017 e houve atrasos. “Já foram revegetados 800 hectares impactados, bem como recuperados os primeiros rios afluentes. Ao todo esperamos recuperar 82 rios afluentes”, frisou Allan Suhett.
Ainda segundo ele, as próximas etapas envolverão a implantação de vegetação mais definitiva e recuperação das atividades de agricultura praticadas pelos pequenos proprietários rurais. “Estamos considerando, para esse período chuvoso que se aproxima, focar em 16 áreas consideradas prioritárias para recuperação, por meio de um plano de ações, envolvendo as prefeituras, comunidades, defesa civil e órgãos ambientais” explicou Suhett.
A entidade terá sede em Belo Horizonte e escritórios em Mariana (MG), Governador Valadares (MG) e Linhares (ES). Quaisquer eventos relacionados ao desastre devem ser comunicados por meio do telefone 0800 0312303. Bases de comunicação estão sendo implantadas, sendo que uma ficará sediada em Regência, distrito de Linhares.
Alterações profundas
Para o coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste (Centro Tamar/ICMBio), João Carlos Alciati Thomé (Joca), as mudanças e alterações são profundas e o impacto é sem precedentes na história do Brasil e no mundo, seja no mar ou terra, e não se restringe apenas à foz do rio Doce.
“Não se tem como saber o comportamento desta pluma de sedimentos no mar e quais as transformações que estão ocorrendo. Passado um ano daquele dia ainda estamos vivendo o evento em si, pois ele não acabou, como nos mostram os índices de turbidez da água do rio Doce novamente altos”, frisou Joca.
Segundo ele, mais do que refletir sobre toda essa desestruturação ocorrida nas comunidades atingidas, o momento é de olhar para frente. “Deixemos para a Justiça elencar os culpados, e vamos nós, órgãos públicos, sociedade e Fundação criada com a finalidade de mitigar esse impacto darmos as mãos e continuar o trabalho que tem que ser feito” destacou ele.
Joca frisou que a Fundação Renova está com atrasos por inúmeros fatores, seja pelo próprio ineditismo de um acidente como este, seja pelas chuvas, entre outros. “No que se refere à conservação da biodiversidade, o oxigênio no rio chegou a zero, com mortes expressivas de peixes, mas já se começa a ver um movimento de vida no rio. Só sabemos que vai levar um tempo pra construirmos o futuro, ou seja, um novo cenário. É um desastre sem precedentes e não há soluções rápidas e imediatas. Elas terão que ser construídas ao longo do tempo”, afirmou o coordenador do Tamar/ICMBio durante o debate.
Reivindicações
Para a professora Luciana de Oliveira, da comunidade de Regência Augusta, o que mais marcou dos vídeos e reportagens assistidos na sexta-feira foi a frase “precisamos cuidar para que esse processo não se transforme em uma colcha de retalhos”. Na sua opinião, entretanto, isso já ocorreu.
“As ações estão sendo feitas a passos curtos, pois a comunidade tirava muita coisa do rio: o sustento, o lazer, o direito de comer um peixe ou de tomar um banho no rio. A relação era sinestésica. E para isso não há cartão da Samarco que pague. Queremos ações concretas e logo”, reivindicou ela.
Allan Suhett, da Fundação Renova, reconheceu que tudo que for feito não será suficiente diante do ocorrido. “Candonga continua sendo considerada área prioritária, mas, se formos olhar como está o nível de turbidez do rio, já está menor do que estava há um ano. Tanto que já conseguimos reconstituir as 500 primeiras nascentes, em parceria com o Instituto Terra, mas sabemos que, como esse evento, não houve precedentes”, afirmou Suhett.
Sérgio Mileipe, gerente de projetos da Fundação Renova no Espirito Santo também reconhece o impacto no rio e na vida das pessoas e vê muito trabalho a ser feito. “A criação da Fundação Renova já é uma resposta, pois a partir de sua criação haverá a implantação de programas, projetos e serviços da ordem de bilhoes para responder a esse impacto. Estamos aqui no caráter de prestação de contas. E queremos trabalhar junto com comunidades, órgãos públicos e ampliar o diálogo”, disse ele.
Durante o debate, um morador de Povoação, de nome Rogério, pediu de forma enfática a Fundação Renova e órgãos públicos para que visitem a localidade que fica ao norte da foz do rio Doce e conversem com a comunidade. No entendimento dele, Regência tem recebido mais atenção, por ser conhecida.
Allan Suhett disse que levará a reivindicação ao gerente-executivo de programas socioeconômicos da Fundação Renova, José Luiz Santiago. Joca explicou que uma das Câmaras Técnicas é do Diálogo e Comunicação. Eles ficaram de agendar encontro com as lideranças de Povoação para atualizar as informações.
A mostra
O I DOC Regência – Mostra de documentários foi aberta no dia 20 e seguiu até o domingo passado (27), na Vila de Regência, em Linhares, na região da foz do rio Doce, no litoral do Espírito Santo. Organizada pelo Tamar/ICMBio, Fundação Pró-Tamar, Interferências Filmes e Associação de Moradores de Regência (Amor), o evento teve o objetivo de suscitar discussão sobre a tragédia de Mariana por meio da exibição de filmes e debates com a comunidade, convidados e visitantes.
Comunicação ICMBio – (61) 2028-9280 – com Ascom do Centro Tamar/ICMBio – (27) 3222-1417