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Puxirum de Saberes reúne gestores, acadêmicos, pesquisadores, povos e comunidades tradicionais em Santarém/PA
Puxirum de Saberes - Foto: Júnior Albuquerque
O campus Tapajós da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém, foi palco do evento Puxirum de Saberes, com seminários de pesquisa organizados pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), através da Flona do Tapajós e Resex Tapajós-Arapiuns, entre os dias 22 e 26 de abril. O evento reuniu pesquisadores, representantes de comunidades tradicionais das duas unidades de conservação, servidores do Instituto e outros órgãos públicos e instituições locais.
Os Seminários IV de Pesquisa Científica da Floresta Nacional do Tapajós e II da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns foram realizados nesta edição especial, que coincidiu com os 25 anos da Resex Tapajós-Arapiuns e os 50 anos da Flona do Tapajós. A comunidade científica, incluindo professores, pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, apresentou resultados de suas pesquisas nas unidades de conservação, enquanto os povos e comunidades tradicionais, juntamente com outros profissionais, compartilharam suas experiências técnicas e populares, promovendo a integração e a troca de conhecimentos.
Ao longo dos cinco dias de evento aconteceram cinco mesas redondas, onze minicursos, apresentações de trabalhos científicos e relatos de experiências técnicas e populares feitos nas unidades de conservação, visitas técnicas à Flona do Tapajós, ao ZooUnama e ao Museu de Ciência da Amazônia (MUCA), além de promover a vinda dos alunos e professores da Escola Municipal Santa Filomena da comunidade de Prainha I, ganhadora da I Gincana de Integração da Flona do Tapajós.
As mesas redondas discutiram os seguintes temas:
“Cadeias produtivas e Agricultura Familiar: casos de sucesso e desafios da Flona e Resex” (Dr. Everton Cristo de Almeida-UFOPA, Dr. Lucas José Mazzei de Freitas-Embrapa, Maura Siqueira Chaves-EMATER/PA com mediação de José Risonei de Assis da Silva, chefe da Flona Tapajós/ICMBio);
“Mudanças climáticas: alternativas e perspectivas para um território em transformação” (M.Sc Jéssica Anastácia Medeiros dos Reis-Instituto Iniciativa Amazônica, M. Sc. Alcilene Magalhães Cardoso-IPAM, Dra. Liana Oighenstein Anderson-CEMADEN, Dra. Débora Reis de Carvalho-Lancaster University, M. Sc. Bianca Thais Zorzi Tizianel-CMIF/ICMBio com moderação do Dr. Everton Cristo de Almeida-UFOPA);
“O essencial é invisível aos olhos: Territorialidade, Cultura e Qualidade de vida” (Dr. Itamar Rodrigues Paulino-UFOPA, Dr. Florêncio Almeida Vaz Filho-UFOPA, Dr. Thiago Almeida Vieira-UFOPA, Dr. James Ferreira Miora Júnior-UNILAB, com moderação da M. Sc. Alcilene Magalhães Cardoso-IPAM);
“Empreender na Amazônia: valorizando a sociobiodiversidade” (M. Sc. Mariene Chaves-AMPRAVAT/CUTUPI, Marcilene da Silva Costa-Amélias da Amazônia, Ingrid Godinho-Turiarte Amazônia, Arimar Feitosa Rodrigues-Movelaria Anambé/Coomflona, com mediação da Dra. Joice Nunes Ferreira-EMBRAPA);
“Justiça Ambiental: Um olhar profundo para realidade da implementação de políticas públicas na Amazônia” (Dra. Heloisa do Nascimento de Moura Meneses-UFOPA, Jussara Vanessa Salgado Batista-Projeto Saúde e Alegria, Dr. João Paulo Soares de Cortes-UFOPA, Maurício Mazzotti Santameria-Resex Tapajós-Arapiuns/ICMBio, com mediação da Dra. Amanda Estefânia de Melo Ferreira-UFOPA).
Nos dias 24 e 25 foram ministrados minicursos e visitas técnicas, como o minicurso de “Técnicas para manejar abelhas sem ferrão”, “Monitoramento da Biodiversidade, protocolo básico do Programa Monitora”, “Produção de peixes em tanques” entre outros.
No último dia do evento, uma roda de conversa tratou do tema “Emergência Ambiental: efeitos do El Niño na Resex Tapajós-Arapiuns e Flona do Tapajós”. Os debatedores foram João Paulo Morita-CMIF/ICMBio, Daniel Gutierrez Govino-Brigada Voluntária de Alter do Chão, Tainan Kumaruara-Brigada Voluntária Guardiões do Território Kumaruara, Antônio Godinho-Brigada Voluntária de Anã, Dra. Joice Nunes Ferreira-EMBRAPA, Dra. Érika Berenger-Universidades de Oxford e Lancaster e RAS, Paolla Bianca Santos Coelho-Flona do Tapajós e mediação do Dr. Thiago da Costa Dias-Resex Tapajós-Arapiuns/ICMBio, abordaram os efeitos do fenômeno climático e a atuação das entidades diante da emergência.
Para o Coordenador de Manejo Integrado do Fogo do Instituto Chico Mendes, João Morita, “o Puxirum de Saberes foi uma grande oportunidade de reunir gestores, beneficiários das UCs, pesquisadores e estudantes locais para socializar informações sobre as ações de prevenção e combate a incêndios realizadas no território nos últimos anos e assim tirar lições aprendidas que serão de grande valia para o enfrentamento dos desafios das mudanças climáticas, associadas a maior ocorrência de incêndios, para esta e as próximas temporadas.”
O El Ninõ atingiu a Flona e a Resex de forma severa em 2023, com ocorrências de incêndios florestais e consequências como a perda da produção dos roçados tradicionais afetados pela falta de chuva, a ponto de comunitários relatarem na roda de conversa que não há mandioca disponível para a produção de farinha, o que deve afetar a segurança alimentar e a renda de ribeirinhos e indígenas das UCs neste e no próximo ano, uma vez que não será possível produzir farinha, base da alimentação e um dos principais produtos comerciais produzidos pelas comunidades.
Lideranças dos povos tradicionais também exigiram apoio às cadeias produtivas da biodiversidade, assistência técnica e infraestrutura para a produção local, apontando que não querem depender de medidas paliativas como as entregas de cestas básicas que ocorreram durante o período da seca, e que continuam acontecendo na tentativa de mitigar os impactos da crise climática na região.
Foi lançado no evento, o documentário de curta-metragem “Heróis do Fogo: a luta dos brigadistas na Amazônia” produzido pelas pesquisadoras Dra. Erika Berenguer e Dra. Joice Nunes da Rede Amazônia Sustentável – RAS que acompanharam o combate aos incêndios florestais na Floresta Nacional do Tapajós no ano de 2023. O curta está disponível no YouTube no canal da RAS.
Paralelamente, os alunos da escola Santa Filomena da comunidade de Prainha I, Flona do Tapajós, realizaram visitas guiadas pelos laboratórios da Universidade para conhecerem o mundo acadêmico, como forma de almejarem ocupar esses espaços também.
Encerramento cultural
O encerramento contou com a apresentação teatral que retratou o episódio do encalhe de uma baleia-minke no Rio Tapajós ocorrido em 2007, protagonizada pelos alunos da Escola Santa Filomena, improviso de rap sobre uso do fogo nos roçados, por crianças e adolescentes de comunidade das UCs, e a premiação da escola vencedora da Gincana da Flona do Tapajós com publicações e um notebook fornecido pela The Nature Conservancy do Brasil - TNC (a premiação da escola vencedora na Resex foi adiada devido à professora responsável ter sofrido um acidente com uma serpente). Os autores dos melhores trabalhos apresentados durante o Puxirum também foram homenageados.
Após a cerimônia, foi servido um café regional, pela Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra - AMABELA e apresentações musicais com o DJ Zek Picoteiro e a Banda Caldo de Piranha.
O Puxirum de Saberes é realizado a cada três anos, e esta edição é a primeira após a pandemia de COVID19, a última havia ocorrido em 2017. O evento foi produzido pelo ICMBio, UFOPA, EMBRAPA, IPAM, EMATER/PA e RAS, com apoio da Fapespa, TNC, COOMFLONA, University of Bristol e Programa ARPA.
O analista ambiental e chefe substituto da Flona do Tapajós, Bruno Delano, conta que o evento teria acontecido em dezembro de 2023, mas teve que ser adiado para 2024 devido à priorização da gestão ao combate dos efeitos do El Niño, potencializado pelas mudanças climáticas que afetaram muito as unidades de conservação e suas comunidades.
Delano avalia que o objetivo do evento foi alcançado, “puxirum é um termo local para trabalho em mutirão, troca, intercâmbio, o evento conseguiu promover essa troca. Os moradores da UC puderam não apenas entender o que é produzido nos territórios em termos de conhecimento científico como puderam mostrar suas experiências, cobrar pesquisas de interesse e o retorno das pesquisas feitas no território não apenas como devolutivas, mas como uma construção que passe pela participação das comunidades desde a concepção dos problemas de pesquisa. Foi um momento de avaliação e de preparação para novas crises, que pelas previsões serão cada vez mais frequentes.”
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados:
Com informações da Flona do Tapajós, Resex Tapajós-Arapiuns e Universidade Federal do Oeste do Pará
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