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Projeto dissemina educação ambiental no Amapá
Biodiversidade nas costas chega a escolas do entorno do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque
Sandra Tavares
sandra.tavares@icmbio.gov.br
Brasília (20/05/2016) – Imagine ter a biodiversidade nas costas. Isso mesmo. A primeira resposta que vem à mente é que isso seria, no mínimo, impossível, não é mesmo? O desafio de levar informações sobre a biodiversidade é sempre grande, mas um projeto da ONG WWF, promovido em escolas dos municípios de Almeirim, Serra do Navio, Amapá, Pedra Branca do Amaparí, Calçoene, Ferreira Gomes, Laranjal do Jari, Oiapoque e Pracuúba, no entorno do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (AP), mostra que o desafio é grande, mas pode ser vencido por etapas.
O projeto chegou a essa unidade de conservação da Amazônia, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), após seu sucesso no bioma Cerrado, em escolas de Pirenópolis (GO) numa etapa piloto. O lugar escolhido para ser o disseminador de informações sobre biodiversidade foi o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, por sua dimensão e por conservar um importante 'pedaço' do bioma Amazônia.
“As unidades de conservação ainda são misterioras para boa parte da sociedade. Os próprios serviços ambientais que elas prestam, como fornecimento de água e do ar que respiramos, são considerados como que etéreos, pouco palpáveis”, destaca o Coordenador-geral de Gestão Socioambiental do ICMBio, Paulo Russo.
No Amapá, por ocupar 28% do território do estado, muitos viam Tumucumaque como uma espaço 'roubado' ou 'tirado' da própria sociedade, quando na verade ali, no parque, só para se ter uma ideia ficam resguardadas e protegidas três bacias hidrográficas importantes – as dos rios Araguaia, Oiapoque e Jari.
“Nossa proposta foi despertar, de forma lúdica e leve, uma maior sensibilização dos amapaenses ao Parque por meio dessa ferramenta pedagógica, considerada inédita. Com isso, a ideia foi mitigar a falta de informação e conhecimento sobre a unidade de conservação e auxiliá-la em sua implementação, por meio do engajamento da sociedade por intermédio da escola”, explica Marcelo Oliveira, especialista de conservação do WWF-Brasil.
Falta de conexão
A falta de conexão entre as comunidades do entorno do parque, que não sentiam nele algo pertencete a elas, fez com que ICMBio e WWF se debruçassem sobre uma proposta voltada para a Amazônia. Foi então que professores da Universidade Federal do Amapá (Unifap), juntamente com gestores do Parque, da WWF-Brasil e do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC) uniram forças para tornar realidade o casamento entre educação e a temática da biodiversidade, pautada em bases sustentáveis.
Foi quando o colegiado de Geografia e a Coordenação Ciências Biológicas, ambos da Universidade Federal do Amapá (Unifap), apresentraram propostas de como traduzir para uma linguagem acessível, tanto aos professores quanto aos alunos, o Plano de Manejo do Parque, conhecido como um documento técnico, em vários volumes, que detalha a biodiversidade de uma Unidade de Conservação.
“O desafio foi traduzir conteúdos técnicos para uma linguagem educacional e de forma lúdica”, frisa a professora do Colegiado de Biologia da Unifap, Cristiane Menezes.
Na Geografia e Biologia da Unifap foram elaborados materiais didáticos abordando os aspectos físicos (biogeografia, hidrogeografia, geomorfologia, geologia e pedagogia); legais (que vai tratar do tema de Unidades de Conservação); e socioculturais (trabalhando com saberes tradicionais, paisagens culturais).
“Foi espetacular ver alunos descobrindo seus próprios talentos, como o de uma aluna que desenhou todas as espécies de flora e fauna do bioma a partir das informações conidas no Plano de Manejo do Tumucumaque. Ou seja, tinhamos uma desenhista e não sabíamos”, destaca Cristiane.
O material, após ter sido todo traduzido para uma linguagem lúdica, se transformou em livros, guias e jogos lúdicos voltados para envolver alunos do ensino fundamental e médio das instituições de ensino público, assim como auxiliar na formação de professores.
No Amapá, ao todo, foram distribuídos 120 kits de mochilas e jogos educativos. A entrega foi antecedida por capacitação, em 2015, do corpo docente que aplicaria o material nas escolas. “O interessante em Tumucumaque é que procuramos capacitar professores tanto das comunidades do entorno do Parque quanto professores da capital, Macapá, onde predomina o ensino médio', explica Cristiane.
Kit baseou-se na sustentabilidade
Todos os materiais envolvidos na confecção da mochila e kit contendo jogo educativos tiveram como foco a sustentabilidade. A madeira usada nas peças dos jogos assim como nas borrachas era certificada. “Tivemos a preocupação também com a acessibilidade, a exemplo de um dominó em libras, voltado para os alunos que só leem nesse sistema de comunicação”, explica Cristiane.
A própria mochila que guarda os livros foi feita a partir do reaproveitamento de para-quedas velhos. Para isso entrou em cena a empresa curtlo, como parceira do projeto.
Para o Coordenador-geral de Gestão Socioambiental do ICMBio, Paulo Roberto Russo, o material é de um ineditismo sem igual. “Podemos afirmar que na América Latina não existe nenhuma proposta que tenha unido educação ambiental e unidades de conservação com essas características: ser inclusiva e pioneira”, celebra Russo.
Nos dois últimos anos os professores capacitados puderam aplicar os instrumentos em sala com seus alunos do ensino fundamental e médio. Os resultados estão reunidos na forma de portfólios, que detalham por meio dos planos de aulas e de fotografias, como se deu essa troca de saberes em sala.
“Difícil mensuras o saldo positivo, pois se fôssemos contratar um serviço especializado para traduzir um documento técnico, como é o plano de manejo de uma unidade de conservação, para uma linguagem lúdica, somente esse trabalho passaria da cifra do milhão. Tudo foi feito em parceria, contando com alunos em graduação e o resultado saiu fantástico”, relembra Russo.
“Foi gerada uma grande sinergia de atores que colaboraram de forma significativa nas diferentes fases do projeto. O envolvimento de docentes e discentes da Universidade Federal do Amapá, a partir do estudo do Plano de Manejo do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, do conhecimento de campo e do trabalho coletivo, permitiu que se elaborassem algumas propostas de instrumentos educacionais a serem desenvolvidos”, explica a analista ambiental que acompanhou todo o desenvolvimento do Projeto Biodiversidade nas Costas no Parque, Cassandra Oliveira.
Segundo ela, destas propostas, 12 produtos foram priorizados entre cartazes de fauna e flora, cartilha para educação básica, diário de campo, história em quadrinhos, guia de campo, jogo de tabuleiro, dominó de libras, jogo da memória, roleta, quebra-cabeças, pequeno guia de aves e livro educador. “Assim, fechamos um ciclo que começou com a elaboração participativa dos materiais até acompanharmos a sua aplicação no ambiente escolar”, explica Cassandra.
Para o chefe do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, Christoph Bernhard Jaster, o Parque tem desenvolvido, de forma gradual, caminhos para a gestão focados em melhorar a relação do Parque com o seu entorno.
“O trabalho com comunidades escolares nos abriu um leque de oportunidades para aprofundar o diálogo com um público estratégico, com grande potencial multiplicador. As escolas, nas realidades que encontramos no entorno do Parque, são um polo catalisador dos conhecimentos e das expectativas das comunidades. Com o Projeto pudemos estreitar a relação com público docente, oferecendo conteúdos pertinentes à realidade local, mas que eles muitas vezes não conheciam, nem sabiam como introduzir em sala de aula”, explica o chefe do parque.
Os materiais gerados pelo Projeto têm um grande potencial comunicativo e foram muito bem recepcionados pelos professores, geralmente carentes de materiais que dialogassem com suas realidades. “Durante a implementação do Projeto pudemos refletir sobre as potencialidades e os desafios que a continuidade desta iniciativa apresenta. Acreditamos que um passo importante é a assimilação destes materiais como parte dos instrumentos pedagógicos a serem usados na escola”, reitera Jaster.
Histórico
O projeto Biodiversidade nas Costas foi desenvolvido no período de 2013 a 2015 no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT), como parte do Programa Educação para Sociedades Sustentáveis da WWF-Brasil, sendo uma iniciativa do Parque, em Parceria com o Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC) e a Universidade Federal do Amapá (UFAP), com a coordenação técnica do Programa Amazônia do WWF-Brasil.
O objetivo principal do projeto é apoiar os trabalhos para a conservação da biodiversidade, tendo estruturas educacionais como espaços voltados para a promoção da sensibilização, da formação e do envolvimento de indivíduos e de comunidades. Por meio dele buscou-se trabalhar conteúdos e informações ambientais e científicas, presentes no Plano de Manejo do Parque, na elaboração participativa de instrumentos educacionais e peças de comunicação para mobilização e engajamento social na temática ambiental.
A concepção inicial destes instrumentos educacionais foi desenvolvida por docentes e discentes dos Colegiados de Ciências Biológicas e Geografia da Universidade Federal do Amapá e esses materiais compuseram um kit-mochila (daí o nome “Biodiversidade nas Costas”) para formação e aplicação em espaços educadores do Amapá (salas de aula, Unidades de Conservação, ONGs locais e fóruns sociais).
No período de 2013 a 2015 foi desenvolvido no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, unidade de conservaçãoa dministrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiverisdade no Amapá (AP).
“Este é um projeto pelo qual temos discutido a consolidação da agenda ambiental, a partir da temática biodiversidade, nos currículos escolares e demais circuitos de aprendizagem. Nossa principal expectativa com este projeto tem sido o de aproximar os conhecimentos relacionados à biodiversidade - e sua gestão - da sociedade, de forma geral, e das comunidades diretamente relacionadas às áreas protegidas, em especial”, destaca o chefe do Parna Montanhas do Tumucumaque Christoph Bernhard Jaster.
O Projeto Biodiversidade nas Costas foi lançado em Pirenópolis (GO) em caráter piloto em 2013, a partir de uma parceria entre a WWF Brasil e da KPMG. O kit continha livros, vídeo, CD e outros materiais voltados a educadores e alunos, do ensino infantil ao médio, levando informações relevantes sobre a conservação da biodiversidade do Cerrado. E dentro da temática da educação ambiental cerca de 100 educadores da cidade foram capacitados para trabalhar com o tema conservação do Cerrado, utilizando o kit em sala de aula.
Segundo o coordenador-geral de Gestão Socioambiental do ICMBio, Paulo Roberto Russo, o foco do projeto coordenado pela WWF tem sido levar informações sobre a sociobiodiversidade, na forma dos saberes locais, e o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque necessitava promover um diálogo maior com a comunidade do entorno. “E nada melhor do que o espaço da escola para acolher esses saberes sobre o bioma e uma unidade de conservação, para a comunidade. A escola é aquela que recebe, acolhe e atua na produção e difusão de conhecimentos”, explica Russo.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280