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Projeto Ararinha-Azul de volta a Curaçá
Estudos preveem criação de UC na Caatinga baiana e levantamento de dados sobre como a maracanã-verdadeira pode ajudar na reintrodução da ararinha na natureza
Brasília (29/12/2016) – O projeto Ararinha na Natureza está de volta à região de Curaçá, na Bahia, habitat histórico da ave considerada extinta em ambiente natural desde 2000. O projeto foi lançado em 2012 com o objetivo de implementar o Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Ararinha-azul, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), juntamente com parceiros externos e patrocínio da Vale.
Recentemente, a Vale e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) assinaram termo aditivo ao projeto para o ICMBio implementar, dentre outras ações, a criação da unidade de conservação (UC) ararinha-azul e o projeto “Como a maracanã-verdadeira ajudará a recuperar uma das espécies mais ameaçadas de ave do Brasil?”.
O objetivo desse projeto é produzir informações sobre a ecologia, a biologia, as ameaças e o estado de saúde da maracanã (Primolius maracana) para subsidiar as futuras ações de reintrodução da ararinha-azul a partir de 2018, uma vez que a maracanã é a espécie mais similar ecológica e biologicamente à ararinha-azul. Ambas são simpátricas (aves que ocorrem numa mesma região) e dividiram o mesmo habitat. O último macho de ararinha-azul ficou pareado com uma maracanã até seu desaparecimento em 2000.
Em 2016, foram realizadas quatro expedições a Curaçá e entorno. A última se encerrou no dia 21 de dezembro. Nesta expedição, os participantes focaram no estudo da biologia reprodutiva da maracanã. Em novembro a equipe identificou os ocos marcados anteriormente com atividade de maracanãs (sentinelas, maracanãs dentro do oco, dentre outros...).
A bióloga Grace Ferreira da Silva, pesquisadora associada do Instituto Arara-azul, que trabalha na área há mais de dez anos, treinou a equipe do projeto, comunitários e voluntários. Foram confirmados seis ninhos, com 22 ovos, com posturas de três, quatro e seis ovos. Foram feitas ainda as mensurações necessárias e ovoscopia (iluminação do ovo para ver se está com formação de vascularização e embrião). Os ovos foram, depois, devolvidos para o ninho para os pais voltarem.
No subprojeto “Impacto da captura e tráfico de maracanãs e outros psitacídeos em Curaçá, Bahia”, foi dada prioridade à aplicação de questionários nas unidades residenciais do polígono da unidade de conservação ararinha-azul para obtenção de informações a respeito do conhecimento, da captura e uso das maracanãs e de outros psitacídeos, além de registar a opinião dos moradores a respeito da criação de uma ou mais UC.
Aproveitou-se a oportunidade para a aplicação do questionário socioambiental, econômico e fundiário nas propriedades não incluídas anteriormente, tendo como objetivo embasar a ampliação da proposta original de UC ararinha-azul de uso sustentável apresentada anteriormente, com base em características socioambientais (famílias elegíveis para receberem programas sociais), vegetação (priorizando áreas com riachos importantes) e presença de maracanãs, além de auxiliar a finalizar um polígono para a proteção integral.
A unidade de conservação de uso sustentável que será criada terá aproximadamente 100 mil hectares e o objetivo de proteger a natureza e o uso das terras pelas comunidades tradicionais de maneira sustentável, por meio de garantia de acesso a programas sociais como o Bolsa Verde, o Pronatec, Programa primeira água, Água para todos, dentre outros. Com isso, espera-se melhorar as técnicas produtivas, a renda das pessoas e, assim, diminuir a pressão de uso de recursos naturais que contribuem para a degradação ambiental local. A unidade de proteção integral ainda está em discussão quanto ao polígono e categoria.
Está, também, sendo avaliado nas comunidades a sanidade de psitacídeos (papagaios, maracanãs e periquitos) em cativeiro, visando ao conhecimento das doenças que os indivíduos de maracanã e ararinha-azul poderão enfrentar ao serem reintroduzidos, respectivamente, em 2017 e 2019, na região. Essa análise subsidiará o acompanhamento genético e de patógenos (agentes causadores de doenças) após a reintrodução.
Já foram marcados e georreferenciados 153 árvores com ocos das espécies carabeiras, muquém, mulungu, bem como espécies arbóreas usadas para a alimentação como a braúna, o angico, o marizeiro, o pinhão, a favela, dentre outras, nos riachos Barra Grande e Melancia, com potencialidade para a reprodução de maracanãs.
As pesquisas neste ano foram encerradas com seis ninhos confirmados. Há outros que verão ser verificados em 2017. Foram realizadas 98 entrevistas, com o objetivo de coletar dados para subsidiar a criação da unidade de conservação federal e o projeto de reintrodução da ararinha-azul na sua região de origem. Houve ainda treinamento de três comunitários e oito estudantes do ensino médio e técnico de Curaçá.
As entrevistas continuarão em 2017, para se entender a percepção das comunidades sobre o meio ambiente e psitacídeos e pesquisar o padrão de reprodução da maracanã, além de fornecer outros dados para a criação da UC. Os ocos nas árvores serão monitorados no período reprodutivo, que se estende de novembro a março, e será feito o manejo aplicado, com a colocação de transmissores em filhotes e a incubação artificial de ovos de maracanã para que os filhotes sejam reintroduzidos em 2017, dentre outras ações.
O projeto é executado pelo Cemave/ICMBio, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, universidades federais da Paraíba, de Pernambuco, do Vale do São Francisco e de Minas Gerais, Instituto Espaço Silvestre, Save Brasil, Association for the Conservation for the Threatened Parrots, Al Wabra Wildlife Preservation, Jurong Park, Parrots International, Criadouro Cachoeira, Funbio. Há ainda patrocínio da Vale.
A equipe conta com uma bolsista da UFPB, Nayane Sousa, um da UFPE, Renato Seara, além de três ornitólogas, a coordenadora de campo, Sueli Damasceno, a coordenadora do sub-projeto de reprodução da maracanã, Cristine Prates, e a coordenadora do projeto, Camile Lugarini, analista ambiental do Cemave. Além disso, o projeto tem apoio do Voluntariado do ICMBio.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280