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Precisamos de mais parceiros da natureza
Em relato em forma de artigo, diretor do ICMBio comenta a realização de evento sobre populações tradicionais e produtos da floresta realizado durante as Olimpíadas, no Rio
Por Cláudio Maretti
Diretor da Disat/ICMBio
O Brasil, pela sua natureza e populações tradicionais, divulgado na época das Olimpíadas! Tudo a ver! O Brasil é natureza! Os parques e reservas são locais de esporte e saúde. E conservam a natureza. O Brasil é composto por seus múltiplos povos. Os produtos das populações tradicionais ou extrativistas são mais saudáveis. Mas precisamos de mais apoio e engajamento de garantia de parte da sociedade.
Parceiros da Natureza são as populações tradicionais, com sua cultura, suas lutas e sua produção sustentável. São também o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pelos parques e reservas nacionais ou federais, e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), com políticas públicas adequadas a esses fins. São as organizações da sociedade civil, que apoiam as populações tradicionais e colaboram com a conservação da natureza. São as empresas que compram, produzem e vendem de forma sustentável.
Todos estivemos juntos, nos dias 11 e 13 de agosto, no Rio de Janeiro, promovendo e mostrando o Brasil da natureza, das populações tradicionais, da conservação e da produção sustentável. Mostrando a turistas, jornalistas, chefs e "eco-chefs", empresários, jovens e outros cidadãos, brasileiros e estrangeiros. Aproveitando a visibilidade destas Olimpíadas, que vem promovendo a sustentabilidade. (E aproveitando que tantos que vivem ou vão ao Rio se maravilham com sua natureza, especialmente o Parque Nacional da Tijuca e o Monumento Natural das Ilhas Cagarras.)
Mas precisamos de mais aliados, mais parceiros da natureza. Precisamos de mais empresas, comprando, produzindo e vendendo de forma mais responsável, socialmente justa e ecologicamente sustentável. Precisamos que os cidadãos e consumidores escolham, selecionem, prefiram os produtos ecologicamente sustentáveis e socialmente justos. Precisamos da parceria de governos locais e estaduais, com seus próprios parques e reservas (unidades de conservação) e suas políticas públicas adequadas.
Precisamos, fundamentalmente, da sociedade toda aliada da natureza e reconhecido os serviços prestados pelos ecossistemas e pelas populações tradicionais, como, por exemplo, proteção das águas, estabilidade climática, áreas de visitação, lazer e esporte, belezas naturais nas paisagens turísticas, locais de pesquisa científica, produção sustentável e educação ambiental, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, diminuição de riscos e consequências de desastres naturais ou aqueles causados pela humanidade e um amplo espectro de outros serviços.
Os Parceiros da Natureza, apresentados no Rio durante as Olimpíadas, são predominantemente as populações tradicionais, com sua luta pela proteção das florestas, dos rios, dos mares, do cerrado e dos demais ecossistemas. Com sua produção sustentável, amiga da proteção da biodiversidade. Com seus conhecimentos tradicionais. Estiveram conosco, falando de suas lutas, de sua vida, de sua produção, Dinael Arapiun dos Anjos, presidente da associação das comunidades da Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, a Tapajoara, e Jeremias Dantas, vice-presidente da Coomflona, a cooperativa de produtores da Floresta Nacional (Flona) de Tapajós. Tivemos também Joaquim Belo, presidente do CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas).
Além do seu histórico de lutas, suas culturas, a defesa de sua visibilidade e demandas de políticas públicas sociais, eles trouxeram exemplos de produção, que são sustentáveis ecologicamente, mas que podem ser mais viáveis economicamente se houver mais e melhores mercados. Se houver mais empresas interessadas em comportamentos sustentáveis, éticos e justos. Se os cidadãos e os consumidores preferirem os produtos sustentáveis e justos.
A Coomflona trouxe exemplos de bandeja ou tábua de carnes feitos a partir dos galhos de árvores que são exploradas de forma sustentável. E defendeu ajustes da legislação para viabilizar melhor a produção comunitária, que não precisa ser pequena, mas sim justa e sustentável. A Coomflona é provavelmente o melhor exemplo de produção madeireira comunitária sustentável que há. E tem o selo FSC comunitário, com reconhecimento internacional.
A Tapajoara trouxe o exemplo de artesanato a partir do látex da seringueira, entre múltiplos outros produtos da Resex Tapajós-Arapinus. É uma forma de superar oscilações de mercados de outros produtos de recursos naturais. E hoje promovem um intercâmbio entre as populações tradicionais com a Flona Tapajós para melhoria mútua. Eles todos trouxeram também reivindicações aos governos, empresas e sociedade e agradecimentos aos apoios e as políticas públicas adequadas, do ICMBio e do MMA.
Estiveram presentes, ou mostrando seus casos de compras e produção sustentável, empresas que são exemplo de parceiras da natureza. A Tramontina, que compra madeira da Flona Tapajós para cabos de ferramentas, móveis de jardim e cutelaria (talheres), com selo FSC comunitário. A Wikibold, que produz um pão de castanha, com a castanha-da-Amazônia, da Terra do Meio, do Território da Sociobiodiversidade do Xingu, com selo Origens Brasil, do Imaflora. A Coca-Cola, que apresentou um suco com base de açai, comprado de populações tradicionais da Reserva Extrativista (Resex) do Médio Juruá, e o apoio ao trabalho agroflorestal para recuperação de florestas da Amazônia pelos produtores de guaraná, este no programa Olhos da Amazônia, em parceria com o Imaflora. A Symrise produz aromáticos, para alimentos e cosméticos, a partir de produtos de extrativistas da Amazônia.
O Imaflora vem desenvolvendo um a trabalho excepcional, como Parceira da Natureza, das populações tradicionais e das empresas responsáveis. Ela procura aquelas empresas já conscientes e as aproxima da produção das populações tradicionais e da conservação da natureza. Ela procura também as empresas que são importante nos processos produtivos vinculados de alguma forma às florestas e aos outros ecossistemas para lhes engajar em produção mais sustentável. As empresas devem se adaptar também as condições que respeitam essas comunidades humanas e as unidades de conservação e outros tipos de áreas protegidas. Ela também criou o selo Origens Brasil, que permite a confiabilidade da origem dos produtos, dos territórios da sociobiodiversidade, como no Xingu ou na Calha Norte, e das relações éticas de produção. O Imaflora desenvolve esses projetos e programas com vários outros parceiros, inclusive ISA e ICMBio, além de associações de base das comunidades locais.
O ICMBio gere os parques e reservas (unidades de conservação) federais, num total de 326, espalhados em todas as partes do território nacional (como em áreas urbanas e periurbanas, como os parques nacionais da Tijuca e de Brasília ou a APA da Baleia Franca, ou muito distantes, em locais ermos, como os parques nacionais da Serra do Divisor, no Acre, do Monte Roraima, em Roraima, das Montanhas de Tumucumaque, no Amapá, as reservas extrativistas Cazumbá-Iracema e Alto Juruá, no Acre, a Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha e a Reserva Biológica de Atol das Rocas, no meio do Oceano Atlântico). E apoia e supervisiona outras 660 unidades de conservação privadas, as reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs), registradas no Governo Federal. No total agregado são cerca de 80 milhões de hectares, ou o equivalente a quase 10% do território terrestre brasileiro.
Entre as unidades de conservação federais, estão 83 reservas extrativista (Resex), florestas nacionais (Flonas) e reservas de desenvolvimento sustentável (RDS) com populações tradicionais vivendo e produzindo com conservação da natureza. Há unidades de conservação com gestão compartilhada com as populações tradicionais e parcerias com organizações da sociedade civil e empresas. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) define políticas públicas para viabilizar a conservação da natureza e a defesa das populações tradicionais. Por exemplo, preço mínimo dos produtos da sociobiodiversidade, programa bolsa verde de apoio às populações, entre outros.
A GIZ, instituição da cooperação técnica alemã, colabora com o Brasil há décadas. Já focou mais na redução da pobreza, mas, com o crescimento econômico do país, nos últimos anos e décadas, se dedica mais à conservação da natureza, dos recursos naturais e do meio ambiente. Trabalha também com energias renováveis e meios urbanos. Mas para a conservação da natureza entende que as populações tradicionais estão entre seus melhores guardiões.
O Parceiros da Natureza foi uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/Disat), com indispensáveis populações tradicionais, GIZ, Imaflora, MMA, Tramontina, Wikibold, Coca-Cola, Rio Media Center, Symrise e vários outros. No dia 11 de agosto houve um primeiro evento, na OliAle, "casa da Alemanha", na praia do Leblon, com apresentação doa parceiros da natureza Coomflona, Tapajoara, CNS, ICMBio, MMA SEDR, Imaflora, Tramontina, Symrise e GIZ. No dia 13 houve o segundo evento, no Rio Media Center, sobre a sociobiodiversidade, unidades de conservação, populações tradicionais, produção sustentável e conservação da natureza, para jornalistas nacionais e estrangeiros, com Coomflona, Tapajoara, ICMBio, MMA SEDR, Imaflora, Coca-Cola e GIZ.
Participaram dos eventos nos dias 11 e 13 Juliana Simões, secretária de Extrativismo e Desenvolvimento Rural do MMA; Rômulo Mello e Cláudio Maretti, presidente e diretor do ICMBio; Dinael dos Anjos, presidente da Tapajoara, associação da Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapinus; Jeremias Dantas, vice-presidente da Coomflona da Floresta Nacional (Flona) Tapajós; Joaquim Belo, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS); Léo Ferreira, do Imaflora; Pedro Massa, diretor da Coca-Cola; Gilson Favarato, da Tramontina; Marco Matavelli, da Symrise; Anselm Duchrow, coordenador, e Tatiana Balzon, do Programa de Florestas Tropicais da GIZ no Brasil, e muitos parceiros e colaboradores! Estão todos de parabéns!