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Pesquisadores atuam para salvar choquinha-de-alagoas da extinção
Publicado em
28/08/2020 15h22
Os poucos indivíduos que ainda restam na natureza vivem protegidos na Estação Ecológica (Esec) de Murici, em Alagoas.
Choquinha-de-alagoas, um dos pássaros mais ameaçados de extinção do mundo. (Foto: Arthur Andrade)
Um esforço coletivo mobiliza pesquisadores e conservacionistas de diversas instituições para reverter o destino de desaparecimento na natureza da choquinha-de-alagoas (Myrmotherula snowi). O pássaro, com um canto de assobios fortes, é uma das aves mais ameaçadas de extinção do mundo. Ele perdeu habitat por conta do desmatamento e os poucos indivíduos que ainda restam na natureza vivem protegidos na Estação Ecológica (Esec) de Murici, em Alagoas, gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Alguns dos seus parceiros de habitat como o limpa-folha-do-nordeste e o gritador-do-nordeste já foram declarados globalmente extintos.
Tudo indica que existem menos de 50 indivíduos da espécie na natureza e estão localizados dentro da Esec de Murici. Por isso, câmeras de segurança foram instaladas nas entradas da área onde vive a choquinha-de-alagoas e outras espécies endêmicas e criticamente ameaçadas de extinção. “Temos feito todo um esforço para manter essas espécies endêmicas e ameaçadas seguras dentro da unidade de conservação. E temos conseguido, pois as imagens das câmeras de segurança mostram a entrada somente de pesquisadores e observadores de aves credenciados neste local”, argumenta o chefe da unidade de conservação e analista ambiental, Marco Antônio de Freitas.
Classificado como criticamente ameaçado de extinção, o pássaro foi incluído no Plano Nacional (PAN) de Conservação de Espécies da Mata Atlântica, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do ICMBio. Reunidas, as instituições que compõe o PAN, e outras, incluindo a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o Grupo Especialista em Planejamento para a Conservação da UICN e o Parque das Aves, definiram um plano emergencial para salvar a espécie, que inclui o monitoramento do tamanho populacional e o habitat utilizado, para entender como proteger melhor a espécie na natureza, e, possivelmente, reprodução em cativeiro.
Rabo-branco-de-margarettae, pássaro também ameaçado de extinção que vive na Esec de Murici. (Foto: Arthur Andrade)
A ausência de registros recentes em Pernambuco vem indicando que a espécie não existe mais no estado e habita apenas um fragmento de Mata Atlântica dentro da Esec de Murici. O monitoramento feito pelo biólogo e pesquisador do projeto da SAVE Brasil Arthur Andrade, que percorre mensalmente mais de 2 mil hectares em busca da choquinha-de-alagoas dentro da unidade de conservação, registrou menos de 20 indivíduos. “Além disso, estamos visitando fragmentos fora da Esec Murici, com grande potencial de ocorrência do pássaro, tanto em Alagoas como no estado de Pernambuco, porém até o momento não tivemos nenhum resultado positivo para a ocorrência da espécie em outras localidades”, revela Andrade.
Além do monitoramento populacional, os pesquisadores também estão estudando os hábitos da ave. As informações sobre a biologia reprodutiva, habitat, hábitos alimentares e potenciais ameaças são fundamentais para o estudo da criação em cativeiro da espécie, caso esse seja o caminho escolhido pelos pesquisadores. “A previsão da extinção da choquinha-de-alagoas não é uma estimativa precisa. No entanto, se nada for feito, ela pode desaparecer em poucos anos. Esse cenário pode ser revertido com a adoção de práticas de conservação da espécie”, ressalta o mestrando em Zoologia pela UFPB, Hermínio Vilela, que junto com Andrade, está estudando a espécie.
A população de choquinha-de-alagoas é hoje tão pequena, que o grupo também concordou que há a eventual necessidade de considerar a reprodução assistida da espécie, ou seja, a reprodução sob os cuidados humanos. A reprodução em cativeiro é o último recurso usado para tentar salvar espécies que estão à beira da extinção, quando todas as outras possibilidades já foram esgotadas. Cientes de que esta estratégia pode ser necessária em um futuro próximo, o grupo está desenvolvendo os métodos necessários para o eventual transporte de ovos da natureza e cuidado com filhotes, caso todos os parceiros envolvidos na conservação desta espécie, incluindo o ICMBio, decidirem que é preciso tentar a reprodução em cativeiro. O projeto conta com financiamento da National Geographic Society, BirdLife International e WWF-Brasil.
Jacu-de-alagoas, outra espécie ameaçada de extinção que vive na Esec. (Foto: Marco Antônio de Freitas)
Choquinha-de-alagoas foi descrita em 1985
A choquinha-de-alagoas é uma espécie que tem 9,5 centímetros de comprimento e pesa 7 gramas. Habita fragmentos conservados de Mata Atlântica acima de 400 metros de altura e ao norte do rio São Francisco. Alimenta-se de pequenos artrópodes como grilos, baratas e aranhas que encontra em folhas verdes ou mortas. O macho é completamente cinza e a fêmea tem a plumagem cinza e marrom. A ave foi descrita em 1985, a partir de expedições feitas para a região de Murici por pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Além da unidade de conservação, historicamente a espécie foi registrada em outras três localidades em Pernambuco. Porém, a última vez que a espécie foi vista em Pernambuco foi em 2009.
A Esec de Murici, criada em 2001 e com 6.131 hectares, se destaca pela riqueza de espécies de aves endêmicas ameaçadas de extinção. O local é o lar de 17 aves ameaçadas de extinção global e outras 31 ameaçadas de extinção em nível nacional. Além da choquinha-de-alagoas, a unidade abriga outras aves criticamente ameaçadas de extinção como o zidedê-do-nordeste, o cara-pintada, o jacu-de-alagoas, o vira-folha-pardo e o rabo-branco-de-margarette.
Todas essas espécies vivem dentro da unidade de conservação protegidas pela equipe do ICMBio. Além das câmeras para vigiar a entrada de pessoas nesta área de espécies ameaçadas, elas estão longe do barulho da cidade, vivem em um lugar calmo e tranquilo. A choquinha vive em uma das maiores áreas que ainda existem da Mata Atlântica em Alagoas em bom estado de conservação ao norte do rio São Francisco, fator que favorece a sua permanência dentro da Esec de Murici.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280