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Pesquisa mostra valor arqueológico de Jericoacoara
Segundo os estudos, a praia protegida pelo parque nacional no Ceará já era habitada 800 anos antes da colonização europeia
Brasília (17/05/2017) – A praia de Jericoacoara, protegida pelo parque nacional gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no Ceará, e reconhecida na literatura histórica do princípio do século XVII como “buraco ou baía das tartarugas”, já estava ocupada há 1.200 anos AP (antes do presente), ou seja, 800 anos antes da colonização europeia em território cearense.
A conclusão pode ser feita a partir de informações já disponíveis da pesquisa arqueológica promovida entre 12 de abril e 5 de maio, no sítio Jericoacoara I, que incluiu atividades como coletas sistemáticas de materiais dispersos em superfície e algumas intervenções em solo (escavações de ampla superfície, trincheiras e sondagens). As informações trazem, também, dados de pesquisa realizada no sítio em 2010.
Todos os procedimentos da recente pesquisa, que teve o apoio do ICMBio, foram documentados em desenhos e fotografias. Os artefatos coletados foram inseridos em levantamentos planialtimétricos com estação total, que permitem a descrição do terreno com exatidão, citando medidas planas, ângulos e inclinação.
Material recolhido
Durante os trabalhos, foram recolhidos fragmentos de vasilhas cerâmicas, artefatos de pedra lascada e polida, fragmentos de moluscos (gastrópodas e bivalves), além de algumas amostras de solo e fragmentos de carvões que irão subsidiar o estudo das condições ambientais à época das ocupações.
A pesquisa visa estabelecer uma identidade cultural arqueológica do sítio Jericoacoara I, com base nas especificidades de seus artefatos, de sua situação deposicional e dos dados ambientais. O grupo (ou grupos) que ali habitou produzia peças cerâmicas de paredes finas, com decoração incisa bastante elaborada e, também, dominava a tecnologia de lascamento e polimento para confecção de artefatos de pedra.
A passagem desses antigos ocupantes é testemunhada, ainda, por registros de numerosas fogueiras, cujas tipologias diferencias podem corresponder a usos específicos, como cozimento de alimentos, fabricação de vasilhas cerâmicas, aquecimento, entre outros.
Estudos prosseguem
A pesquisa seguirá na busca de respostas a questões como o sítio representa ou não uma única ocupação ou ocupações distintas; foi ocupado por um grupo ou vários; esse(s) grupo(s) era sedentário, semi-sedentário ou não sedentário; quais os componentes de sua dieta; como era o ambiente à época da ocupação pré-colonial; quais as especificidades da tecnologia de fabrico de artefatos no local.
O material arqueológico coletado está em análise na cidade de Fortaleza, na sede do Instituto Cobra Azul, que endossa institucionalmente a pesquisa. Algumas amostras seguirão para análises (datação, antracologia, palinologia, sedimentologia) em laboratórios nacionais e internacionais.
Além do ICMBio, a fase de coleta de dados contou com o apoio de estudantes e pesquisadores de várias universidades brasileiras (UFC, Uece, Uece/Fafidam, Inta, Ufopa, UFS, UFPI, UFPE) e, ainda, de professores de escolas indígenas Tremembé de Almofala, em Itarema (CE). Os resultados obtidos subsidiarão trabalhos acadêmicos em níveis de graduação, mestrado e doutorado.
Como parte das ações ainda previstas para essa jornada de pesquisa, os resultados preliminares serão divulgados por meio de palestras e exposições itinerantes voltadas ao público estudantil e não estudantil da vila de Jericoacoara, da sede do município de Jijoca e em outros municípios da região.
Comunicação ICMBio – (61) 2028-9280 – com informações dos pesquisadores Verônica Viana e Thalison Santos, coordenadores do projeto