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Pesquisa de campo no Semiárido busca formas de combater invasão de abelhas africanizadas
Oco de árvore ocupado por abelhas africanizadas - Foto: ICMBio
Pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade (ICMBio) e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) estão em campo para levantar informações a respeito da invasão das abelhas africanizadas nas unidades de conservação da ararinha-azul (Área de Proteção Ambiental (APA) e Refúgio da Vida Silvestre (Revis) da Ararinha Azul), ambas distribuídas pelos municípios de Juazeiro e Curuçá na Bahia.
Cerca de 300 enxames já foram identificados, com registros de afugentamento de casais de aves como as maracanãs, culminando com a interrupção do processo de incubação dos ovos. Durante os trabalhos de campo, os pesquisadores testam protocolos de manejo para verificar quais são os mais eficientes e que produzem menos impacto ao meio ambiente.
Inclusive o uso de produtos químicos de baixo impacto ambiental, recorrentes no manejo de abelhas em locais onde ocorre competição entre abelhas africanizadas e espécies de araras e papagaios. Como o gás-carbônico, que vem sendo usado pelo Corpo de Bombeiros de Petrolina (BA) para o combate de enxames em áreas de risco à população.
“Outra tática é o posicionamento de caixas iscas para aumentar a oferta de cavidades para nidificação das abelhas africanizadas”, diz Camile Lugarini, analista ambiental do ICMBio.
Os conhecimentos quem vêm sendo desenvolvidos na região deverão beneficiar outros territórios com problemas semelhantes. “Somos o único grupo de pesquisa no Brasil testando diferentes métodos para o manejo de abelhas em unidades de conservação”, registra Camile.
Espécies carismáticas - Responsáveis por grande produção de mel e serviço de polinização, essas abelhas encontram protetores entre os usuários das unidades da região. Mas a apicultura, atividade que envolve a criação de abelhas com ferrão, como as africanizadas, não é recomendada nas unidades de conservação da ararinha-azul.
"É complexo para a sociedade entender que precisamos controlar as abelhas exóticas em determinadas áreas, mas precisamos agir rapidamente, os ambientes estão severamente impactados pelas atividades humanas. Só assim para melhorar a qualidade ambiental e da própria vida das comunidades tradicionais, que são dependentes de recursos naturais" explica Camile.
Apoio local
Para mobilizar apoio das populações que vivem na região, o ICMBio, em conjunto com o Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) está estruturando um projeto de longo prazo para que os produtores rurais ajudem a retirar as colmeias de abelhas exóticas e iniciem a meliponicultora – criação de abelhas sociais nativas sem ferrão.
“Essa atividade poderá contribuir com a conservação das espécies de abelhas nativas, a manutenção da biodiversidade e fortalecer a bioenconomia local”, afirma Camile.
Maria de Lourdes da Silva Oliveira, moradora da zona rural da APA da Ararinha Azul, também está preocupada com a situação. Em contato frequente com os pesquisadores, já que oferece sua casa como base de apoio, percebe a presença constante das abelhas africanizadas e o perigo que representam. “Já notei a diminuição das espécies de abelhas nativas, provavelmente expulsas pelas africanizadas”, avisa. Alérgica, dona Lourdes mantém um antialérgico sempre à mão. “Fiquei sabendo da morte de um idoso atacado por essas abelhas em Petrolina (PE) e não quero ser a próxima”, diz ela.
Exóticas
Introduzidas no Brasil a partir da década de 50, as abelhas africanizadas se espalharam pelo Brasil e América, sendo responsáveis por inúmeros acidentes entre humanos e animais domésticos. Hoje em dia, centros urbanos e rurais veem a espécie como um problema de saúde pública e fazem o extermínio de colmeias quando existe o risco de vida para as pessoas.
Devido à crescente ocorrência de enxames em Petrolina, Juazeiro e região, os municípios se viram obrigados a terem planos de manejo bem estruturados, contando com equipes especializadas para retirada de enxames e destinação a apiários quando possível.
Entretanto o problema não se restringe as zonas urbanas. Na zona rural, as abelhas invadem fendas em rochas e cavernas, cavidades de árvores ou podem ser encontradas em ninhos externos com favos de cria e de mel aparentes, representando um sério problema de conservação para aves e mamíferos que utilizam as cavidades naturais para a reprodução.
Além disso, as abelhas exóticas se tornaram dominantes em todos os ambientes e competem por recursos com outras abelhas nativas, as quais são, de fato, os polinizadores efetivos das plantas nativas.
Pesquisas em andamento:
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Impacto do controle das abelhas africanizadas sobre as populações das abelhas nativas no Refúgio de Vida Silvestre e na Área de Proteção Ambiental da Ararinha Azul;
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Eficácia do Controle de Abelhas Africanizadas em Locais de Nidificação de Psitacídeos na APA e Revis da Ararinha-azul;
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Diversidade de abelhas nativas e sua interação com a abelha exótica Apis mellifera em Unidades de Conservação e áreas de cultivo agrícola vizinhas na região do Vale do São Francisco;
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Dinâmica das populações de abelhas nativas e o impacto do controle das abelhas africanizadas nas Unidades de Conservação da Ararinha Azul;
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Monitoramento das abelhas africanizadas (apis mellifera: linnaeus, 1758) no refúgio de vida silvestre e área de proteção ambiental da Ararinha Azul;
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Eficácia do Controle de Abelhas Africanizadas em Locais de Nidificação de Psitacídeos na APA e Revista da Ararinha Azul.
ODS relacionados
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