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Parque Nacional da Serra da Mocidade celebra 13 anos
Unidade de conservação fica em Roraima, vizinha à Terra Indígena Yanomami
Brasília (29/04/2011) – O título de “Serra da Mocidade” foi dado por pioneiros ao mencionarem as dificuldades para subir as montanhas da região, o que só poderia ser realizado por quem estivesse no “vigor da mocidade”. O acesso se dava pelo rio Capivara e pelo igarapé Bacaba, afluentes do rio Água Boa do Univini, em cujas margens encontram-se hoje vestígios de antigas colocações e vilarejos dos extrativistas em Roraima.
Em 29 de abril de 1998, decreto presidencial criava o Parque Nacional Serra da Mocidade, Unidade de Conservação federal gerida pelo Instituto Chico Mendes em Roraima. Com área de 350.960,5 hectares desmembrada de terras do Exército Brasileiro, no município de Caracaraí, o parque fica a sudoeste do estado de Roraima.
A unidade possui relevo baixo e inundável e, à época de sua criação, já não atraía colonizadores como antes, registrando-se apenas atividades extrativistas entre as décadas de 30 e 70 do século passado. A unidade limita-se ao norte com a Terra Indígena Ianomâmi, o que a isola do processo de colonização.
Mas a área foi palco das chamadas “colocações” - áreas de extração privativas que atraíam centenas de pessoas para retirada da balata (Mimusops amazônica e M. bidentata) e da sorva (Couma guianensis), cujos látex, na época, valiam mais do que ouro.
A madeira do cumaru (Coumarouna odorata) e o couro de felinos foram outros importantes itens na economia das colocações, assim como a extração da bacaba (Oenocarpus circumtextus) e da castanha (Bertholletia excelsa), coletadas nas entressafras do látex.
A exploração do passado, e respectivos danos ambientais, deu lugar à recuperação natural nas últimas décadas, após o fim do extrativismo. Hoje, as dificuldades de acesso garantem a integridade dos ecossistemas e o imenso potencial para o turismo ecológico de observação.
Geologia
- A porção setentrional do Parque é marcada por parte de uma cadeia de montanhas que lhe empresta o nome: Serra da Mocidade, resultante da erosão de um grande bloco continental, o cráton guianense formado no período Pré-Cambriano Inferior por rochas magmáticas e matamórficas datadas entre 1,8 e 2,5 bilhões de anos.
Trata-se de um maciço residual de grandes proporções, com altitude média de mil metros, chegando a extremos de 1.800 metros, caracterizado por cristas acentuadas e encostas ravinadas, em meio à densa floresta de altitude.
A parte meridional é constituída por uma extensa planície baixa – entre 80 e 160 metros de altitude – composta por sedimentos arenosos e argilosos antigos, durante a formação da Bacia Sedimentar Amazônica, no Pleitoceno, há uns 100 milhões de anos. Esse solo arenoso foi coberto por sedimentos depositados durante os últimos 40 mil anos. Na maior parte, terras inundadas durante a época das chuvas, entre abril e setembro.
Hidrografia
- Extensa rede hídrica drena o Parque, incluindo muitas nascentes nas montanhas do norte, onde se destacam os rios Pacu e Capivari, além dos igarapés Bacaba e Pode Ser, todos tributários do rio Água Boa do Univini, que estabelece o limite leste.
A unidade é cortada pelos rios Catrimãni e Xeriuini, em sua porção sul e possui expressiva quantidade de lagos marginais e sazonais, o que lhe proporciona uma fauna aquática abundante e variada de espécies, tais como a do peixe-boi (Trichechus inunguis) e de peixes ornamentais, incluindo várias espécies nobres da Amazônia, como o pirarucu (Arapaima gigas), tucunaré (Cichla spp.) e pirarara (Phractocephakus hemioliopterus), além do famoso “peixe-elétrico”, o poraquê (Electrophorus eletricus).
A malha hídrica do Mocidade apresenta peculiaridades surpreendentes: num mesmo espaço, ocorrem rios de “águas claras”, límpidas e transparentes; “águas pretas”, ácidas devido à matéria orgânica em suspensão; e “águas brancas”, barrentas, carregadas de sedimentos. Essa heterogeneidade ambiental é marcada por uma forte sazonalidade que impede a navegação no interior do Parque durante o período de estiagem, contribuindo para protegê-lo da exploração humana.
Vegetação
- Devido à extensão e à grande variação de altitudes, a cobertura vegetal do Parque apresenta-se sob várias fisionomias. Nas planícies, predomina o mosaico composto pelas campias e campinaranas, sazonalmente inundáveis, e as imensas áreas de boritizais (Mauritia Flexuosa) alagadas, que emolduram lagos e nascentes.
Junto às serras Cumaru e Mocidade, a vegetação adquire características de Floresta Ombrófila, enfeitada por orquídeas e bromélias. A presença de árvores majestosas em meio às pedras e rochedos das encostas é uma constante. É o domínio do roxinho (Copaifera bracteata), do cedro (Cedrela fissilis) e do angelin (Andira cuyabensis). Acima dos 500 metros de altitude, ocorre a Floresta Ombrófila Altomontana, com componentes arbóreos de menor porte para poder suportar os fortes ventos e os longos períodos encobertos por nuvens.
Atração
- No âmbito institucional, a Unidade ainda não está aberta à visitação, mas seu Conselho Consultivo tomou posse em 15 de outubro do ano passado, depois de ter sido legitimado pela publicação no DOU, no dia 4 do mesmo mês, da Portaria 104-2010 do Ministério do Meio Ambiente.
O isolamento e a biodiversidade do Parna Mocidade atraem a atenção de pesquisadores que lá já fazem estudos e levantamentos de fauna e flora. Nove solicitações nesse sentido já foram feitas pelo Sisbio, além de um levantamento inicial da cobertura vegetal feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em 2004, e de expedições de ornitólogos do mesmo Instituto.
Por outro lado, essa mesma diversidade é responsável pela atração de garimpeiros e exploradores clandestinos, tendo que serem coibidos por ações de fiscalização levadas a efeito pelos efetivos do Mocidade, liderados pela chefe Inara Rocha, em parceria com organismos policiais. De janeiro de 2010 a abril de 2011, nove missões fiscalizatórias foram executadas, duas exclusivamente na área do Parque e as demais envolvendo outras unidades da região: o Parna Viruá, a Flona Anauá e as Esecs Caracaraí e Niquiá.
Texto e Fotos: Taylor Nunes
Ascom/ICMBio
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