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Parque do Iguaçu: refúgio da onça-pintada
Espécie tem o papel de equilibrar o ecossistema na unidade de conservação
Espécie tem o papel de equilibrar o ecossistema na unidade de conservação
Por: Marta Moraes - Edição: Alethea Muniz
Brasília (04/03/2016) - Marcado por sua beleza, e por ter uma das mais espetaculares cataratas do mundo, o
Parque Nacional do Iguaçu
, Unidade de Conservação administrada pelo ICMBio no Paraná, foi o segundo parque nacional brasileiro a ser criado, em janeiro de 1939. Setenta e sete anos após, o parque éo segundo mais visitado no Brasil, perdendo apenas para o Parque Nacional da Tijuca (onde fica o Corcovado). Em 2015, o Parque Nacional do Iguaçu recebeu 1.642.093 visitantes, sendo que 916 mil brasileiros e 725 mil estrangeiros. Em alguns meses, o número de visitantes estrangeiros ultrapassa o de brasileiros. Em 2015, por exemplo, nos meses de março e agosto, o local recebeu mais visitantes de outros países.
Com 185 mil hectares, os principais atrativos do local são as famosas Cataratas do Iguaçu e atividades que envolvem essa atração, tais como macuco safári (passeio de barco a jusante das cataratas), macuco ecoaventura (trilha e passeio de barco a montante das cataratas) e sobrevoo de helicóptero.
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Muito além da beleza das cataratas, no entanto, a Unidade de Conservação abriga o maior remanescente de Floresta Atlântica da região sul do Brasil e protege uma riquíssima biodiversidade, composta por espécies representativas da fauna e flora brasileiras, das quais algumas ameaçadas de extinção, como onça-pintada, puma, jacaré-de-papo-amarelo, papagaio-de-peito-roxo, gavião-real, peroba-rosa, articum e auracária, entre outras.
Essa expressiva biodiversidade, somada à paisagem singular das cataratas, fizeram do Parque Nacional do Iguaçu a primeira Unidade de Conservação (UC) do Brasil a ser declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), como Patrimônio Natural da Humanidade, em 1986.
ANIMAL SÍMBOLO
O símbolo do parque é a onça-pintada (Panthera onca), que permanece na lista dos animais ameaçados de extinção. De acordo com o censo populacional realizado em 2014, o local conta atualmente com 18 onças-pintadas. Segundo especialistas do Projeto Carnívoros do Iguaçu, desenvolvido desde 2009 no parque, houve uma redução drástica nos últimos anos: estudos apontam que em 15 anos o número de animais da espécie Phantera onca foi reduzido de 164, estimados em 1995, para os atuais 18.
Esses números são resultado de pesquisas realizadas pelo Projeto Carnívoros do Iguaçu (Brasil) em conjunto com o Projecto Yaguareté (Argentina). No Brasil, o projeto é desenvolvido pelo próprio parque, cuja gestão é de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). Já na Argentina, o projeto é realizado com apoio irrestrito do Parque Nacional Iguazu. Para os pesquisadores, o quadro é grave e requer muita atenção, principalmente pelo papel que a onça-pintada exerce na mata: o de equilibrar o ecossistema.
O PROJETO
Desde 2008 o Parque Nacional do Iguaçu desenvolve o projeto de pesquisa com felinos, principalmete a Panthera onca. O projeto Carnívoros do Iguaçu tem como objetivo geral subsidiar, por meio de informações da ecologia de onças-pintadas no local, o planejamento e o manejo da Unidade de Conservação assim como, contribuir para a preservação de uma população mínima viável de onça-pintada e, consequentemente, a conservação da biodiversidade no Alto Rio Paraná.
O Parque Nacional Iguazu, na Argentina, desenvolve projeto semelhante com objetivos muito próximos aos estabelecidos pelo projeto no Brasil. Segundo Raphael Xavier, analista ambiental e responsável pelo setor de Pesquisa no Parque Nacional do Iguaçu, as fases de campo, de colocação das armadilhas fotográficas, de campanhas de captura e de monitoramento de animais marcados obedecem a cronograma específico para que sejam desenvolvidas em conjunto, otimizando recursos humanos e equipamentos.
Raphael explica que a onça-pintada e a jacutinga, entre outras espécies, encontram no parqueum dos últimos refúgios no estado, onde podem se abrigar, alimentar e reproduzir, com relativa segurança, fora do alcance das pressões exercidas pelo homem.
PAPEL DAS ONÇAS
Um dos sinais mais evidentes de que o número de onças-pintadas vem diminuindo drasticamente é o desaparecimento de animais que servem de alimentação para os felinos. As cerca de 70 armadilhas fotográficas espalhadas pelo parque há muito não registram espécies como a queixada. “Esse e outras espécies, como o tatu, o cateto, a anta e o veado também são os animais preferidos pelos caçadores. Sem comida, as onças tendem a deixar a reserva e atacar animais domésticos e de criação”, explica Marina Xavier, bióloga e coordenadora de campo do projeto.
A espécie colabora para regular o tamanho de suas presas, como o veado e a capivara. Outro aspecto interessante é que o animal precisa de extensas áreas preservadas para sobreviver e reproduzir-se. A exigência da onça-pintada engloba as necessidades de todas as espécies. Por esse motivo, o felino é considerado “espécie guarda-chuva” pelos especialistas. Uma diminuição da população do felino resulta no desequilíbrio dos ecossistemas com consequências drásticas nas teias alimentares.
ESTRATÉGIA PARA PROTEÇÃO
Para Marina, a situação não está ainda mais crítica porque há um esforço de fiscalização, de pesquisadores e de organizações ligadas aos dois parques. ”Os esforços são grandes, porém são necessárias mais ações para que, nos próximos anos, haja uma população maior de onças-pintadas”, afirma Marina.
Segundo o chefe do Parque Nacional do Iguaçu, Ivan Carlos Baptiston, nos últimos anos foi montada uma estratégia para maior proteção do Parque Nacional do Iguaçu, com foco e priorização na redução da caça furtiva no interior da unidade. “Isso foi realizado a partir de atividades de inteligência, sistemas de dados georreferenciados, capacitação de agentes de fiscalização e policiais ambientais, sistematização e priorização de áreas de acordo com a criticidade deste sério problema que atinge o parque”, explica.
Para ele, hoje o programa de proteção está bem definido, com uma forte e estratégica parceria com a Polícia Ambiental do estado do Paraná e ações coordenadas com a Polícia Federal, com direcionamento de equipes para ações de localização e neutralização da caça no interior do parque. “A concentração de esforços no interior da unidade tem se demonstrado muito efetiva para a salvaguarda da vida selvagem”, destaca Ivan.
PREOCUPAÇÕES
A ação de caçadores e o abate por retaliação – quando o animal é morto por se aproximar de criações ou por abate de animais domésticos – estão entre as maiores preocupações dos especialistas. No início de 2012, uma onça-pintada foi morta por caçadores no lado argentino do parque. Um dos objetivos do projeto, reforça Ivan Carlos, é conscientizar e estimular as pessoas a comunicar os órgãos.
A reabertura da Estrada do Colono, via de 17 km que cortava a unidade de conservação entre Serranópolis do Iguaçu e Capanema é uma das atuais preocupações da administração do parque devido ao risco de atropelamentos. Em março de 2009, o Parque Nacional do Iguaçu registrou um caso de atropelamento de onça-pintada.
Diversas ações são realizadas para diminuição do número de atropelamentos de animais, tais como campanhas de orientação, monitoramento de velocidade, punição aos motoristas que não cumprem regras quanto a velocidade máxima. Desde 2014 foi implantado sistema de monitoramento através de GPS, onde todos os veículos de prestadores de serviço, veículos de turismo e veículos que necessitam se deslocar até administração do parque recebem um aparelho que monitora a velocidade de deslocamento no interior da Unidade.
SANTOS DUMONT
Segundo consta no livro "Frederico Engel, pioneiro no turismo e hotelaria em Foz do Iguaçu", de autoria de Renato Rios Pruner, Santos Dumond visitou as Cataratas do Iguaçu em abril de 1916. O autor conta que, extasiado com tanta beleza, Santos Dumond se revoltou ao saber que tudo aquilo pertencia a um particular, o uruguaio Jesús Val. Usando toda sua influência, conseguiu então que o governo da então Província do Paraná desapropriasse as terras, declarando-as de utilidade pública, ainda em 1916. Bem mais tarde, em 1939, o governo federal criou o Parque Nacional do Iguaçu. Em 1979, foi inaugurada uma estátua de Santos Dumont perto do local que ele visitou.
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