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Parque de Brasília combate espécies exóticas
Objetivo é preservar as plantas nativas do Cerrado
Sandra Tavares
sandra.tavares@icmbio.gov.br
Brasília (25/06/2012)- Desde 2006, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio de um projeto específico, vem desenvolvendo ações de manejo de espécies exóticas invasoras dentro do Parque Nacional de Brasília.
“Entre as ações de manejo já realizadas e em execução, está à substituição de árvores exóticas por árvores naturais dos ecossistemas protegidos pelo Parque. Assim, nas áreas das piscinas, do centro de visitantes, do complexo administrativo e das residências funcionais, ao longo destes anos, mais de duas mil árvores já foram plantadas”, destaca o chefe do Parna de Brasília, Amauri Motta.
Segundo Amauri o projeto tem como objetivos recuperar sítios de ecossistemas perturbados e alterados pela presença de plantas exóticas e valorizar a flora nativa ornamental, por intermédio de um novo arranjo paisagístico para as áreas verdes do Parque.
Os estudos que orientam as ações de manejo levantaram 118 espécies exóticas à flora dentro da unidade de conservação. Desse total, 22% são tratadas como espécies-problema. “São plantas que se enquadram como exóticas persistentes com risco potencial de invasão de médio a alto, exóticas em estágio inicial de invasão e exóticas em estagio intermediário e avançado de invasão”, frisa a coordenadora do projeto, analista ambiental e doutora Christiane Horowitz.
Valendo-se do “princípio da precaução”, a lista inclui aquelas com comportamento de espécies invasoras em outras unidades de conservação. O Pinus sp , por exemplo é uma das espécies invasoras. Por ser bastante agressivo nas unidades de conservação da região Sul, a espécie se mostra nociva também no Cerrado. “No Parque Nacional de Brasília essa exótica, com exceção dos ambientes úmidos, coloniza diversas fisionomias, principalmente formações campestres e savânicas”, explica Christiane.
Apesar das dificuldades logísticas comuns às unidades de conservação, o parque erradicou os pinheiros visíveis e acessíveis nos 27 mil hectares de sua poligonal cercada. “Mais de 380 árvores, de pequeno a grande porte, dispersas ou agrupadas, foram cortadas e aneladas nestes últimos 2 anos”, destaca Horowitz. Inúmeras espécies nativas deixaram de ser submetidas aos efeitos nocivos da invasão. Um exemplo refere-se à gramínea Gymnopogon doellii, ameaçada de extinção. “Um maciço de Pinus sp avançava sobre uma área que abriga hoje a única população conhecida e protegida desta rara gramínea, que outrora era encontrada no Cerrado de Minas Gerais, de Goiás e do Distrito Federal”, explica a coordenadora.
Com esses esforços, o Parque Nacional de Brasília contribui para a solução de um dos principais problemas de manejo enfrentados pelas unidades de conservação, ou seja, a invasão biológica, cujo maior impacto incide sobre a biodiversidade a preservar. O projeto é coordenado pela analista ambiental do Núcleo de Pesquisa e Manejo do Parque Nacional de Brasília e doutora Christiane Horowitz, e conta com a participação de especialistas do Ibama, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), e, mais recentemente, da Coordenação Geral de Pesquisa (CGPEQ/ICMBio) e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Caatinga (CECAT/ICMBio).
Um pouco sobre a história de invasões de exóticas
A primeira referência sobre as adversidades que as espécies exóticas causam à biota nativa está na obra “A Origem das Espécies” de Charles Darwin (1859). É neste clássico, que Darwin lança a hipótese “ausência de inimigos naturais” para explicar o processo de estabelecimento e dominância de espécies introduzidas em ambientes onde não evoluíram naturalmente.
Desde então, com a validação de estudos e pesquisas, a comunidade científica edifica teorias e conceitos que trazem luz à questão. As espécies exóticas invasoras, além de sobreviverem e se adaptarem ao novo meio, exercem dominância sobre a biodiversidade nativa. Em função da amplitude dos impactos, cuja dimensão pode ser irreversível, as espécies exóticas invasoras constituem a segunda maior causa de perda da biodiversidade no mundo.
O tema invasão biológica, ao ultrapassar as searas acadêmicas e técnicas, aos poucos se efetiva por ações de políticas públicas voltadas à conservação da natureza. No âmbito federal, dispositivos legais proíbem a presença de espécies exóticas em Unidades de Conservação de Proteção Integral, em específico: o Decreto-Lei nº 84.017/79, que regulamenta os Parques Nacionais e Reservas Equivalentes; a Lei n° 9.985/00, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e a Lei n° 9.605/98 que trata dos Crimes Ambientais. Alinhados ao ordenamento maior, os planos de manejo das unidades de conservação estabelecem programas com normas e atividades que visam à prevenção e ao controle dessas espécies.
O Parque Nacional de Brasília contribui para a preservação da rica biodiversidade do País, em específico, das espécies naturais do Cerrado do Planalto Central. Entretanto, espécies exóticas oriundas de regiões geográficas distantes, muitas de outros continentes, foram plantadas na área do Parque ou nas suas proximidades e agora algumas proliferam em seu interior.
As plantas exóticas interagem negativamente com as plantas nativas por competição interespecífica - por recursos (água, nutrientes, luz), ocupação de espaço e crescimento em cobertura. Além disso, muitas plantas exóticas liberam pelas raízes, folhas e sementes substâncias que são tóxicas para outras plantas. Esse fenômeno chama-se alelopatia. Toda essa disputa pode causar efeito depressor sobre as nativas, excluindo-as do local.
Comunicação ICMBio
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