Notícias
Nasceram filhotes de ararinha-azul, espécie extinta na natureza
Um marco para o Projeto Ararinha na Natureza, coordenado pelo ICMBio
Nana Brasil
nana.nascimento@icmbio.gov.br
Brasília (22/12/2014) — Dois filhotes de ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), espécie considerada extinta na natureza desde o ano 2000, nasceram no criadouro científico Nest (no final de outubro), no interior de São Paulo. Com cerca de nove semanas de vida, os filhotes estão sob os cuidados da equipe do Nest, instituição cadastrada no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Originária da região de Curaçá, na Bahia, a ararinha-azul teve sua população dizimada, sobretudo devido ao tráfico de animais. Hoje, existem 92 exemplares em cativeiro, dos quais apenas 11 estão no Brasil.
A reprodução de ararinhas-azuis, que não acontecia no país há 14 anos, foi comemorada por todos os envolvidos no Projeto Ararinha na Natureza, cujo objetivo é reproduzir as aves em criadouros e, futuramente, reintroduzi-las em seu habitat natural, a Caatinga. Coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio), o projeto conta com a parceria da Vale e de organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, como o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil).
"Tivemos um êxito muito grande. O nascimento dos filhotes é o maior ganho decorrente do projeto não só para a ciência, mas também para a sociedade. Isso nos possibilita dar continuidade à proposta de reintrodução da espécie em seu ambiente natural", explicou Gleuza Jesué, diretora de Meio Ambiente da Vale. Importante ressaltar que mantenedores da ararinha-azul no Brasil e no exterior trabalham para viabilizar a reprodução da espécie em cativeiro: a Al-Wabra Wildlife Preservation, no Catar; a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), na Alemanha; o criadouro Nest e a Fundação Lymington, no Brasil.
De acordo com Patrícia Serafini, analista ambiental do CEMAVE/ICMBio e coordenadora do Programa de Cativeiro da Ararinha-azul, a reprodução das aves é feita de forma articulada entre os criadouros, que conduzem o manejo de todos os indivíduos como uma população única. Ainda segundo a coordenadora, o Projeto Ararinha na Natureza faz parte da implementação do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-azul, consolidado em 2011 pelo ICMBio. "O projeto tem duas frentes de atuação: a reprodução e manejo da espécie em cativeiro e o trabalho de campo, que envolve educação ambiental, sensibilização das comunidades e criação de áreas protegidas", esclareceu Patrícia.
Próximos passos
"O nascimento dos filhotes resulta do empenho e da articulação entre os diferentes parceiros do projeto, viabilizado pela Carteira Fauna, mecanismo inovador criado pelo Funbio, que permite o financiamento de projetos de conservação por meio de doações como a da Vale e também por patrocínio e recursos de sanções penais", pontuou Rosa Lemos de Sá, CEO do Funbio.
Para o coordenador geral de Manejo para Conservação do ICMBio, Ugo Vercillo, o nascimento das ararinhas demonstra que todo o esforço empreendido nos últimos anos está dando resultados. "A chegada desses filhotes representa um grande avanço para o país. Este passo só foi possível por que os profissionais brasileiros trabalharam em cooperação com os especialistas da Alemanha e do Catar", avaliou. A última reprodução em cativeiro feita no Brasil foi há 14 anos e resultou no nascimento da ararinha batizada de Flor, mãe dos filhotes que acabam de chegar. "Depois da formalização de todos os instrumentos, a exemplo do Plano de Ação Nacional, esta foi a primeira vez que conseguimos reproduzir a ararinha-azul", comemorou Vercillo.
A meta agora, segundo a coordenadora Patrícia Serafini, é aumentar o número de exemplares da espécie para 150 e reintroduzi-los na natureza até 2021. Além disso, já foram feitos o estudo prévio e o diagnóstico necessário para a criação de uma Unidade de Conservação (UC) na região de Curaçá (BA), que vai possibilitar um ambiente adequado para a volta da ararinha-azul ao seu habitat. "Estamos emocionados e acompanhando com carinho esses filhotes, que foram muito aguardados. Esperamos que sejam os primeiros de muitos", afirmou Patrícia.
O nascimento dos filhotes
A chegada das ararinhas ocorreu em dias diferentes (25 e 27 de outubro) e a equipe do criadouro Nest optou pelos métodos mais naturais possíveis. Desde o pareamento do casal, em outubro de 2013, passando pela cópula espontânea, até a eclosão dos ovos: tudo foi feito na intenção de minimizar as intervenções humanas.
"Nas primeiras semanas, a alimentação dos filhotes também foi feita pelos pais, sem maiores interferências. Agora, estamos dando continuidade manualmente", contou o veterinário do Nest Ramiro Dias, responsável pelo monitoramento das aves, trabalho feito em conjunto com o professor da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Pereira, e com a bióloga do Zoológico de São Paulo, Fernanda Junqueira. Segundo Ramiro, os filhotes, que nasceram com cerca de 15 gramas (o peso de um adulto varia de 310 a 340 gramas), estão saudáveis e se desenvolvendo de maneira excepcional. Para ele, os pais, Flor e Blu, cuidaram muito bem de sua cria.
Ainda sem sexo definido (o material genético está em análise), as ararinhas deverão ter seus nomes escolhidos através de votação pública, que será promovida pelo ICMBio por meio das redes sociais.
Sobre os parceiros do projeto
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE)
Vinculado inicialmente ao Ibama e hoje ao ICMBio, foi criado em 1977 com o objetivo de difundir e coordenar o anilhamento como técnica de pesquisa com aves em nível nacional por meio do Sistema Nacional de Anilhamento. Atualmente atua no desenvolvimento de pesquisas com aves brasileiras, sendo responsável pela avaliação do estado de conservação das aves brasileiras, lista de espécies ameaçadas, elaboração e coordenação dos Planos de Ação Nacional para espécies ameaçadas, monitoramento da efetividade das Unidades de Conservação Federais e programas de monitoramento relacionados ao licenciamento ambiental, na esfera federal. http://hom-pu.serpro.gov.br/icmbio/pt-br/cemave
Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil)
A Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos voltada à preservação das aves brasileiras. A SAVE Brasil representa a aliança BirdLife International no país e compartilha suas prioridades, políticas e programas de conservação para implementar os objetivos globais da aliança no âmbito nacional. Com experiência consolidada de mais de 10 anos em conservação da biodiversidade, a SAVE Brasil desenvolve programas e projetos em conjunto com organizações não-governamentais, governos, comunidades locais e empresas, com a missão de preservar as aves e os ambientes naturais por um planeta saudável para as atuais e futuras gerações. www.savebrasil.org.br
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio – Carteira Fauna Brasil)
O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade é uma associação civil sem fins lucrativos que mobiliza recursos e oferece serviços em prol da conservação da biodiversidade como: desenho e gestão de mecanismos financeiros, seleção e gerenciamento de projetos, compras e contratações para projetos ambientais e articulação de atores em redes nacionais e internacionais. Administrada pelo Funbio, a Carteira de Conservação da Fauna e dos Recursos Pesqueiros Brasileiros – Carteira Fauna Brasil, é fruto de uma parceria com o Ibama, o ICMBio e o Ministério Público Federal, e tem por objetivo financiar programas e projetos de conservação da fauna brasileira com recursos oriundos de sanções penais, multas administrativas ambientais, doações, patrocínios e outras fontes.www.funbio.org.br
Vale
Líder global na produção de minério de ferro e pelotas, a Vale tem sede no Brasil e atua em mais de 30 países nos cinco continentes. A empresa tem como missão transformar recursos naturais em prosperidade e desenvolvimento sustentável, trabalhando de forma responsável e comprometida com a sustentabilidade de seus negócios. A Vale protege ou ajuda a proteger mais de 12,4 mil km² de áreas naturais, que são quase 2,5 vezes maiores do que o somatório de suas unidades operacionais, de 4,9 mil km². As áreas protegidas abrangem os biomas Amazônia, Mata Atlântica e de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado – todas de alto valor para a conservação da biodiversidade. Em 2013, a Vale investiu cerca de US$ 1,3 bilhão em ações socioambientais. Mais informações sobre a empresa no site: www.vale.com.
Al-Wabra Wildlife Preservation
A fazenda Al-Wabra é um oásis de áreas verdes, palmeiras e muitos animais selvagens raros de todas as partes do mundo. Movida pela paixão à natureza do Sheik Saoud Bin Mohammed Bin Ali Al-Thani, uma equipe internacional de especialistas veterinários, biólogos e criadores se dedica ao cuidado e à conservação dos animais raros e, em grande parte, ameaçados de extinção, que podem ser encontrados na fazenda. awwp.alwabra.com
ACTP - Association for the Conservation of Threatened Parrots
A Association for the Conservation of Threatened Parrots (Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados - ACTP) é uma organização registrada sem fins lucrativos, com o objetivo de preservar pássaros ameaçados e seus habitats ao redor do mundo, utilizando espécies raras de papagaio como exemplos e embaixadores pela conservação total de ecossistemas e comunidades de pássaros. Em um mundo onde um número cada vez maior de espécies e habitats ameaçados luta por fontes de apoio financeiro que não aumentam de forma adequada, a ACTP irá desenvolver e aplicar novos métodos para o financiamento da conservação de papagaios, seguindo o princípio de "Pode A Vida Selvagem Pagar por Si Mesma?". Para alcançar estes objetivos, a ACTP irá cooperar com instituições científicas, organizações internacionais de conservação, autoridades governamentais e a grande comunidade de criadores institucionais e privados de papagaios. www.act-parrots.eu
Nest
Autorizado pelo Ibama, o Nest - New Ecological Scientific Treatment é um criadouro científico da fauna silvestre para fins de conservação. Constitui uma instituição particular, sem fins lucrativos, que tem como princípios o bem-estar, a proteção e a conservação de psitacídeos. O local é um centro de acolhimento e estudo das três araras-azuis brasileiras: arara-azul-grande, arara-azul-de-lear e ararinha-azul.
Fundação Lymington
A Fundação Lymington é uma fundação brasileira criada em 2004. O terreno, edifícios e instalações foram doados pelos fundadores e é hoje o local de um centro de criação de aves ameaçadas de extinção. A fundação colabora com o Ibama, ICMBio, CEMAVE, Secretaria de Meio Ambiente e Governo de São Paulo. A Fundação fornece suporte e infraestrutura para cursos universitários de graduação e pesquisas de pós-graduação, além de uma plataforma para atividades ambientais públicas e privadas.