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BOLETIM TÉCNICO
Mais de 150 botos morrem no interior do Amazonas devido à seca extrema
Pesquisadores realizam necropsia em boto-vermelho (Inia geoffrensis) em Tefé, Amazonas - Foto: Miguel Monteiro
A Operação Emergência Botos Tefé, instaurada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), está correndo contra o tempo para sanar a emergência ambiental e sanitária que atinge o Lago Tefé, no médio Rio Solimões, interior do Amazonas, desde o dia 23 de setembro. A equipe é composta por servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), contando com o apoio de outras 23 instituições de governo e não governamentais.
No Lago Tefé há um trecho chamado Enseada do Papucu, que tem sido crítico para o evento de mortalidade de botos-vermelhos (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis) devido à elevada temperatura da água que vem sendo medida nesta área. No dia 28 de setembro, quando 70 golfinhos morreram, as medições às 16h indicavam 39,1°C neste trecho, muito acima da temperatura normal do lago, de 30°C. Ainda assim, muitos botos e tucuxis seguem frequentando o local devido à abundância de peixes no local, sua alimentação básica.
Para evitar mais mortes de botos e tucuxis neste trecho crítico, estamos implementando uma estratégia de prevenção para evitar uma intervenção direta com os animais, que sabidamente são sensíveis a situações de estresse. A estratégia consiste no isolamento da Enseada do Papucu e condução dos animais para fora deste trecho crítico. O isolamento será feito com a implementação de uma barreira física chamada “pari”, que é feita de estacas de madeira e é baseada no conhecimento tradicional ribeirinho. Posteriormente, será realizada a condução dos animais para áreas mais profundas e menos quentes do Lago Tefé.
Entenda o caso
Desde o dia 23 de setembro, foi identificado um evento incomum de mortalidade de botos e tucuxis na região do Lago Tefé, no Médio Solimões, no interior do Amazonas. Um total de 153 indivíduos, sendo 130 botos vermelhos e 23 tucuxis. A seca e a temperatura da água, que chegou a 39,1°C no pico de mortalidade no dia 28 de setembro, quando 70 indivíduos morreram, estão diretamente relacionados ao ocorrido, apesar de outras causas de morte ainda não estarem descartadas, como alguma contaminação da água ou doença nos animais. Além das altas temperaturas medidas no lago durante as tardes, há também uma grande variação da temperatura da água durante o dia, variando entre 29° e 38°C.
Dentre os resultados registrados, até o momento, estão: 153 botos mortos, sendo 130 botos vermelhos e 23 tucuxis. Desse total, tivemos 104 animais necropsiados e amostras de tecidos e órgãos dos animais enviados para diversos laboratórios especializados distribuídos pelo Brasil. Tivemos 17 indivíduos já avaliados com análises histológicas e até o momento não há indício de um agente infeccioso relacionado como causa primária da mortalidade. O diagnóstico molecular (PCR) de 18 indivíduos também deu resultado negativo para agentes infecciosos, como vírus e bactérias, associados a mortes em massa.
A operação do Incidente Emergência Botos Tefé foi dividida em três frentes principais: Setores Operação Vivos, Operação Mortos e Monitoramento Ambiental. O Setor Operação Vivos tem o objetivo de monitorar os grupos de botos e tucuxis ao longo do Lago Tefé. No caso de algum indivíduo apresentar sinais de anormalidade, temos condições de resgatá-lo e encaminhá-lo ao Flutuante de Reabilitação, para monitoramento e possível tratamento e intervenção. Até o momento nenhum animal foi resgatado. O Setor Operação Mortos tem o objetivo de identificar e buscar carcaças na região e realizar a necropsia, para coleta de amostras para análises laboratoriais (histopatologia, pesquisa de doenças infecciosas, pesquisa de elementos tóxicos e biotoxinas, etc.).
O Setor de Monitoramento Ambiental é composto por três frentes de monitoramento: Água, Peixes e Fitoplâncton. De todas as variáveis ambientais e biológicas que temos analisados, a única que tem mostrado um comportamento anômalo é a temperatura da água. A mortandade de peixes encontrada é normal para eventos de seca extrema na região. Pela equipe de Fitoplâncton, especialistas da consultoria ambiental AquaViridi, que atuam como voluntários na Operação, têm monitorado o lago e identificaram as espécies de fitoplâncton na Enseada do Papucu, no Lago Tefé. Foi identificada uma proliferação da alga Euglena sanguinea desde o dia 3 de outubro. Apesar de ter potencial ictiotóxico, isto é, que pode causar mortalidade de peixes, até o momento não há evidências de que sua toxina esteja relacionada à mortalidade de golfinhos nem que tenha causado a morte de peixes no Lago Tefé.
O Incidente Emergência Botos Tefé foi instaurado pelo ICMBio com apoio técnico do Instituto Mamirauá. No total, mais de 100 pessoas estão envolvidas na operação, de diversas instituições brasileiras: ICMBio, Instituto Mamirauá, Sea Shepherd Brasil, WWF-Brasil, Exército Brasileiro, Marinha do Brasil, GRAD, IBAMA, Aquasis, Aqua Viridi, Instituto Aqualie, Corpo de Bombeiros, Fiocruz, INPA, Polícia Militar, R3 Animal, Greenpeace Brasil, Instituto Baleia Jubarte, LAPCOM-USP, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Conservação de Tefé (SEMMAC) e Prefeitura de Tefé, Sea World.
Por Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
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