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ICMBio promove Seminário para discutir os impactos do incêndio no Pantanal
Seminário contou com a participação do ICMBio, Ibama e MMA (Foto: Mariana Oliveira)
Em 2020, o Pantanal foi atingido por incêndios de grandes proporções em unidades de conservação e propriedades privadas, o que foi considerado o pior evento de incêndio no bioma, com 26% do território queimado.
Como uma forma de resposta ao incidente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio da sua Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio), desenvolveu um projeto inovador, que uniu os esforços de sete Centros Nacionais de Pesquisa e Conservação como o do Cerrado (CBC), Aves Silvestres (Cemave), Mamíferos Carnívoros (Cenap), Aquática Continental (Cepta), da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT), Primatas Brasileiros (CPB) e Répteis e Anfíbios (RAN).
O Seminário foi transmitido pelo Teams e contou com a abertura do Diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul), André Borges; do Diretor do Departamento de Conservação de Uso Sustentável da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Bráulio Dias; o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho; o presidente do ICMBio, Mauro Pires e o Secretário Executivo do MMA, João Paulo Capobianco.
Durante o evento, foram apresentados alguns números que dão ideia dos impactos do fogo. Segundo o analista ambiental do Cenap, Christian Berlinck, que coordenou pesquisas sobre a fauna no bioma, em estimativas conservadoras, é possível que o incêndio tenha impactado indiretamente mais de 72 milhões de vertebrados e outros 4,5 bilhões de invertebrados. Exemplos de impactos indiretos são: a alteração fisiológica em peixes por conta da redução de oxigenação da água; aumento da pressão por território e comida, falta de abrigo e alimentos e prejuízos à renovação da fauna.
Esses efeitos se refletiram, até mesmo, no estado de conservação da fauna. Segundo Berlinck, algumas espécies de cobras, como a H. boitata, espécie endêmica do Pantanal não foi mais encontrada após o incêndio, e como consequência direta, entrará na lista nacional de espécies da fauna em risco de extinção, em uma das categorias mais graves de risco. Segundo o diretor da Dibio, Marcelo Marcelino, estudos de campo serão desenvolvidos para tentar encontrar a espécie e determinar com maior precisão seu estado de risco de extinção. Outro exemplo é o sagui-de-rabo-preto (Mico melanurus), que teve seu estado de conservação agravado.
O incêndio do Pantanal também teve forte impacto na vida e economia dos pantaneiros. O fogo atingiu estruturas como estradas, pontes, casas e pousadas. O gado doméstico também foi prejudicado.
O estudo foi parabenizado pelo Secretário Executivo do MMA, João Paulo Capobianco. “É mais uma ação afirmativa do ICMBio e uma conquista para o Brasil. Tenho certeza de que esse incêndio seria muito pior sem a existência das instituições como o ICMBio”, elogiou Capobianco. “A sociedade brasileira teve a possibilidade de entender o que aconteceu e mensurar o dano, o que é fundamental para a execução e formulação de políticas públicas. A informação não pode ficar na prateleira, o poder público precisa agir de forma preventiva”.
Recomendações
Os estudos também nortearam a tomada de decisões para responder à emergência ambiental, como o monitoramento dos animais vertebrados, o investimento em treinamento de brigadas, o monitoramento de sinais de fumaça por câmeras automáticas e a criação de Centros de Reabilitação.
Foram realizadas algumas recomendações, como o Plano de Manejo Integrado do Fogo, a necessidade de gestão transfronteiriça com Bolívia e Paraguai; intercâmbio com informações de outras áreas úmidas; aumentar e manter equipe especializadas no território e aprovação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.
“Temos que enfrentar a situação, não podemos dourar a pílula”, comentou o presidente do ICMBio, Mauro Pires. “As recomendações trazidas são um menu de ações que precisamos implementar para evitar situações como estas”, finaliza o presidente do Instituto.
Veja abaixo a participação de cada Centro
Centro Nacional de Avaliação da Biodiversidade e de Pesquisa e Conservação do Cerrado (CBC): Avaliação na paisagem e biodiversidade. Verificou que são necessárias ações de restauração, que podem levar cerca de 30 anos para surtir efeitos.
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave): Avaliação das aves, com foco na arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus). A abundância de araras-azuis avistadas declinou em até 64% num dos locais amostrados.
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap): Estimativa da mortalidade e verificação que as áreas de regeneração atraíam herbívoros por causa da rebrota.
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Aquática Continental (Cepta): Avaliou que a produção de pescado como o pintado, a cachara e o pacu diminuiu após os incêndios.
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT): Avaliou os efeitos que os incêndios causaram sobre o modo de vida de populações tradicionais de Barão do Melgaço.
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB): Verificou a queda de abundância em cinco espécies em áreas anteriormente amostradas devido à mortalidade e perda de hábitat.
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN): Apontou que quase metade dos óbitos de répteis pós-incêndios se referia a espécies de serpentes aquáticas ou semi-aquáticas.
Comunicação ICMBio
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