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Instituto participa de inventário ornitológico inédito
Pesquisadores registraram um total de 380 espécies na região de Boca do Acre
Brasília (27/01/2012) - O primeiro inventário das espécies de aves na região de Boca do Acre, no sudeste do Amazonas, foi realizado nas Florestas Nacionais do Iquiri e do Purus. Conduzido pelo pesquisador Dr. Mario Cohn-Haft e equipe, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), entre os dias 28 de novembro e 10 de dezembro, a pesquisa teve apoio logístico das unidades de conservação (UC) de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O objetivo principal da iniciativa, liderada pela Dra. Camila Ribas, foi pesquisar a avifauna residente em manchas de campinas naturais (vegetação baixa que lembra o Cerrado) cercadas por Floresta Amazônica. A maior dificuldade de estudar esse tipo de ambiente é o acesso as áreas. Pelo isolamento, muitas vezes só é possível ser atingida com ajuda de helicóptero. O diferencial do trabalho na região de Boca do Acre foi a facilidade de acesso a área de campina, feito por terra e com estrutura logística viabilizada.
Durante os trabalhos os pesquisadores puderam ainda, realizar um inventário no interior da Floresta Nacional do Purus, mais precisamente no rio Inauini. Ao longo deste rio ocorrem manchas de florestas com bambus nativos (tabocais) e a avifauna que poderia habitar esta formação florestal chamou atenção da equipe. Para pesquisar estes tabocais, os pesquisadores contaram com o apoio logístico do projeto de pesquisa da Diversidade e Caça de Mamíferos e Quelônios na Floresta Nacional do Purus, que vem sendo conduzido pelo chefe da unidade, Ricardo Sampaio.
Para o chefe da Floresta Nacional do Purus, Ricardo Sampaio, o primeiro inventário ornitológico na região vai contribuir para a gestão da unidade de conservação e para formulação do plano de manejo da Floresta Nacional do Iquiri que ainda não foi elaborado. “De forma integrada podemos aumentar o número de pesquisas realizadas em nossas UC. A região de Boca do Acre é importantíssima biogeograficamente. A ideia é fomentar o ecoturismo na região, gerando renda de forma sustentável aos moradores tradicionais, além de melhorar a estrutura logística de ambas as florestas e do escritório regional do ICMBio”, afirmou Ricardo.
Segundo o pesquisador Dr. Mario Cohn-Haft, a explicação para esta extraordinária biodiversidade está na diversidade de ambientes que ocorrem na região. Dentro de poucos quilômetros da sede do município encontram-se tipos diversos de floresta, incluindo matas de terra firme, com e sem taboca, mata de várzea, campinarana e as campinas, cada tipo com suas espécies particulares de aves. “Em cinco dias em cada localidade registramos um total de 380 espécies de pássaros. Estimamos que ocorram na região, aproximadamente 700 espécies, ou seja, mais da metade de todas as aves amazônicas. A região representa o ponto de encontro entre a avifauna da Amazônia central com a típica da Amazônia peruana ou acreana. O resultado dessa mistura é uma diversidade estupenda”, destacou.
No meio de todos esses pássaros estão algumas espécies raras ou muito procuradas por observadores de aves como, por exemplo, o maracanã-de-cabeça-azul ( Primolius couloni ), a choca-do-bambu ( Cymbilaimus santaemariae ), a choca-preta ( Neoctantes niger ), o formigueiro-do-bambu ( Percnostola lophotes ), a garrincha-cinza ( Cantorchilus griseus ), a pipira-azul ( Cyanicterus cyanicterus ), e uma espécie nova de gralha ( Cyanocorax sp .), ainda não descrita formalmente pela ciência.
Essas e outras aves encontradas têm um apelo especial para um tipo de ecoturista e a facilidade de encontrar todas elas em uma viagem cria um potencial grande para o turismo de observação de aves na região, atividade que movimenta milhões de dólares no mundo todo e representa uma alternativa de renda para moradores locais.
“Em poucos dias detectamos todas as cinco espécies de urutaus, aves noturnas da família da “mãe-da-lua”, que são pouco conhecidas. A última e talvez mais rara dessas, o urutau-ferrugem ( Nyctibius bracteatus ) só foi encontrado porque o morador que estava nos ajudando reconheceu uma foto do animal e nos levou para a localidade onde disse ter visto um há poucas semanas, próximo aos tabocais, na Floresta Nacional do Purus”, comentou Cohn-Haft.
Tal fato destaca a importância dos moradores tradicionais, residentes das unidades de conservação como colaboradores na pesquisa científica. “O apoio do ICMBio em Boca do Acre, e, em especial, dos moradores locais e da brigada de incêndio foram fundamentais no sucesso da expedição a áreas que normalmente são de difícil acesso. Poder chegar de carro a um exemplar tão grande e bem preservado de campina amazônica é um privilégio que não deve ser reservado somente para pesquisadores. O público merece ver isso”, concluiu o pesquisador.
As duas áreas estudadas são Florestas Nacionais, categoria de unidade de conservação criadas com o objetivo de uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e pesquisa científica, voltada para a descoberta de métodos de exploração sustentável. A iniciativa integrada entre as duas unidades de conservação promove não somente um melhor conhecimento sobre a biodiversidade, como também auxilia no conhecimento sobre a diversidade na região de Boca do Acre, uma região que apresenta grande biodiversidade.
Comunicação ICMBio
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