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Instituto participa de seminário sobre queimadas
Evento em Brasília reuniu especialistas de vários países
Sandra Tavares
sandra.tavares@icmbio.gov.br
Brasília (13/12/2012) – Terminou nesta quinta (13), em Brasília, o workshop internacional “Severidade de queimadas e respostas ecossistêmicas: implicações para a conservação e manejo da biodiversidade em ecossistemas de savanas”. O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Roberto Vizentin, participou da abertura, na terça-feira (11), no Nobile Lakeside Hotel, Setor Hoteleiro Turístico Norte.
O presidente destacou a importância de eventos dessa magnitude para o aprimoramento de ações de combate efetivas. “Temos que buscar um outro arranjo estrutural. O Brasil caminha a passos largos para um patamar de produção agrícola, podendo chegar ao posto de segundo ou terceiro maior produtor do mundo, e as queimadas estão inexoravelmente dentro desse contexto de pressão”, frisou Vizentin.
Ele reforçou a importância das trocas de experiências internacionais com o Brasil, para que se avalie o que pode ser melhor aplicado ao Cerrado. “A partir desse debate poderemos definir melhor terminologias e parâmetros de medição”, frisou ele.
Antes dele, o diretor do Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento (DPCD) do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Francisco José Barbosa de Oliveira Filho, destacou a importância de uma mudança de paradigma no que se refere ao uso da terra, para que desmatamento e queimadas aconteçam de forma organizada e controlada.
“Com o novo código florestal a ministra de Meio Ambiente nos solicitou atenção ao capítulo que trata das queimadas/emissões e que construamos uma política em bases técnico-científicas. E nesse sentido este evento é uma importante etapa”, frisou o diretor Francisco. Segundo ele, é preciso olhar para os serviços oferecidos pelo bioma Cerrado com relação à recursos hídricos, biodiversidade e sequestro de carbono, dentro de uma perspectiva de uso da terra.
Coordenador do ICMBio deu palestra
Na sequência, os participantes assistiram a duas palestras, a primeira da pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Heloísa Miranda, que apresentou o resultado de estudos realizados ao longo de 20 anos no bioma Cerrado, e a segunda proferida pelo coordenador-geral de Proteção Ambiental do ICMBio, Paulo Carneiro, que falou um pouco sobre o histórico de medições de queimadas dentro de Unidades de Conservação federais – trabalho feito ao longo dos últimos três anos.
Segundo Carneiro, em 2012 houve queima de 1 milhão e 600 mil hectares em UCs federais, sendo 88% desse total no bioma Cerrado. A principal estratégia do ICMBio para o combate aos incêndios tem sido a estruturação e fortalecimento das brigadas de prevenção e combate aos incêndios florestais, bem como a feitura de aceiros nas UCs de maior histórico de incêndio.
“Esperamos que deste evento saiam subsídios para a tomada de decisões de governo em relação ao tema, que possamos compreender melhor o papel do fogo nos biomas, mapeando as áreas atingidas e qual o impacto do fogo nos diferentes componentes dos ecossistemas”, frisou Carneiro.
Ainda segundo o coordenador-geral, o estabelecimento de parcerias é fundamental, bem como os países poderem estabelecer protocolos comuns para avaliação da severidade das queimadas em ecossistemas de savanas, como é comum no Cerrado.
Resultados serão usados para criar sistema de informação
O evento reuniu especialistas em ecologia do fogo e sensoriamento remoto do Brasil, África do Sul, Austrália, Estados Unidos, Alemanha e Canadá com o objetivo de discutir o impacto do fogo em ecossistemas savânicos e compartilhar metodologias para o cálculo do impacto do fogo, seja no campo ou com aplicações de sensoriamento remoto.
O evento buscou ainda fornecer dados sobre os impactos diretos e indiretos das queimadas e incêndios florestais tais como emissões, produtividade de curto e longo prazo, e mudanças na vegetação, que ajudarão no cálculo do balanço de carbono dos ecossistemas savânicos.
Os resultados do Workshop serão utilizados para o desenvolvimento de um sistema de informação que irá apoiar a tomada de decisão, bem como aprimorar o monitoramento do fogo e das emissões no Cerrado brasileiro.
Um pouco sobre o Cerrado
O Cerrado é a formação savânica mais biodiversa do mundo. O segundo Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), de 2010, estima que 24% das emissões de CO2 relacionadas ao uso da terra, entre 2003 e 2005, ocorreram na região do Cerrado, principalmente pelo desmatamento e por queimadas.
Há centenas de anos as queimadas são usadas no ecossistema de savana no Brasil, para preparar a terra para fins agrícolas e pastoris, na caça, no controle de pragas e outras finalidades de manejo da terra. As queimadas feitas pelas populações locais contribuíam para criar e manter os ecossistemas, a biodiversidade do ecossistema de savana e florestal do Cerrado.
Para a população rural, a queimada é uma ferramenta economicamente viável para alcançar os objetivos de manejo da terra, e muitas comunidades locais possuem conhecimento tradicional sobre como manejar e prevenir as queimadas. Em décadas recentes, porém, o complexo equilíbrio entre pessoas, queimadas e o ambiente foi perturbado, devido a mudanças demográficas e práticas insustentáveis de uso da terra. Há uma preocupação crescente com o aumento do número de queimadas, haja vista seus impactos sobre os ecossistemas, notadamente o Cerrado, e sobre as mudanças do no clima.
A redução de 40% das emissões relacionadas ao uso da terra no Cerrado até 2020, é uma meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) e do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado).
A interação entre os processos de desmatamento e degradação e o uso das queimadas e emissões associadas ainda não é totalmente conhecida. Além disso, a composição heterogênea da vegetação do Cerrado e a intensidade variável dos sistemas de uso da terra, tornam o monitoramento do desmatamento e da degradação muito mais complexo do que para o bioma amazônico. Também sabe-se muito pouco sobre se emissões resultantes das queimadas no Cerrado são emissões líquidas, já que grande parte das queimadas anuais ocorre em ecossistemas de savana, onde as emissões podem ser compensadas pelas rebrotas.
Projeto de prevenção, controle e monitoramento
Neste contexto, o Governo Brasileiro lançou o projeto “Prevenção, controle e monitoramento de queimadas irregulares e incêndios florestais no Cerrado”, coordenado pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA) e implementado em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe e o Governo do Estado do Tocantins, por meio de sua Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável(Semades) e do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).
O projeto é cofinanciado pelo Ministério Federal do Meio Ambiente, da Proteção da Natureza e da Segurança Nuclear da Alemanha (BMU), no âmbito da Iniciativa Climática Internacional (ICI), por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.
O objetivo do projeto é aprimorar a prevenção e o controle de queimadas irregulares e incêndios florestais na região do Jalapão e contribuir para a manutenção das funções do Cerrado como um sumidouro de carbono de relevância global. Este objetivo será alcançado com a prevenção e o controle efetivos de queimadas e incêndios, o aprimoramento da gestão de unidades de conservação e o desenvolvimento de instrumentos para o monitoramento de queimadas e desmatamentos no Cerrado.
Comunicação ICMBio
(61) 3341-9280