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ICMBio lamenta morte de dona Raimunda
Publicado em
09/11/2018 17h58
Dona Raimunda, a quebradeira de coco, foi um dos maiores nomes de liderança comunitária e ambiental no país.
“Isso aqui foi sofrimento porque nós éramos marcados para morrer. (...) Estamos vivinhos aqui, ‘tamo’ lutando aqui, ‘pra’ conseguir uma vida melhor”, essas foram as palavras de Raimunda Gomes da Silva, a dona Raimunda Quebradeira de Coco, ao vídeo “Cidadãos Extrativistas – Da luta pelo território ao empoderamento comunitário” (disponível
aqui
). Ela foi um dos grandes nomes da liderança comunitária no país e sua luta trouxe grandes avanços para a representatividades das quebradeiras de coco no Brasil.
Na última quarta-feira (07), o Brasil perdeu dona Raimunda Quebradeira, como era mais conhecida, vítima de complicações da diabetes. Mulher de fibra e incansável na batalha pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, ela nasceu em Novo Jardim (MA), num lar humilde de agricultores. Desde cedo, dona Raimunda teve que lutar pela terra, ameaçada por grandes produtores rurais que visavam o pedaço de chão que os pequenos agricultores tinham para sobreviver.
O universo das quebradeiras de coco é essencialmente feminino. As mulheres se embrenham na mata para coletar e quebrar o coco de babaçu, num contexto extremamente precário. Apesar disso, é um momento de integração dessas mulheres, que encantam sua labuta com os cantos de trabalho, acompanhando a destreza das mãos que, com uma marreta de madeira, batem o coco contra a lâmina de um machado, rapidamente extraindo a amêndoa do babaçu, a partir da qual se produzem o óleo e o azeite, principais produtos elaborados pelas próprias quebradeiras, e que são a base da sua alimentação.
Invisíveis perante o mercado de trabalho, vivem numa situação de extrema pobreza, vendendo seus produtos a preços extremamente baixos, o que começa a mudar lentamente, em função da luta liderada por d. Raimunda. Hoje estão em andamento diversas iniciativas para melhoramento das práticas produtivas não apenas do óleo e do azeite, mas também da farinha do mesocarpo, artesanato, e tantos outros subprodutos advindos do babaçu, constituindo uma das cadeias com maior possibilidade de diversificação dentre as cadeias produtivas da sociobiodiversidade, conforme atestam estudos do Ministério do Meio Ambiente.
Não raro elas são chefes de família e criam os filhos sozinhas, exatamente como dona Raimunda, que sozinha, criou seis crianças. Sendo uma dessas mulheres, ela atuou com firmeza na defesa de suas colegas, contribuindo para a criação do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco (MIQCB), integrando mulheres do Tocantins, Piauí, Maranhão e Pará, a fim de lutar por condições mais dignas para essas trabalhadoras . Ela também contribuiu em diversos projetos para fortalecimento da atividade aliada à luta pela preservação das florestas de babaçu ameaçadas pela atividade agropecuária.
Por esses motivos, dona Raimunda, assim como tantos outros ativistas comunitários viveram sob a sombra das ameaças de morte. Destino esse que foi de Padre Josimo, seu antecessor nas lideranças comunitárias e de quem dona Raimunda herdou parte do legado e de quem sempre falava nos mais diversos eventos para os quais era convidada.
Resex
“Foi dona Raimunda quem fez a solicitação para a criação de uma Resex para a preservação do babaçu no Bico do Papagaio (como é conhecida a região norte do Tocantins, pelo desenho formado pelo encontro dos rios Tocantins e Araguaia) ”, diz Lino Oliveira, servidor do ICMBio lotado na Reserva Extrativista do Extremo Norte do Tocantins. “Contribuiu muito para a estruturação do assentamento agroextrativista de Sete Barracas, onde mantém um lote e onde viveu até os últimos dias de sua vida”, completa.
Ela foi responsável ainda pela criação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (Asmubipe), que atua no apoio e fortalecimento da produção das quebradeiras de coco na região.
Reconhecimento internacional
O esforço árduo de dona Raimunda pelas quebradeiras de coco babaçu fez com que os subprodutos da palmeira, como o azeite e o óleo, fossem reconhecidos Brasil afora. A mulher humilde do interior se tornou Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e obteve reconhecimento como promotora da paz em vários países como França, Estados Unidos, China e Alemanha. Foi dessa admiração que veio a amizade com a ex-primeira dama francesa Danielle Mitterrand.
Comunicação ICMBio
(61) 2028 9280
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