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ICMBio investe em acessibilidade nos parques
Várias unidades de conservação abertas à visitação oferecem trilhas, rampas, veículos e outras estruturas adaptadas para pessoas com algum tipo de deficiência
Lorene Lima
lorene.cunha@icmbio.gov.br
Brasília (05/09/2016) – Com o objetivo de facilitar o acesso de todos aos parques nacionais e outras unidades de conservação (UC) abertas à visitação, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) vem, aos poucos, adequando as UCs para receber turistas com algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida.
A ideia é fazer com que as barreiras contra a inclusão sejam quebradas e que as unidades de conservação – espaços de natureza tão bela e diversificada – estejam em condições de atender a esse público que, infelizmente, mesmo nos tempos de Paralimpíadas no Brasil, ainda encontra tantos obstáculos pelo caminho.
Aproximar a sociedade dos bens naturais que o Brasil possui, da imensidão verde, dos mares, rios e cachoeiras é, além de uma estratégia de conservação, uma questão de cidadania. Com isso, o ICMBio busca possibilitar que todas as pessoas possam frequentar as UCs e admirar as paisagens, caminhar pelas trilhas, ouvir o canto dos pássaros, os sons da natureza, as fisionomias únicas de cada região.
A promoção do ecoturismo busca utilizar, de forma sustentável, o patrimônio natural, incentivando sua conservação e a formação de uma consciência que preza pelo cuidado com a natureza. Procura, com isso, aflorar na sociedade o sentimento de pertencimento, capaz de transformar as pessoas nos principais guardiões das incontestáveis riquezas naturais brasileiras.
Além de tudo isso, a atividade, também conhecida como turismo ecológico, estimula o bem-estar das pessoas, por meio do contato com a calmaria que a natureza proporciona, com o ar puro e o colorido intrínseco e especial, surpreendentemente criados, sem nenhuma intervenção humana.
Pensando na visitação como um dos principais meios para sensibilizar a sociedade em relação à importância da conservação ambiental e visando proporcionar experiências únicas para todos os visitantes, inclusive os com algum tipo de deficiência, o ICMBio trabalha a cada dia para diversificar ainda mais as atividades de ecoturismo e recreação oferecidas nos parques nacionais e em outras unidades. O objetivo é oferecer estrutura adequada ao número e ao perfil de pessoas que procuram as Ucs em busca de contato com a natureza.
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Declarado Patrimônio Mundial Natural em 2001 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, localizado em meio ao cerrado, na cidade de Alto Paraíso de Goiás (GO), foi construída uma trilha suspensa com acessibilidade. Por meio dela, pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida podem chegar até as corredeiras, um dos atrativos do parque, aproveitando, inclusive, para tomar banho no local. A trilha é feita de madeira e possui 230 metros de extensão.
Para Luis Neves, chefe substituto do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, “oferecer oportunidade de visitação para pessoas que ainda se deparam com poucos espaços acessíveis e muitas dificuldades de locomoção pelas cidades e grandes metrópoles é incrível”. Segundo Luis, com a perspectiva de ampliação dessa unidade de conservação e revisão de seu plano de manejo, a ideia é que novos projetos de acessibilidade sejam pensados.
A unidade de conservação é composta por formações vegetais; centenas de nascentes e cursos d'água; rochas com mais de um bilhão de anos, além de paisagens de rara beleza, com feições que se alteram ao longo do ano. A região onde o parque é localizado possui, ainda, um forte turismo místico, não só por causa de suas formosas paisagens, mas também pelo fato de contar com uma abundante formação de cristais de quartzo, mineral popularmente conhecido por possuir propriedades espirituais, purificantes ou mesmo curativas. Reza a lenda que no subsolo da região exista uma enorme placa geológica de milhões de toneladas de cristal de quartzo, o que tornaria esse um lugar único no Planeta, escolhido para receber seres iluminados e emanar vibração positiva.
Não bastasse toda essa atmosfera enigmática, outro fator costuma chamar a atenção de turistas e moradores da região: o paralelo geográfico 14. Ele que está no 14° a sul do plano equatorial terrestre, atravessa a lendária cidade de Machu Pichu, no Peru, e também passa sobre Alto Paraíso, em um local denominado Jardim Zen, onde pedras e flores ajudam a tecer mais um cenário místico e histórias curiosas sobre a região, como a de discos voadores e seres extraterrestres.
Parque Nacional da Tijuca
O Parque Nacional da Tijuca, localizado no Rio de Janeiro (RJ), é conhecido por abrigar um dos mais famosos cartões-postais do Brasil e uma das sete maravilhas do mundo, o Cristo Redentor. A estátua de 38 metros retrata Jesus Cristo e está inserida no Morro do Corcovado, dentro da área protegida. A unidade de conservação protege a primeira floresta replantada do mundo, resultado do primeiro grande projeto de reflorestamento, iniciado em 1861.
O parque possui uma trilha adaptada para pessoas com deficiências físicas, projeto idealizado em parceria com o Instituto Terra Brasil. A expectativa é implantar novos percursos acessíveis e promover atividades voltadas para pessoas com outros tipos de deficiência.
“A trilha adaptada foi importante pela oportunidade de ampliação da oferta de atrativos, atingindo um público que tem poucas opções de contato com a natureza. Percebemos a trilha adaptada como um estímulo à visitação de cadeirantes, deficientes visuais, idosos e seus familiares”, comentou o analista ambiental do Parque Nacional da Tijuca, Denis Rivas.
O percurso foi adaptado e inaugurado em 2011, quando o parque comemorou 150 anos de criação. A trilha Caminho Dom Pedro Augusto, que foi reestruturada para se tornar acessível fica localizada no Setor A do parque, área conhecida como Floresta da Tijuca. A trilha é mais larga do que os trajetos não-acessíveis, tendo seu início nos Jardins dos Manacás, passando por árvores de grande porte, como o Pau-Ferro e Jequitibá, até chegar ao final perto da sede administrativa da UC, no Barracão.
Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
Uma das unidades de conservação mais famosas e encantadoras, composta por diversas praias, entre elas, duas eleitas como as mais bonitas do Brasil: a Praia do Sancho e a Praia do Leão. Piscinas naturais com suas águas verde-esmeralda e sítios históricos, que guardam 500 anos de história do Brasil, tornam o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha parada obrigatória em roteiro de turistas que buscam se enveredar pelas belezas naturais brasileiras.
Reconhecido e tombado pela Unesco, desde 2001, como patrimônio mundial da humanidade, o parque conta com trilhas acessíveis para os principais pontos de visitação. Foram construídos mais de 1500 m de passarelas suspensas e decks acessíveis ou com acessibilidade assistida, visando dar ao visitante acesso ao que o parque tem de melhor. A trilha do golfinho segue as regras de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a trilha que leva à Praia do Sancho, devido à sua grande declividade, pode ser acessada com o auxílio de um acompanhante.
O percurso até a Praia do Sueste conta com uma rampa, no local há também um deck totalmente acessível. Nessa região são disponibilizadas cadeiras especiais para a entrada do visitante na água, para essa atividade existem monitores treinados especialmente para atendê-lo. A utilização desse serviço necessita de agendamento, com um dia de antecedência, junto à Econoronha, nos Postos de Informação e Controle (PICs), como o PIC Sancho e PIC Sueste, locais que, inclusive, dispõe de sanitários adaptados.
Para conhecer a famosa piscina do Atalaia, onde é possível encontrar tubarões, polvos e moréias, o visitante que tiver alguma necessidade especial e precisar ir de carro para o local, poderá realizar agendamento no centro de visitantes e solicitar ao setor de uso público do parque a autorização para o acesso pela estrada de serviço.
Ricardo Araújo, analista ambiental do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, diz considerar importante o investimento em acessibilidade, “primeiramente para a inclusão desta parcela da população, que sem estes investimentos ficariam de fato excluída deste importante patrimônio”. Segundo o analista, outro ponto importante é que o investimento não apoia somente pessoas com deficiências e sim a todos, idosos, crianças, famílias e claro ao visitante em geral. “Além de se bem elaborado, o projeto, reduz impactos ambientais também”, ressaltou.
Reserva Biológica União
Possui a mais rica e diversa vegetação entre todos remanescentes estudados no estado do Rio de Janeiro, segundo pesquisadores. A Reserva Biológica União abriga uma grande e importante população silvestre de mico-leão-dourado, primata endêmico do Rio de Janeiro e ameaçado de extinção, símbolo da conservação da natureza no Brasil. Os rios que nascem e correm dentro da reserva contribuem com três importantes bacias hidrográficas do estado: a do Rio São João, a do Rio das Ostras e a do Rio Macaé.
Com objetivo de promover a inclusão de pessoas com deficiência, a unidade de conservação carioca criou uma trilha interpretativa. O caminho, batizado de Trilha Interpretativa do Pilão, tem quase um quilômetro de extensão, em meio a Mata Atlântica. Os diversos atributos naturais encontrados no percurso dispõem de placas e outros equipamentos de interpretação, que possibilitam que pessoas com qualquer tipo de deficiência aproveitem o passeio e explorem todos os sentidos.
“Por meio do olfato, tato, audição e visão, os visitantes têm a possibilidade de conhecer um pouco desse ecossistema maravilhoso que é a Mata Atlântica. Isso sem contar com a sensação que sentem ao estar no meio de uma floresta, coisa que muitos não imaginavam poder estar”, comenta o chefe da unidade, Whitson José da Costa Junior.
Além da trilha interpretativa, a área de proteção trabalha para que novos projetos de acessibilidade se tornem realidade, segundo Whitson. “Implementaremos, com recursos de compensação ambiental, um projeto que interligará, através de calçadas (passeios) acessíveis, todas as infraestruturas da UC destinadas a receber visitantes com fins educativos: sala de exposições, centro de vivências e trilha interpretativa inclusiva. O projeto objetiva que a pessoa com deficiência circule com independência entre essas áreas”, afirmou.
Parque Nacional do Iguaçu
Também detentor do título de Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO, o Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939, está localizado na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná (PR). Conhecido por por ter uma das mais espetaculares cataratas do mundo, o parque abriga o maior remanescente de Floresta Atlântica da região sul do Brasil. Protege uma rica biodiversidade, constituída por espécies representativas da fauna e flora brasileiras, algumas ameaçadas de extinção, como a onça-pintada.
As Cataratas do Iguaçu estendem-se numa frente semicircular de 2.700 metros, dos quais 800 metros estão do lado brasileiro e 1.900 metros do lado argentino. Para admirar as quedas d'água, o parque oferece um sistema de transporte adaptado, os ônibus saem do centro de visitantes e levam até a trilha e a passarela da Garganta do Diabo
Para aproveitar a visita pelo parque, cadeirantes têm acesso garantido no passeio de barco Macuco Safari, que possui estruturas adaptadas. A excursão leva os visitantes a uma aventura sob as quedas das Cataratas do Iguaçu. Após um trajeto feito por veículo elétrico, que também tem estrutura acessível, os tripulantes se aventuram pelo Rio Iguaçu, o passeio é finalizado com um banho nas quedas d'água.
Segundo o chefe do Parque Nacional do Iguaçu, Ivan Baptiston, ainda há muito o que melhorar em relação à acessibilidade na unidade de conservação. A equipe da UC vem estudando aprimorar os espaços e ofertar melhores condições e acessibilidade não só aos deficientes físicos. “Estamos avaliando a produção de placas e painéis em braile para possibilitar uma maior experiência da visita. Além disso, temos pensado nos deficientes auditivos, como fazer com que eles vivam a sensação da grande sonoridade das cataratas, por exemplo, com certeza seria uma experiência única”, afirmou.
Mais projetos inclusivos nas UCs
Entre as unidades de conservação que vêm planejando oferecer espaços acessíveis a todos, está a Floresta Nacional de Carajás, que analisa a implantação de uma trilha adaptada. Localizada no Pará (PA), a UC recebeu, no mês passado, a Associação de Pessoas com Deficiência Física de Parauapebas (APDFIP) e a Associação de Surdos de Parauapebas (ASURP), que se reuniram em busca de conhecer a floresta e os atrativos da região. Além do passeio ecológico, o objetivo foi buscar por novas ideias de acessibilidade para a área de proteção.
Além das unidades de conservação federais já citadas, existem outras com estruturas acessíveis para pessoas com deficiência, como por exemplo: o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ), que possui uma trilha suspensa com acessibilidade; Parque Nacional das Emas (MS/GO), que conta com uma trilha cujo acesso pode ser feito por pessoas com deficiências físicas; Parque Nacional de Brasília (DF), Floresta Nacional de Ipanema (SP) e Parque Nacional do Pau Brasil (BA), que possuem trilhas acessíveis.
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