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EMERGÊNCIA AMBIENTAL
Sistema de Comando de Incidente é instaurado em Coari por causa da morte botos
- Foto: Sea Shepherd Brasil
Coari - AM - A seca histórica na Amazônia segue trazendo danos ambientais significativos para os golfinhos de rio, ícones simbólicos da biodiversidade. Após histórico registro de 155 mortes de botos-vermelhos (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis) na cidade de Tefé no Amazonas, entre setembro e outubro deste ano, uma grande mortalidade está sendo também observada em outra localidade, em Coari, a cerca de 200 km de Tefé, no Médio Solimões. Até o momento, 104 botos foram encontrados mortos na região.
Ambas as espécies se encontram classificadas com ameaça de extinção na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas do Brasil. Desde o início da operação em Coari, em 22 de outubro, por equipes da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Sea Shepherd Brasil, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Prefeitura de Coari, com apoio de outras instituições, já foram contabilizadas 75 carcaças no Lago de Coari, entre botos e tucuxis, dois terços dos quais correspondem a tucuxis.
A partir do dia 3 de novembro, foi instaurado o Sistema de Comando de Incidente na região de Coari, e com isso, agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) se direcionaram à cidade, no dia 08/11, para instalar o Posto de Comando e compor com as equipes já presentes. A comandante do Incidente, Cláudia Sacramento, chefe da Divisão de Emergências Ambientais do ICMBio, que também liderou a operação de emergência em Tefé, diz que este cenário pode ser somente o primeiro de muitos, e pode se tornar o novo normal. “Esta situação emergencial pode servir de aprendizado para os órgãos públicos locais e federais chegarem a soluções mais eficazes para a conservação a longo prazo destes animais”.
Chefe da Seção de Operações em Coari, a professora Waleska Gravena da UFAM Campus Coari diz que o foco é entender o contexto abrangente da ameaça a estas e outras espécies na Amazônia. Segundo Waleska, "a equipe no local está trabalhando para identificar as similaridades da situação emergencial de Coari com o que ocorreu em Tefé, mas também busca verificar se há diferenças a serem consideradas. Nosso foco é entender o que está acontecendo de fato, para podermos agir para a proteção da rica biodiversidade nesta região."
Sobre a emergência ambiental
O lago Coari e o lago de Tefé possuem características geomorfológicas similares, com grandes lagos (os chamados Lagos de Ria) se afunilando em um canal estreito até desembocar no rio Solimões. Também como em Tefé, o lago Coari encontra-se com nível de água muito baixo, tendo estado muito próximo do recorde histórico observado em 2010. Também foi observada uma proliferação de algas da espécie Euglena sanguinea, a qual pode produzir uma toxina chamada euglenoficina, potencialmente ictiotóxica (tóxica para peixes). Não há informações, no entanto, sobre possível toxicidade da euglenoficina para mamíferos aquáticos. A alta temperatura de até 41graus encontrada no lago Tefé não foi registrada no lago Coari, entretanto este parâmetro só passou a ser medido após o início da mortandade.
As análises da água, realizadas pela UFAM, INPA e IDSM, também indicam que não houve nenhuma alteração significativa em sua composição físico-química, assim como observado em Tefé.
Miriam Marmontel, pesquisadora titular do Instituto Mamirauá e que coordenou a Sessão de Operações em Tefé, também está trabalhando com sua equipe em Coari para estudar a situação.
Ela diz que ainda é muito cedo para chegar a conclusões, porém um alto volume de mortandade em Coari mostra que os motivos da morte destes animais não são isolados em somente um ponto da Amazônia, mas que o evento pode estar acontecendo em outros lugares. A equipe planeja visitar regiões próximas para verificar se há mortandades em outras áreas que não estão sendo monitoradas.
Ameaça para além do clima
Da mesma forma que em Tefé, no Lago Coari algumas carcaças de golfinhos de rio apresentaram sinais de interação com atividade humana, como ferimentos por objeto cortante ou trauma, e redes. Também foram encontradas partes de peixes-bois (Trichechus inunguis) - animais que, assim como os golfinhos de rio, são protegidos no Brasil quanto à caça.
A presidente da Sea Shepherd Brasil, Nathalie Gil, confirma que a situação é alarmante, particularmente para os peixes-boi: “O rio mais seco deixa muitos animais mais acessíveis e expostos à atividade humana, e estimula comportamentos ilegais, como a caça do peixe-boi. Encontramos diariamente indícios de animais que mesmo que estejam sobrevivendo à seca a todo custo, não conseguem se proteger da morte intencional de caça”.
Foi criado um financiamento coletivo das organizações não governamentais parceiras, encabeçada pela Sea Shepherd Brasil, para arrecadar fundos para equipamentos, transporte de profissionais para o local, gastos com barcos e logística necessária para as pesquisas e monitoramento dos animais. As doações emergenciais podem ser feitas em www.botodaamazonia.org.br
A operação em Coari é hoje comandada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e coordenada pelas seguintes instituições: Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) de Coari, Sea Shepherd Brasil e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).
Diversas instituições estão atuando na emergência ambiental em Tefé e Coari: Aiuká Consultoria em Soluções Ambientais, Aqua Viridi, Aquasis, Azul, Corpo de Bombeiros de Tefé, Base Fluvial Arpão SSP-AM, Colégio Militar do Estado do Tocantins Professora Antonina Milhomem, CRMV/AM, European Association for Aquatic Mammals, Exército Brasileiro, Friends of Nuremberg Zoo Association, Fundação Mamíferos Aquáticos, Fundación Mundo Marino, GRAD - Grupo de Resgate de Animais em Desastres, Greenpeace, IBAMA, INPA, Instituto Aqualie, Instituto Baleia Jubarte, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), International Fund for Animal Welfare, IPAAM, Lapcom-USP, LATAM, Loro Parque Fundación, Marinha do Brasil, National Marine Mammal Foundation, Nuremberg Zoo, Oceanogràfic València, Planète Sauvage, Polícia Militar do Amazonas, Prefeitura de Tefé, Prefeitura de Coari, R3 Animal, Rancho Texas, Sea Shepherd Brasil, Sea Shepherd France, SeaWorld & Busch Gardens Conservation Fund, Secretaria do Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente de Coari, SEMMAC-Tefé, Transpetro, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, Universidade Federal do Amazonas, Voepass, WWF-Alemanha, WWF-Alemanha, WWF-Áustria, WWF-Brasil, WWF-UK, YAQU PACHA e Zoomarine Portugal.
Comunicação ICMBio, Universidade Federal do Amazonas, Sea Shepherd Brasil e Instituto Mamirauá
comunicacao@icmbio.gov.br
(61) 2028-9280