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Extrativistas da Terra do Meio iniciam curso sobre gestão territorial
Publicado em
05/05/2011 20h30
Atualizado em
13/09/2012 14h54
Primeira etapa teve aulas de história do Brasil e exercícios com mapas
Brasília (05/05/2011) – As populações tradicionais das reservas extrativistas (Resex) Riozinho do Anfrísio, do Rio Iriri e do Rio Xingu, na Terra do Meio, no Pará, começaram a receber formação em gestão territorial. O projeto é realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra as unidades, e ainda pelo Instituto Socioambiental (ISA) e a Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP).
A primeira etapa da formação ocorreu entre os dias 6 e 20 de abril. O trabalho faz parte de um conjunto de ações articuladas com o objetivo de melhorar a interlocução das famílias extrativistas com a sociedade na luta por seus direitos e ampliar a compreensão das expectativas que a sociedade deposita sobre as reservas extrativistas na Terra do Meio.
As Resex estão localizadas a distâncias consideráveis de Altamira (PA) – de seis horas até quatro dias viajando de voadeira (tipo de barco) e dependendo da época do ano (quando o rio está mais ou menos cheio). Ocupadas por famílias remanescentes do período de extração da borracha (1870 a 1970) que permaneceram na região mesmo após a queda de produção dos seringais, sofrem pressões por extração ilegal de madeira e avanço ilegal de fazendas nos últimos 20 anos
DURAÇÃO – A formação em gestão territorial da Terra do Meio terá a duração de três anos, compreendendo etapas intensivas, de 15 a 20 dias por semestre, chamadas de “tempo escola”. Em seguida, entra o período denominado “tempo comunidade”, momento em que cada estudante deverá realizar diversos trabalhos monitorados e acompanhados por educadores contratados pelo ISA e FVPP. Ao todo, serão seis etapas intensivas e cinco períodos de acompanhamento.
Na primeira etapa, realizada na localidade Morro, na Resex Riozinho do Anfrísio, 36 pessoas, entre homens, mulheres e seus filhos, se reuniram por 15 dias. Os principais conteúdos trabalhados foram alfabetização, leitura e escrita e a história do Brasil e da região. Foram também realizados exercícios de autoconhecimento e noções de mapas. As atividades foram dinâmicas, com trabalhos em grupo, reflexão individual, e utilização de meios como o teatro, filmes, desenhos e música.
Nas aulas de alfabetização, leitura e escrita, algumas pessoas tiveram os primeiros contatos com a língua escrita e outras foram orientadas em exercícios de elaboração e interpretação de textos. Para Ciane, moradora da Resex do Xingu, participar do curso é um grande avanço. "Para a gente que nunca sentou numa sala de aula, estar aqui é uma vitória. Espero que até o final desses três anos, nós possamos administrar nossa reserva com mais sabedoria".
HISTÓRIA – As aulas de história trouxeram vasto conteúdo, desde os mais remotos acontecimentos, como a “descoberta” do Brasil, em 1500, passando pelos principais ciclos de ocupação da região amazônica a partir do século XIX, a migração nordestina e o contexto socioeconômico que caracterizou os grandes deslocamentos destas populações.
Também foram abordados o encontro dos migrantes nordestinos com os povos originários da região, a vida nos seringais, chegando aos conflitos entre o modo de vida das famílias que continuaram habitando a região e a ocupação ilegal de grileiros, madeireiros e fazendeiros, fatos que antecederam a criação das Reservas Extrativistas na região.
Antônia Martins, coordenadora pedagógica da FVPP, afirma que já é possível perceber o avanço dos participantes na leitura e escrita, o que deve ser aprimorado nas próximas etapas de formação. “Foi muito interessante observar o encanto de algumas pessoas ao perceber o encontro das histórias familiares com a história formal” ressalta.
O educador do Instituto Socioambiental, Cristiano Tierno, ressalta o interesse dos participantes do curso. “Ocorreu um ótimo intercâmbio de experiências e maior aproximação entre eles, o que é essencial para a melhoria da organização das famílias em torno de ações articuladas de reivindicação de direitos junto ao poder público. Entendemos também que esta etapa de formação alimenta a vontade que as famílias manifestam por conhecer melhor a leitura e a escrita. Este é um desejo histórico das famílias como também conhecer os caminhos de acesso a direitos”.
TERRA DO MEIO – Localizada no centro do Pará, a Terra do Meio é uma das regiões mais importantes para a conservação da sociobiodiversidade da Amazônia, mas também o palco de um dos maiores conflitos fundiários do Brasil. Seu destino pode contribuir para melhor dimensionar a capacidade do Poder Público e da sociedade como um todo para promover ações de desenvolvimento sustentável e proteção da floresta amazônica.
Além das resex do Médio Xingu (404 mil ha), Rio Iriri (399 mil ha) e Riozinho do Anfrísio (736 mil há), a Terra do Meio abriga a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, Estação Ecológica (Esec) da Terra do Meio (3,3 milhões de ha), Parque Nacional (Parna) da Serra do Pardo (445 mil ha) e as Terras Indígenas Cachoeira Seca, Xypaia, Curuaia, cobrindo assim uma área protegida de 8,48 milhões de hectares.
A Terra do Meio é assim denominada por situar-se entre o Rio Xingu e seu afluente Iriri, e abrange os municípios de Altamira, São Félix do Xingu e outros da região da Rodovia Transamazônica
Atualmente, cerca de 2200 pessoas habitam a região, entre extrativistas e indígenas. São detentores de um conjunto de conhecimentos tradicionais de valor inestimável fundamentais para a manutenção dos ecossistemas locais. A Terra do Meio possui mais de 95% de seu território muito bem conservado. Porém, por situar-se na região do arco do desmatamento, vem sendo fortemente pressionada com o avanço da extração ilegal de madeira e da fronteira agrícola.
Fonte: Cristiano Tierno – ISA (Instituto Socioambiental)
SAIBA MAIS:
População das resex:
Xingu: 298 pessoas e 96 famílias
Riozinho: 279 pessoas e 57 famílias
Iriri: 285 pessoas e 65 famílias
(Fonte: Planos de Manejo das Resexs do Iriri, Anfrísio e Xingu. ICMBio, 2009)
SERVIÇO:
Para obtenção de vídeos, fotos e outras informações do curso entre em contato com:
Cristiano Tierno – cristiano@socioambiental.org
Marcelo Salazar – marcelosalazar@socioambiental.org
Ana Paula Souza – paulinhaxingu@socioambiental.org
Antônia Martins – toinhaxingu@yahoo.com.br
Ascom/ICMBio
(61) 3341-9280
Brasília (05/05/2011) – As populações tradicionais das reservas extrativistas (Resex) Riozinho do Anfrísio, do Rio Iriri e do Rio Xingu, na Terra do Meio, no Pará, começaram a receber formação em gestão territorial. O projeto é realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra as unidades, e ainda pelo Instituto Socioambiental (ISA) e a Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP).
A primeira etapa da formação ocorreu entre os dias 6 e 20 de abril. O trabalho faz parte de um conjunto de ações articuladas com o objetivo de melhorar a interlocução das famílias extrativistas com a sociedade na luta por seus direitos e ampliar a compreensão das expectativas que a sociedade deposita sobre as reservas extrativistas na Terra do Meio.
As Resex estão localizadas a distâncias consideráveis de Altamira (PA) – de seis horas até quatro dias viajando de voadeira (tipo de barco) e dependendo da época do ano (quando o rio está mais ou menos cheio). Ocupadas por famílias remanescentes do período de extração da borracha (1870 a 1970) que permaneceram na região mesmo após a queda de produção dos seringais, sofrem pressões por extração ilegal de madeira e avanço ilegal de fazendas nos últimos 20 anos
DURAÇÃO – A formação em gestão territorial da Terra do Meio terá a duração de três anos, compreendendo etapas intensivas, de 15 a 20 dias por semestre, chamadas de “tempo escola”. Em seguida, entra o período denominado “tempo comunidade”, momento em que cada estudante deverá realizar diversos trabalhos monitorados e acompanhados por educadores contratados pelo ISA e FVPP. Ao todo, serão seis etapas intensivas e cinco períodos de acompanhamento.
Na primeira etapa, realizada na localidade Morro, na Resex Riozinho do Anfrísio, 36 pessoas, entre homens, mulheres e seus filhos, se reuniram por 15 dias. Os principais conteúdos trabalhados foram alfabetização, leitura e escrita e a história do Brasil e da região. Foram também realizados exercícios de autoconhecimento e noções de mapas. As atividades foram dinâmicas, com trabalhos em grupo, reflexão individual, e utilização de meios como o teatro, filmes, desenhos e música.
Nas aulas de alfabetização, leitura e escrita, algumas pessoas tiveram os primeiros contatos com a língua escrita e outras foram orientadas em exercícios de elaboração e interpretação de textos. Para Ciane, moradora da Resex do Xingu, participar do curso é um grande avanço. "Para a gente que nunca sentou numa sala de aula, estar aqui é uma vitória. Espero que até o final desses três anos, nós possamos administrar nossa reserva com mais sabedoria".
HISTÓRIA – As aulas de história trouxeram vasto conteúdo, desde os mais remotos acontecimentos, como a “descoberta” do Brasil, em 1500, passando pelos principais ciclos de ocupação da região amazônica a partir do século XIX, a migração nordestina e o contexto socioeconômico que caracterizou os grandes deslocamentos destas populações.
Também foram abordados o encontro dos migrantes nordestinos com os povos originários da região, a vida nos seringais, chegando aos conflitos entre o modo de vida das famílias que continuaram habitando a região e a ocupação ilegal de grileiros, madeireiros e fazendeiros, fatos que antecederam a criação das Reservas Extrativistas na região.
Antônia Martins, coordenadora pedagógica da FVPP, afirma que já é possível perceber o avanço dos participantes na leitura e escrita, o que deve ser aprimorado nas próximas etapas de formação. “Foi muito interessante observar o encanto de algumas pessoas ao perceber o encontro das histórias familiares com a história formal” ressalta.
O educador do Instituto Socioambiental, Cristiano Tierno, ressalta o interesse dos participantes do curso. “Ocorreu um ótimo intercâmbio de experiências e maior aproximação entre eles, o que é essencial para a melhoria da organização das famílias em torno de ações articuladas de reivindicação de direitos junto ao poder público. Entendemos também que esta etapa de formação alimenta a vontade que as famílias manifestam por conhecer melhor a leitura e a escrita. Este é um desejo histórico das famílias como também conhecer os caminhos de acesso a direitos”.
TERRA DO MEIO – Localizada no centro do Pará, a Terra do Meio é uma das regiões mais importantes para a conservação da sociobiodiversidade da Amazônia, mas também o palco de um dos maiores conflitos fundiários do Brasil. Seu destino pode contribuir para melhor dimensionar a capacidade do Poder Público e da sociedade como um todo para promover ações de desenvolvimento sustentável e proteção da floresta amazônica.
Além das resex do Médio Xingu (404 mil ha), Rio Iriri (399 mil ha) e Riozinho do Anfrísio (736 mil há), a Terra do Meio abriga a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, Estação Ecológica (Esec) da Terra do Meio (3,3 milhões de ha), Parque Nacional (Parna) da Serra do Pardo (445 mil ha) e as Terras Indígenas Cachoeira Seca, Xypaia, Curuaia, cobrindo assim uma área protegida de 8,48 milhões de hectares.
A Terra do Meio é assim denominada por situar-se entre o Rio Xingu e seu afluente Iriri, e abrange os municípios de Altamira, São Félix do Xingu e outros da região da Rodovia Transamazônica
Atualmente, cerca de 2200 pessoas habitam a região, entre extrativistas e indígenas. São detentores de um conjunto de conhecimentos tradicionais de valor inestimável fundamentais para a manutenção dos ecossistemas locais. A Terra do Meio possui mais de 95% de seu território muito bem conservado. Porém, por situar-se na região do arco do desmatamento, vem sendo fortemente pressionada com o avanço da extração ilegal de madeira e da fronteira agrícola.
Fonte: Cristiano Tierno – ISA (Instituto Socioambiental)
SAIBA MAIS:
População das resex:
Xingu: 298 pessoas e 96 famílias
Riozinho: 279 pessoas e 57 famílias
Iriri: 285 pessoas e 65 famílias
(Fonte: Planos de Manejo das Resexs do Iriri, Anfrísio e Xingu. ICMBio, 2009)
SERVIÇO:
Para obtenção de vídeos, fotos e outras informações do curso entre em contato com:
Cristiano Tierno – cristiano@socioambiental.org
Marcelo Salazar – marcelosalazar@socioambiental.org
Ana Paula Souza – paulinhaxingu@socioambiental.org
Antônia Martins – toinhaxingu@yahoo.com.br
Ascom/ICMBio
(61) 3341-9280