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Expedição monitora aves limícolas migratórias
Trabalho de campo no Maranhão teve apoio do Cemave
Brasília (19/02/2013) – Durante duas semanas, entre o final de janeiro e o início deste mês, o Centro Nacional de Pesquisas para Conservação das Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), participou de expedição de monitoramento e diagnóstico de implementação do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação das Aves Limícolas Migratórias. O trabalho foi focado no maçarico-rasteirinho ( Calidris pusilla ). Ao todo, 1.600 aves foram capturadas no Maranhão e receberam anilhas metálicas do Cemave.
Estudos relacionados à espécie e projetos de cooperação internacional são cada vez mais urgentes. Censos aéreos desse maçarico, realizados pela New Jersey Audubon Society e parceiros, detectaram redução populacional de 80%. De dois milhões de indivíduos na população estimada na década de 1980, foram contados agora cerca de 400 mil animais.
Além de marcar com anilhas as aves capturadas durante a expedição que ocorreu na Coroa dos Ovos, os ténicos colocaram nelas bandeirolas azuis com códigos únicos marcados em branco. As bandeirolas podem ser visualizadas e lidas à distância. Esse método de marcação é bastante interessante por não exigir recaptura da ave para sua visualização, feita geralmente por luneta ou binóculo. Outras 37 aves migratórias receberam geolocalizadores, que armazenarão dados sobre sua localização e deslocamentos durante os próximos 18 meses.
Entre os resultados da expedição, foram capturados um maçarico, que já estava marcado com uma bandeirola verde recebida nos Estados Unidos no período reprodutivo, e outros dois, que estavam com anilhas metálicas americanas. Além disso, foram recapturados indivíduos que haviam sido marcados pela equipe de campo em ano anterior. Essas informações são cruciais para a melhor compreensão em relação às áreas prioritárias de uso e à ecologia destas aves limícolas migratórias na sua área de invernada.
A expedição
A expedição faz parte do projeto de pesquisa intitulado “Variação da composição corporal de charadriiformes na costa norte do brasil: uma adaptação para migração”, de Roberta Costa Rodrigues, que participou da elaboração do PAN das aves Limícolas Migratórias e desenvolve extenso trabalho de monitoramento de aves migratórias no litoral nordeste do Brasil junto com diversos colaboradores, como Bruno Jackson Melo de Almeida, doutorando da UFSE, e David Mizrah e sua equipe de pesquisadores vinculados a New Jersey Audubon Society e colaboradores. Entre os participantes da expedição estavam ainda duas representantes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Ana Paula Silva de Sousa e Leila Figueiredo.
A equipe realizou esforço de campo similar no início de 2012, capturando e anilhando 1250 Calidris pusilla. Aproximadamente cem aves dessas foram vistas e identificadas através de suas bandeirolas na América do Norte durante os períodos de migração e reprodução. Uma das aves anilhada no Maranhão em janeiro de 2012 foi fotografada em junho do mesmo ano no Alasca, uma migração de no mínimo 11 mil quilômetros em uma só direção.
O PAN
O
Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves Limícolas Migratórias
foi elaborado em dezembro de 2012 e é composto por quatro objetivos específicos e 32 ações. O objetivo geral é ampliar e assegurar a proteção efetiva dos habitats críticos para as aves limícolas até 2018.
Aves limícolas são aquelas que dependem de ambientes úmidos e buscam alimento nas zonas entre- marés e margens de ecossistemas aquáticos, especialmente lagunas costeiras e estuários, muito embora possam ocupar grande diversidade de habitats. Dentre elas, há um grande número de espécies migratórias, a maioria proveniente do Hemisfério Norte, que são encontradas no Brasil todos os anos, conhecidas como espécies neárticas, e cruzam hemisférios deslocando-se dos pontos de reprodução no Ártico até chegarem ao Brasil.
No Brasil, há vários sítios de invernada, do Amapá ao Rio Grande do Sul, que são já considerados de extrema importância. O status populacional dessas espécies pode ser influenciado tanto pelas condições das áreas reprodutivas e não reprodutivas, bem como pelas áreas e condições submetidas ao longo da migração, já que, durante o período de invernagem, o acúmulo de gordura é determinante para o retorno dessas aves para as áreas de reprodução e, muitas vezes, a perturbação provocada por atividades humanas influenciam em um maior gasto de energia na procura de locais menos impactados. Portanto, a conservação efetiva depende da cooperação de todos os países por onde elas passam.
Diante disso, as ações prioritárias para a conservação dessas aves estão concentradas em identificar, evitar e minimizar os impactos antrópicos (do homem) em seus habitats, principalmente aqueles decorrentes da implementação de infraestrutura, das atividades de exploração de recursos naturais, turismo desordenado e avanço de empreendimentos imobiliários. Para isso, é bastante importante identificar e mapear as áreas de ocorrência (locais de pouso, alimentação, invernada e reprodução) das aves limícolas do PAN e definir habitats críticos para sua conservação.
Assim, esse trabalho de campo tem não só o foco em realizar estudos de biologia e ecologia de aves limícolas do PAN, priorizando estudos populacionais das espécies, como também compreender a importância das áreas e ambientes utilizados pelas aves a fim de prevenir e reduzir eventuais impactos resultantes da implementação de infraestrutura e das atividades de exploração de recursos naturais para fins comerciais e de subsistência.
Comunicação ICMBio
(61) 3341-9280