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Expedição estuda aves do extremo sudoeste do RS
Pesquisadores registram 102 espécies na região do parque do Espinilho. Dados subsidiarão plano de ação que busca preservar pássaros ameaçados nos Campos Sulinos, como o cardeal-amarelo
Brasília (20/07/2017) – Ornitólogos do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) acabam de divulgar os resultados da expedição de campo ao extremo sudoeste do Rio Grande do Sul, na região do Parque Estadual do Espinilho. A campanha teve como principal objetivo investigar a saúde de populações de aves do local, entre elas o cardeal-amarelo (
Gubernatrix cristata
).
Os dados levantados pelos pesquisadores contribuirão para a implementação das estratégias do Plano de Ação Nacional para Conservação dos Passeriformes dos Campos Sulinos,
o PAN Campos Sulinos
, que prevê medidas para a preservação das espécies ameaçadas dos campos e do Espinilho, como o cardeal-amarelo, uma das aves mais ameaçadas do Brasil. O plano foi aprovado em 2011 e encontra-se em seu segundo ciclo de gestão.
As informaçõe servirão, ainda, para subsidiar as decisões e manejo do
programa de cativeiro do cardeal-amarelo
, que surgiu em 2014, a partir do PAN Campos Sulinos. O cardeal-amarelo (
foto abaixo
) é um pássaro de beleza e canto extraordinários, sendo que a pequena população de vida livre realmente conhecida e monitorada no Brasil está restrita ao parque do espinilho e fazendas particulares vizinhas. Saiba mais sobre a espécie
aqui
.
Resultados
Durante a expedição,
102 espécies diferentes de aves foram registradas
nas buscas ativas e deslocamentos durante as atividades de campo e 43 aves silvestres de 21 espécies diferentes foram marcadas com anilhas. Os registros de ocorrência serão inseridos no
banco de dados do Sistema Nacional de Anilhamento (SNA)
, gerido pelo ICMBio/Cemave. Clique
aqui
para saber mais sobre o SNA.
Além disso, dez cardeais-amarelos foram identificados em cinco territórios, havendo a captura de duas dessas aves para colheita de material para exames de saúde, genéticos e marcação para o monitoramento. Reencontros e recapturas de indivíduos marcados individualmente alimentam uma base de dados para estimar a sobrevivência e longevidade dos cardeais-amarelos no Parque Estadual do Espinilho.
Os resultados referentes à saúde das populações de aves silvestres no interior do parque deverão ser aplicados pelos gestores dessa área protegida para a tomada de decisões e para embasar eventual manejo de atributos naturais da unidade e do cardeal-amarelo, visando à conservação das espécies ameaçadas.
A expedição
A expedição teve início no dia 9 e foi encerrada no domingo passado (16). No dia 10, após mais de 1.300 quilômetros de estrada, os pesquisadores chegaram a Barra do Quaraí (RS). Além de percorrer toda a região que abrange os remanescentes de espinilho na busca dos territórios conhecidos dos cardeais-amarelos, a equipe dedicou-se à captura das aves para a coleta de material biológico com o intuito de subsidiar a avaliação da saúde das aves da região e marcá-las com anéis metálicos e coloridos (as anilhas) para estudos futuros.
"Os gestores do Parque Estadual do Espinilho, assim como proprietários rurais, foram muito importantes para o sucesso do trabalho desenvolvido durante a expedição. Os servidores do parque acompanharam as atividades em campo com as aves e apoiram os pesquisadores na articulação com demais proprietários, que, por sua vez, garantiram a logística em campo", disse Patrícia Serafini, analista do Cemave.
Nesse sentido, segundo ela, um outro objetivo da expedição, que era aproximar-se dos proprietários de terras e pecuaristas da região, foi cumprido. "Os produtores rurais são verdadeiros responsáveis pela manutenção dos processos que regulam os ambientes campestres adequados para a permanência de aves ameaçadas na região do Parque Estadual do Espinilho", reforçou Serafini.
Ao longo dos últimos anos de implementação do PAN Campos Sulinos, ainda segundo a analista, tem-se observado que é possível aliar a produção de gado com a conservação dos campos nativos e as espécies que vivem no local. "Essa percepção vem se consolidando entre os produtores de gado no estado e a sua ampla valorização na sociedade é chave crucial para o sucesso em grande escala do PAN Campos Sulinos."
A analista do Cemave fez questão de agradecer, em nome da equipe, as pessoas da região que contribuíram para o êxito da expedição. “Ao longo de nosso trabalho de campo tivemos o apoio fundamental de vários aliados, como Pedro Laporte, de Uruguaiana; dos irmãos Nelson e Elias da família Doviggi da Fazenda São Marcos; e da família Bastos da Fazenda Pai Passo, por meio de Ângelo e Pedro Bastos e seus colaboradores, que nos receberam e abrigaram durante toda a expedição”, afirmou Serafini.
O Espinilho e o PAN Campos Sulinos
Composta por savana de arvoretas espinhentas e retorcidas, típica da extremidade oeste do Rio Grande do Sul, a formação de espinilho ocorre em sub-região do bioma Pampa e possui espécies de aves raras, restritas a essa formação, sendo também o único ambiente de ocorrência de espécies vegetais com extrema dificuldade de regeneração, os algarrobos e inhanduvás (
Prosopis nigra
e
P.affinis
, respectivamente).
Os Campos Sulinos são campos dos biomas brasileiros Pampa e Mata Atlântica. São ecossistemas naturais com alta diversidade de espécies vegetais e animais que se estendem além do sul do Brasil sobre amplas regiões do Uruguai e Argentina.
Nas últimas décadas, cerca de metade da superfície de campos do Rio Grande do Sul foi transformada em outros tipos de cobertura vegetal e muitas aves não conseguem “lidar” com as pressões e impactos gerados, por exemplo, pela expansão da agricultura, da silvicultura e pela continuidade de atividades ilegais como a captura de espécimes para o tráfico de animais.
Considerando este cenário e o estado de conservação das aves, em 2011 foi elaborado o PAN Campos Sulinos, um plano de ação nacional para a conservação das espécies de aves ameaçadas dos campos e do Espinilho, como o cardeal-amarelo. O plano tem o objetivo maior de promover ferramenta de gestão para a conservação de um conjunto de espécies sob os mesmos fatores de pressão.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280