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Estratégias para conservação de botos são debatidas
Publicado em
28/03/2018 14h27
Atualizado em
28/03/2018 15h17
Workshop realizado na cidade de Santos (SP) discutiu a problemática do uso de botos como iscas para a pesca da piracatinga.
A problemática do uso de botos como isca para a pesca da piracatinga na região amazônica foi debatida, entre os dias 19 e 21 de março, na cidade de Santos/SP, no Workshop da Comissão Internacional Baleeira (IWC). A piracatinga é um peixe da espécie Calophysus macropterus, cuja pesca é realizada ilegalmente com iscas de carcaças de botos-vermelhos e botos-tucuxi, além de outros animais silvestres, como por exemplo, jacarés. Esta técnica ilegal pode possibilitar a captura de grande quantidade de piracatinga, um peixe necrófago, que é atraído por carne em putrefação.
Em meados dos anos 90, houve um aumento da pesca da piracatinga, motivado principalmente pelo crescimento do valor desse pescado, que gerou maior interesse econômico pela atividade, explica a analista ambiental e ecóloga do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Luciana Carvalho Crema.
"Visto que no Brasil, a pesca da piracatinga e a mortandade dos botos tiveram um crescimento significativo nos últimos anos, o País decretou em 2014 a moratória da piracatinga, proibindo sua pesca, comercialização e estocagem em todo território nacional por um período de 5 anos, com o início em 2015. Esta iniciativa teve como principal objetivo coibir a matança de botos na Amazônia (Instrução Normativa no 06, 14/07/2014)", salienta.
O Workshop organizado pelo IWC, comissão que conta com mais de 80 países signatários, tem representado em seu Comitê Científico o Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA), do ICMBio, que apoiou o evento durante sua organização e realização. O evento também contou com a participação do Cepam, que vem realizando ações em conjunto com outras instituições, visando diminuir o impacto dessa atividade ilegal sobre as populações de botos e jacarés amazônicos. Estiveram presentes duas presidentes da IWC, Lindsay Porter e Mieke Scheidat, o diplomata Peter Thomas, além de um representante do Ministério das Relações Exteriores, tendo em vista que muitas ações necessárias são de competência conjunta entre diversos países amazônicos.
Representantes de diferentes países da América Latina (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela), onde ocorre a pesca ou o consumo e comercialização do peixe, participaram das discussões. É importante destacar que, diferentemente do Brasil, a Colômbia baniu o comércio da piracatinga (que era importada do Brasil), devido alto nível de mercúrio encontrado na espécie, que poderia causar problemas nas populações humanas que consomem essa espécie em sua alimentação.
Devido à proximidade do fim do período de moratória no Brasil e a problemática com a mortandade de animais para uso como isca ainda persistir, a reunião gerou importantes informações e recomendações para proteger principalmente o boto-vermelho (Inea geoffrensis) e o boto tucuxi (Sotalia fluviatilis). "Essas espécies já sofrem grandes ameaças, como por exemplo, a fragmentação de seu habitat pelaconstrução de hidrelétricas, poluição dos rios, caça, contaminação, entre outros impactos", salienta Luciana.
Além da discussão sobre o uso de botos como isca na pesca da piracatinga, a reunião também levantou questões referentes à caça intencional de botos para diversos usos, inclusive alimentação. Com o fim do workshop na última quinta-feira (21), os participantes elaboraram um documento com todas as informações discutidas no evento e que será apresentado no encontro anual do Comitê Científico da IWC, que ocorrerá em meados de abril na cidade de Bled, na Eslovênia.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280
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