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Espeleotemas do Vale do Peruaçu intensificam o alerta acerca das mudanças climáticas
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu - Foto: Diego Bento
Localizado no norte de Minas Gerais, o Vale do Peruaçu vem ganhando destaque em pesquisas que alertam para a gravidade das mudanças climáticas. Além de ser um polo turístico e arqueológico, a região serve como um laboratório natural para estudos científicos. A seca prolongada, que já dura mais de 40 anos, é uma das mais intensas registradas nos últimos séculos.
Segundo pesquisadores, a região é uma das que mais aquecem em todo o planeta, com alta na temperatura média de 2.5ºC, que está acima da média global, de 1.5ºC. Para chegarem a conclusões como essa, foi realizada uma pesquisa com espeleotemas, formações de cavernas que possuem composição química e crescimento associadas às mudanças do clima ao longo do tempo.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisaram espeleotemas, formações calcárias encontradas em cavernas, cujos padrões de crescimento e composição química refletem as mudanças no clima ao longo do tempo. O estudo revela que as últimas quatro décadas foram as mais secas dos últimos 700 anos. "Com os espeleotemas, você tem a possibilidade de olhar mais para o passado e ver o quão grave é essa situação de seca. O que os espeleotemas estão ajudando a entender que se trata de condições de déficit hídrico sem precedentes na história", afirma Francisco William da Cruz Júnior, professor do Instituto de Geociências da USP.
Cruz Júnior explica que o aumento das temperaturas, notado a partir da década de 1970, tem afetado drasticamente os recursos hídricos da região. Rios e poços estão secando, e as nascentes do rio Peruaçu estão desaparecendo. "A população local já percebe a escassez de água, algo que antes era mais sutil", destaca o pesquisador.
Medidas para mitigar impactos climáticos
A região do Vale do Peruaçu conta com duas unidades de conservação: o Parque Nacional (Parna) e a Área de Proteção Ambiental (APA) Cavernas do Peruaçu. Ambas têm como intuito garantir a preservação da biodiversidade. Enquanto no Parna é permitida visitação de turistas, além da realização de pesquisas científicas e do desenvolvimento de atividades recreativas, educativas e de interpretação ambiental, a APA tem como intuito ordenar o processo de ocupação humana e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Na região, a própria criação das unidades de conservação, responsáveis por resguardar mais de 1400 cavernas, já é uma importante iniciativa de proteção. No entanto, Chico Bill explica que para enfrentar e mitigar os impactos das mudanças climáticas, que já atingem todo o mundo, são necessárias políticas públicas ainda mais contundentes, tanto a nível nacional quanto local. “Entre as iniciativas podemos destacar a redução na emissão de carbono, o reflorestamento e controle de desmatamento”, afirmou o professor.
Reconhecimento internacional
Neste ano, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aprovaram a candidatura do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu à Lista do Patrimônio Mundial Natural. Com o reconhecimento, a instituição busca proteger essas áreas consideradas excepcionais do ponto de vista da diversidade biológica e da paisagem, desenvolvendo ações com diversos parceiros governamentais e não governamentais para implementar uma gestão coordenada.
Segundo a Unesco, a nomeação do parque atende a todos os requisitos técnicos descritos nas Diretrizes Operacionais para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial. Os atributos que fundamentam a nomeação da unidade demonstram um alto grau de conservação, uma vez que toda a propriedade está integralmente inserida em uma área de proteção desde sua criação, em 1999.
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