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Especialista alemão dá palestra no ICMBio
Klaus Hente fala sobre biodiversidade e políticas públicas
Elmano Augusto
elmano.cordeiro@icmbio.gov.br
Brasília (14/06/2013) – O biólogo Klaus Henle, professor doutor e diretor do Departamento de Ciências da Conservação, do Centro de Helmholtz para Pesquisa Ecológica, em Leipizig, na Alemanha, proferiu palestra nesta sexta (14), no auditório do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília. Ele falou a respeito da integração e uso da informação sobre biodiversidade para subsidiar políticas públicas.
Henle discorreu sobre as experiências e boas práticas que vêm sendo adotadas na Europa, em especial na Alemanha, por instituições governamentais e não governamentais que buscam influir, de forma mais eficaz, junto aos agentes políticos na tomada de decisões sobre conservação e uso sustentável da biodiversidade.
O professor lembrou, primeiramente, que a Europa tem longa tradição de monitoramento da biodiversidade. No entanto, até algum tempo atrás, as informações eram pouco compartilhadas pela comunidade científica. "Muitos países realizavam o monitoramento, mas uns não sabiam o que os outros estavam fazendo", afirmou.
Desafio
O primeiro desafio foi, então, integrar os vários grupos de pesquisa, reunir as informações num só local para se ter uma visão de conjunto. Assim, boa parte da produção dos 643 esquemas de monitoramento da biodiversidade dos diversos estados da União Europeia (UE), com informações sobre 466 espécies e 177 habitats, foram compilados num banco de dados na internet. A empreitada custou 630 milhões de euros e envolveu 140 instituições e 500 voluntários.
Com isso, as informações passaram a ser compartilhados de forma mais eficiente. "O uso dos dados dos diferentes esquemas reduziu as lacunas de conhecimento. Sabemos hoje quais espécies ocorrem em quais áreas, o que nos ajuda a planejar ações como, por exemplo, em caso de construção de hidrelétricas, com relação à agricultura e até em relação às mudanças climáticas. Podemos também mensurar a eficiência da conexão entre duas reservas ambientais, se elas estão sendo eficientes ou não. Temos um bom monitoramento de aves e borboletas", disse o pesquisador.
A meta agora, segundo Henle, é fazer com que todas as informações produzidas sobre a biodiversidade na UE estejam disponíveis na internet e possam ser utilizadas pelas instituições de pesquisa e conservação. Para isso, ainda segundo ele, foi aprovada uma lei que obriga todos os países do bloco a publicarem, a cada seis anos, seus dados sobre a biodiversidade, sob pena de receberem multa de 1 milhão de euros, caso não cumpram a decisão.
Prioridades
O professor destacou ainda outro aspecto importante na definição de políticas públicas para a biodiversidade: a priorização das informações. "No passado, a gente se limitava a fazer a listagem das espécies, colocá-las na lista vermelha. Mas só isso não era eficaz. Agora, com a integração dos dados, constatamos que é preciso planejar as ações, definir prioridades", disse Henle, ao afirmar que "é impossível fazer o monitoramento da biodiversidade como um todo".
Ainda sobre isso, ele citou o Método de Responsabilidade Nacional, aplicado na União Europeia, que define as prioridades de cada país nas políticas de conservação. "Fazemos a seleção das unidades taxonômicas, a distinção da conservação delas em níveis global, regional e local e, em seguida, definimos as prioridades – baixa, média e alta –, as áreas físicas necessárias para a conservação, os custos, etc".
Esse método, de acordo com Hente, vem dando bons resultados também no Sudeste Asiático. "É como se constatarmos que São Paulo abriga uma população maior de determinada espécie. Então, São Paulo passa a ter maior responsabilidade na conservação, porque, se a população dessa espécie for reduzida localmente, terá efeito global", ilustrou o professor, trazendo o tema para a realidade brasileira. "No Brasil, é possível fazer essa priorização e divisão de responsabilidades por bioma, até mesmo dentro de um só bioma, por exemplo, dividindo áreas de gestão na Mata Atlântica".
Divulgação das informações
Na parte final de sua palestra, o professor teceu algumas considerações sobre a importância do que chamou de transferência das informações, ou seja, da troca de experiências, da divulgação dos dados das pesquisas sobre biodiversidade tanto entre os pesquisadores como para setores do governo, que têm poder de decisão, e para a sociedade.
"É fundamental ter uma boa relação pública, promover oficinas em que os cientistas possam participar, trocar informações. Os cientistas gostam muito disso, de dizer o que estão fazendo, de dar contribuições", afirmou Henle, ao propor o estabelecimento de uma rede de conhecimento sobre a biodiversidade.
Ele recomendou que no trato com os tomadores de decisão, seja do governo ou do Parlamento, quanto mais alta a fonte, mais simples deva ser a comunicação. "Vai apresentar um projeto num ministério? Então, escreva tudo da forma mais simples, de modo que a pessoa que vai tomar a decisão entenda. Normalmente, ela não é especialista no tema. Então, resuma tudo numa única folha de papel e coloque o principal logo no alto", receitou.
O professor defendeu também a divulgação das informações sobre biodiversidade para o grande público. Nesse caso, ressaltou, os dados técnicos devem ser apresentados de forma "simples e digerível". "Muitas instituições de pesquisa na Europa têm jornalistas para fazer esse trabalho", informou.
Obter o reconhecimento e o apoio da sociedade para a pesquisa científica sobre a biodiversidade, segundo ele, é uma boa tática para influenciar, de forma indireta, os tomadores de decisão. E o melhor caminho para isso, garantiu, é utilizar a imprensa, construir um bom relacionamento com os meios de comunicação, com os jornalistas que fazem a intermediação com o público.
"Às vezes, o telejornal liga, quer gravar naquela hora e a gente não atende, então ele nos esquece", afirmou, lembrando que na Europa as organizações não governamentais sabem aproveitar melhor essas oportunidades do que os governos. O que não é muito diferente do que ocorre no Brasil.
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