Notícias
Novas ocorrências de peixes são reveladas no Parque Nacional de Aparados da Serra
Hábitat isolado e acesso difícil guardam biodiversidade desconhecida
Brasília (22/02/2013) – Pesquisadores do Instituto Chico Mendes lotados no Parque Nacional de Aparados da Serra, unidade gerida pela autarquia no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, realizaram o projeto com parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Os pesquisadores levantaram ao todo 22 espécies, das quais pelo menos cinco são desconhecidas pela ciência. Estudos sistemáticos e moleculares já estão sendo realizados por especialistas, com o objetivo de diferenciar uma das espécies novas.
Três expedições (maio, outubro e novembro), foram realizadas combinando técnicas de pesca elétrica e métodos tradicionais. Foram encontradas espécies raras e algumas muito abundantes nos diversos ambientes. Algumas são amplamente distribuídas, inclusive nos hábitats mais isolados.
O Parque Nacional de Aparados da Serra (PNAS) protege o Cânion Itaimbezinho, formado pelo Rio do Boi que, por sua vez, deságua no Rio Mampituba (RS/SC). As nascentes do Rio do Boi estão totalmente protegidas pelo Parque, no topo do Planalto, e formam hábitats isolados, por grandes quedas d'água, do interior do Itaimbezinho. Por outro lado, o Parque é limitado pelo Rio Camisas (também no Planalto), que está conectado à bacia Taquari-Antas (RS).
Assim, foram identificadas cinco seções de hábitat, das quais três são totalmente isoladas por barreiras naturais e duas são conectadas a bacias maiores. Hábitats isolados, como ilhas e cavernas, geralmente abrigam espécies endêmicas, exclusivas, ou pelo menos raras ou desconhecidas pela ciência.
O acesso ao fundo do Cânion do Itaimbezinho, com seus paredões verticais de até 600m, é extremamente difícil, exigindo uma operação que contou com canionistas experientes e especialistas em técnicas verticais locais.
Devido a essa dificuldade de acesso, a fauna desse ambiente jamais havia sido estudada, sendo que até o momento, não havia informação sobre peixes no Parque. O interior do Itaimbezinho (Rio do Boi) revelou 15 espécies, das quais 10 são exclusivas em relação aos outros hábitats amostrados.
A pesca elétrica, que revelou-se o melhor método para o fundo do cânion, possibilitou uma amostragem mais eficiente e menos seletiva que os métodos tradicionais, permitindo coletar informação sobre todas as espécies que habitam determinado ambiente, dentro de uma área limitada.
O trabalho apresenta contribuições às listas de espécies de bacias hidrográficas. Nenhuma das espécies encontradas está presente nas listas de espécies ameaçadas de extinção. A maioria não tem dados suficientes para avaliação, necessitando estudos mais profundos.
As fortes quedas certamente diferenciam a fauna, mas outras variáveis como altitude e clima e outras barreiras ainda desconhecidas podem também influenciar na distribuição das espécies. Entretanto, um fato curioso foi a ocorrência de uma espécie acima e também abaixo de uma das grandes quedas.
De acordo com o analista ambiental do ICMBio, mestre em Ecologia e especialista em Diversidade e Conservação da Fauna, Lúcio Santos, as novas informações aumentam o valor do Parque Nacional Aparados da Serra. "Assim como aumenta a responsabilidade sobre a conservação dessa biodiversidade", frisa ele.
Ameaças
Entre as ameaças sobre essa biodiversidade ainda desconhecida de Aparados da Serra, estão as estradas que cortam os cursos d'água com bueiros, que podem fragmentar o hábitat e dividir populações. "Não podemos afirmar, até o momento, que algum dos bueiros existentes represente ameaça concreta à conservação da conectividade, porém, um dos bueiros identificados, conforme o manejo, pode dividir a população de uma das espécies exclusivas do Rio Camisas", esclarece o pesquisador Lúcio Santos. "Há forte pressão por asfaltamento e constante manutenção das estradas existentes", frisa.
Outra ameaça é a possível introdução de espécies exóticas, que pode prejudicar a composição original das comunidades nativas. "Também não foram encontradas espécies exóticas, contudo, estamos atentos às pisciculturas existentes no entorno, bem como ao avanço da agricultura e silvicultura na zona de amortecimento", frisou Santos.
Contribuição: Lúcio Santos (Analista Ambiental do ICMBio, mestre em Ecologia e especialista em Diversidade e Conservação da Fauna)
Comunicação ICMBio
(61) 3341-9290