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De mãos dadas com a sociedade
Sétima matéria da série sobre os 10 anos do ICMBio destaca o sucesso do Programa de Voluntariado, que atrai cada vez mais pessoas para ajudar na gestão das UCs
Ramilla Rodrigues
ramilla.rodrigues@icmbio.gov.br
Brasília (29/08/2017) – As 324 unidades de conservação federais administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) despertam interesse e curiosidade por suas paisagens, riquezas da flora e da fauna. Por trás de cada desafio, há o trabalho duro não só dos servidores do ICMBio e órgãos parceiros, mas também de pessoas comuns: estudantes universitários, comunitários e profissionais das mais diversas áreas que doam, voluntariamente, um pouco de seu tempo livre para ajudar na conservação da biodiversidade.
Atualmente, são cerca de 2.000 pessoas cadastradas no Programa de Voluntariado do ICMBio em todos os biomas do país – dos pampas à Amazônia, do Pantanal à Caatinga. Elas atuam em áreas como administração, comunicação, consolidação territorial, gestão socioambiental, manejo para a conservação, pesquisa e monitoramento, produção e uso sustentável, proteção ambiental e uso público e negócios.
Desde 2009, 133 unidades organizacionais aderiram ao programa, sendo a região Norte a líder (29,3%), seguida pelo Sudeste (24,8%), Nordeste e Sul (17,3%) e, por fim, o Centro-Oeste (11,3%).
Com a criação do ICMBio, em 2007, a gestão do Programa de Voluntariado ficou a cargo da Coordenação Geral de Proteção. No ano passado, a competência passou para a Coordenação Geral de Gestão Socioambiental, conforme instrução normativa com as novas orientações publicado em maio.
"O Programa de Voluntariado se apresenta como um importante espaço político em prol das unidades de conservação e da biodiversidade num sentido amplo. A partir do momento que os voluntários se inserem ativamente nos processos de gestão das unidades ou em estratégias com foco na conservação da natureza, nos fortalecem trazendo novas ideias e sendo mais uma voz reivindicando melhorias, defendendo a relevância desses espaços para a qualidade de vida da população", afirma o coordenador Geral de Gestão Socioambiental do ICMBio, Paulo Russo.
Esec da Guanabara e APA de Guapi-Mirim
Mutirões de plantios de muda, limpeza dos manguezais, apoio logístico, administrativo, recuperação de mata ciliar, elaboração e conservação do acervo... São várias as atividades que um voluntário do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) da Estação Ecológica (Esec) Guanabara e da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim podem desempenhar. Até agora, mais de 80 pessoas já atuaram em programas de média e longa duração. Se consideradas ações rápidas, como mutirões, foram mais de 600 participações.
Desde 2009, a Esec e a APA contam com o apoio de voluntários. Parte expressiva deles é formada por estudantes do nível técnico ou universitário que buscam experiências profissionais na área de meio ambiente. “Ultimamente temos tido grande procura por parte de estudantes de graduação de todo o país que veem a divulgação do programa no site do ICMBio e enviam emails a várias UCs à procura de um período condensado de voluntariado”, relata a responsável pelo programa no NGI, Juliana Fukuda.
Uma das atividades de destaque é a participação dos voluntários no projeto “APA de Guapi-Mirim nas Escolas”. Em 2011, os técnicos do ICMBio entraram em contato com as escolas da região a fim de fortalecer vínculos e aproximar o instituto da comunidade. Dessas reuniões, surgiu o projeto. Por meio dele, o ICMBio já visitou 33 escolas da região envolvendo mais de 8 mil estudantes em atividades de conscientização ambiental e formação cidadã. Os voluntários ministram atividades lúdicas que despertam o interesse dos estudantes sobre unidades de conservação e meio ambiente, de forma geral.
Segundo Fukuda, o Programa de Voluntariado vem dando resultados satisfatórios tanto para os servidores como para a comunidade, aumentando a integração e a conscientização sobre a importância e a função das unidades de conservação na área. Ela ressalta o papel essencial dos voluntários na realização de atividades e projetos que não seriam possíveis sem a ajuda deles. “Quanto mais a importância das UCs for reconhecida, melhor para a conservação ambiental. São mais olhos e ouvidos protegendo as áreas naturais, e mais bocas para falar sobre isso”, resume Fukuda.
Parceria para proteção
O tracajá (
Podocnemis unifilis
) é uma espécie de quelônio (animais com casco) natural dos rios amazônicos. Sua carne e ovos são bastante apreciados na região como iguarias culinárias. É classificado como Vulnerável (VU) na lista de espécies ameaçadas. Na área da Reserva Extrativista (Resex) do Alto Tarauacá, entre os municípios de Jordão e Tarauacá, no Acre, e de uma das bases avançadas do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade, o tracajá quase foi extinto localmente.
Esse cenário vem se revertendo graças ao projeto “Manejo Participativo de tracajás na Resex do Alto Tarauacá” que existe desde 2011. Seis anos depois de sua criação, em 2017, o projeto passou a incorporar oficialmente os voluntários da Resex. Atualmente, 40 pessoas da comunidade local são voluntárias.
O esforço de divulgação neste caso é feito de casa em casa junto aos moradores da Resex onde sabidamente há formação de praias ao longo do rio Tarauacá e também a presença da espécie. “Durante a visita, o morador e sua família são convidados a participar de forma voluntária no manejo, após serem esclarecidos sobre a importância do animal na natureza e da necessidade deles (moradores) assumirem essa responsabilidade de recuperação e preservação da espécie para as atuais e futuras gerações”, explica a responsável pelo programa na Resex, Rosenil Oliveira.
Os voluntários são responsáveis por sinalizar as praias próximas às suas residências onde ocorre desova, retirar as covas que estejam sob riscos naturais ou do ser humano, monitorar esses lugares durante o período de incubação, além de prestar auxílio durante o nascimento e soltura dos filhotes na natureza. Com isso, já está sendo observado uma significativa melhora no processo de manejo do tracajá na região.
A população também colhe os frutos dessa parceria. “Observamos que na área onde há o manejo os comunitários estão mais organizados, unidos e proativos no atendimento a quaisquer outras ações de gestão que são demandados, o que não ocorre deliberadamente em outras comunidades da reserva não envolvidas ainda na atividade voluntária”, conta Oliveira.
Os moradores também relatam que sentiram uma crescente sensação de participação e pertencimento à gestão da UC, já que os resultados do manejo também atraem visibilidade para a região de Jordão e Tarauacá e se traduzem em melhoria na qualidade de vida dessas pessoas. “A inserção oficial dessas famílias que já tem histórico de ação voluntária por alguns anos, dentro do Programa de Voluntariado do ICMBio, será mais um meio de valorização do empenho que elas vem apresentando em prol da unidade de conservação e da sociedade local como um todo”, completa Oliveira.
No meio do mar
O Programa de Voluntariado de Abrolhos, o primeiro parque nacional marinho do País, se confunde com a própria história da unidade de conservação localizada no litoral da Bahia. Começou a funcionar, na prática, na época da fundação do parque, ainda na década de 80, quando estudantes estagiários desenvolviam atividades no local.
A adesão ao Programa de Voluntariado do ICMBio foi feito em 2011. Os trabalhos seguem até hoje de forma ininterrupta, com uma média de 30 voluntários por ano. Em 2016, com a reestruturação do programa, 31 pessoas já prestaram apoio à unidade.
O principal eixo temático é o uso público, com voluntários atuando no Centro de Visitantes, em Caravelas (BA). Mas os participantes do programa também contribuem em outras áreas de atuação, como pesquisa e monitoramento, comunicação e educação ambiental.
“Os voluntários contribuem muito na recepção de turistas e visitantes, agregando seus conhecimentos e dinâmicas próprias, tendo muitas vezes excelente aceitação pelo público deixando também heranças para nossa equipe. Os voluntários são grandes vetores de divulgação da unidade de conservação, de suas belezas e do trabalho em prol da conservação da biodiversidade”, destaca o gestor do parque, Fernando Repinaldo. Eles chegaram a produzir um
vídeo sobre a atividade que pode ser acessado aqui
.
O Programa de Voluntariado em Abrolhos atrai muitos estudantes de biologia marinha e oceanografia vindos das mais diversas partes do país. Lá eles têm a oportunidade de participar do monitoramento de espécies marinhas como tartarugas e baleias. Mas, mais recentemente, segundo Repinaldo, o programa tem sensibilizado muitos moradores da região de Caravelas. “Cerca de 30% dos voluntários que estamos recebendo são da região. No Centro de Visitantes, por exemplo, dos 22 apenas um não era morador do entorno”, disse ele.
Os benefícios do voluntariado não são essencialmente pontuais. Repinaldo destaca que alguns voluntários foram posteriormente contratados como prestadores de serviços. “Os vínculos continuaram. Além dos voluntários que foram contratados pelo parque como prestadores de serviço, outros estão inseridos na visitação comercial do parque e outros prestando serviços para instituições nos arredores”, finaliza Repinaldo.
Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280